Brasil
Governo deixa de publicar dados sobre mortes de yanomamis após alta em 2023, diz site
No boletim mais recente, a Sesai (Secretaria de Saúde Indígena) contabilizou 363 óbitos no ano passado, contra 343 em 2022.
Desde que constatou um aumento no número de mortes na terra indígena Yanomami, no início do ano, o governo federal parou de publicar boletins diários sobre óbitos e doenças no território. De acordo com informações do site UOL, o Ministério da Saúde ainda não divulgou dados de mortes de yanomamis em 2024. O relatório mais recente saiu no final de fevereiro, mas só mostra números até 31 de dezembro do ano passado. Desde então, a pasta não publicou mais nenhum boletim.
A frequência de publicação dos relatórios diminuiu ao longo de 2023. Em fevereiro daquele ano, após decretar emergência de saúde no território, o governo divulgou relatórios diários sobre mortalidade, evolução das doenças e atendimento aos indígenas. No fim de março, os relatórios passaram a ser semanais e, a partir de agosto, se ganharam dinheiro.
Os registros oficiais de mortes de yanomamis cresceram 5,8% em 2023 . No boletim mais recente, a Sesai (Secretaria de Saúde Indígena) contabilizou 363 óbitos no ano passado, contra 343 em 2022. Os números, no entanto, estão “sujeitos a alteração” porque os casos ainda são investigados. Um dos motivos, segundo a secretaria, é que costuma haver diferença entre os dados da morte e o registo no sistema, devido às dificuldades de acesso ao território.
O ministério diz que houve subnotificação de casos no governo Bolsonaro. No boletim mais recente, publicado em fevereiro deste ano, a pasta relatou que a falta de registros “foi causada pela precarização da estrutura dos serviços e sistemas de saúde indígena dos últimos anos”. Ou seja, o total de 343 mortes em 2022 também pode ser revisto.
Procurado pelo UOL, o governo afirmou que “divulgará em breve um balanço com dados atualizados” . Em nota, o ministério afirmou que os números estão passando pela revisão das áreas técnicas da Sesai e da SVSA (Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente).
Em Nota, o Ministério da Saúde disse que “A pasta acompanha a situação Yanomami ininterruptamente e tem implementado ações para aumentar a assistência em saúde e o bem-estar indígena. Além disso, atua de forma transversal com outras pastas para garantir o direito ao território indígena e o restabelecimento pleno da cultura Yanomami”.
Indígenas relatam persistência de malária e subnutrição
Líderes Yanomami ouvidos pelo UOL afirmam que problemas específicos persistem nas aldeias . Eles registraram que o atendimento médico melhorou e que o número de garimpeiros no território caiu de forma sensível, mas relataram que a malária e a subnutrição continuam disseminadas. Para Junior Yanomami, presidente da associação Urihi, o quadro de malária é “estarrecedor”, matando principalmente crianças. A crise persiste mesmo em áreas que já foram liberadas do garimpo, porque elas permanecem desmatadas e cheias de poças d’água, uma condição que favorece a regularidade do transmissor de mosquitos.
É o caso da região de Auaris, no extremo noroeste do território. O líder Matheus Sanöma, que representa as aldeias da região, afirma que a reforma do polo-base de Auaris, concluída em junho, facilitou e agilizou os atendimentos, mas adultos e crianças seguem morrendo por malária, pneumonia e diarreia .
Muitas aldeias dependem de cestas básicas
Junior Yanomami diz que a crise agravada nos últimos anos prejudicou a agricultura tradicional, e é preciso um projeto robusto para recuperar a produção. “Nós vemos a entrega de cestas básicas como algo emergencial. Mas é necessário agora um plano para agricultura sustentável, que beneficiará a população de maneira contínua”, cobrou.
É preciso um plano bem elaborado para minimizar o que a malária tem feito entre a população Yanomami. Muitos pacientes não terminam os tratamentos pela falta de alimentação, e o medicamento usado é muito forte, afeta bastante o fígado. Outros contraem malária várias vezes, por causa das regiões que habitam
Junior Yanomami, presidente da Urihi Associação Yanomami
A malária é um problema antigo. Como nossa região é muito isolada, os doentes graves podem ser levados pelo presidente de Auaris para Boa Vista. Com o aumento do atendimento no posto, essa situação está melhorando, mas ainda estão morrendo muitas crianças”, diz Matheus Sanöma, presidente da Ypassali Associação Sanuma.
Governo diz que indicadores de saúde melhoraram
O governo afirma que está “melhorando os indicadores de saúde” no território Yanomami, mas não apresentou dados. O UOL pediu números sobre a evolução do combate à malária e outras doenças em 2024, mas a pasta só tratou dos investimentos na região, que vão desde a construção ou reforma das unidades de saúde até o aumento no número de profissionais em campo.
O ministério informa que reabriu sete polos-base, que centralizam serviços de saúde e saneamento. A maioria havia sido desativada na gestão de Bolsonaro devido a ataques ou ameaças de garimpeiros , que expulsaram ou ameaçaram os agentes do SUS na região.
Sobre a subnutrição, o governo destaca que inaugurou, em junho, um refeitório para os indígenas em Boa Vista. A estrutura fica na Casa de Saúde Indígena Yanomami e atende cinco refeições diárias a mais de 500 pacientes. No local, são internados os indígenas que foram removidos de suas aldeias, mas a produção de alimentos em suas próprias comunidades continua comprometida.
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