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Estudo climático aponta quem são os grandes sequestradores de carbono na Amazônia

Conforme um estudo publicado na revista científica Nature Communications, liderado por pesquisadores brasileiros, os manguezais devem ser incluídos no programa Redd+ das Nações Unidas.

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Manguezal próximo ao Quilombo de Mangueiras, na Ilha do Marajó, no Pará. (Foto: Giovanna Stael/Folhapress.)

Eles podem não ser chamados de “pulmões do mundo”, título controverso também atribuído à floresta amazônica, a maior tropical do planeta. No entanto, em termos de potencial para sequestrar carbono da atmosfera e reduzir os gases de efeito estufa, os manguezais amazônicos têm uma importância enorme na luta contra a crise climática global, segundo informações da Folha de S. Paulo.

Conforme um estudo publicado na revista científica Nature Communications, liderado por pesquisadores brasileiros, os manguezais devem ser incluídos no programa Redd+ das Nações Unidas. Este programa é uma iniciativa da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) que recompensa financeiramente os países pelas suas medidas de redução de emissões provenientes do desmatamento. Tal incentivo é voltado para países em desenvolvimento e pode, inclusive, trazer financiamento para mitigar o avanço do desmatamento.

Comparado às propostas de redução de desmatamento nos biomas Cerrado e Pantanal, a inclusão dos manguezais da Amazônia no programa Redd+ pode ajudar a reduzir três vezes mais as emissões de gases de efeito estufa do que a redução de desmatamento em áreas florestadas do mesmo bioma. Além disso, os manguezais possuem um estoque de carbono cerca de quatro vezes superior ao da floresta amazônica, indicando a importância de manter a preservação desse ecossistema. Nos mangues, a maior parte do carbono está no solo (cerca de dois terços), enquanto na floresta, o sequestro se dá pelas copas das árvores.

Em números, os manguezais podem armazenar até 468 megatoneladas de carbono por hectare (intervalo de 181 a 903 Mg C/ha), enquanto no bioma amazônico esse valor é de apenas 129 Mg C/ha (intervalo de 34 a 604 Mg C/ha). Em relação à perda de floresta, a liberação de carbono decorrente do desmatamento dos mangues amazônicos é estimada em 0,9 (ou 0,2% das emissões), enquanto na floresta amazônica pode chegar a 349 (ou 75,5% de todas as emissões no bioma).

Segundo Angelo Bernardino, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e primeiro autor do estudo, a tentativa de incluir os manguezais no programa das Nações Unidas visa justamente porque eles podem passar a fazer parte do plano nacional de mitigação de gases do efeito estufa. “A inclusão avalia os manguezais como uma forma de mitigação para se evitar a perda de floresta de qualquer tipo. Com esses números, vemos que a preservação dos manguezais pode ser muito superior à da floresta”, afirma.

O estudo envolveu pesquisadores da Universidade Federal do Ceará, da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP Piracicaba, da Bélgica, da Suíça e dos Estados Unidos. Até então, a preservação dos manguezais não era considerada crucial na meta nacional para redução das emissões atmosféricas. “Esse serviço dos manguezais como locais onde podem ser encontrados grandes estoques de carbono era desconhecido”, explica Bernardino.

A pesquisa traçou 190 locais onde há manguezais na costa amazônica, mensurando o total de carbono em quatro tipos hidrológicos distintos: delta de rio, delta aberto para a costa, estuarino e áreas onde houve mudança da vegetação (por desmatamento). Nos manguezais, a maior parte do carbono está no solo e apenas uma pequena parte acima (nas copas florestais), situação inversa à das florestas.

No início de junho, o governo federal anunciou a criação do Programa Nacional de Conservação e o Uso Sustentável dos Manguezais do Brasil (ProManguezal), como uma ação conjunta entre o Ministério do Meio Ambiente, o Plano e Ação Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas e de Importância Socioeconômica do Ecossistema Manguezal (Pan Manguezal) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). A intenção é que mais áreas de manguezais sejam protegidas.

Atualmente, os mangues amazônicos são os mais extensos e bem preservados do mundo. No entanto, faltaram políticas públicas para a preservação exclusiva desse ecossistema. Segundo Bernardino, isso se deve, em parte, à falta de consideração dos manguezais como ecossistemas de elevada biodiversidade. “Faltavam dados, faltava informação. Esperamos que, com esse estudo, possamos mostrar o valor agregado dos manguezais como serviços ecossistêmicos, aliando o seu papel de estoque de carbono, local de pesca, habitação e preservação da biodiversidade, principalmente na região amazônica”, conclui.


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