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Seca afeta de forma distinta diferentes regiões da Amazônia, diz estudo publicado na revista Nature

O estudo mais recente, divulgado nesta quarta-feira (19/06), revela como a Amazônia deve ser afetada pelas mudanças climáticas.

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Além de abrigar a maior biodiversidade do mundo, a região amazônica é o maior estoque terrestre de carbono e tem grande efeito no fluxo de água na América do Sul. Justamente por isso, os esforços científicos em relação a essa floresta são tão importantes. O estudo mais recente, divulgado nesta quarta-feira (19/06), revela como a Amazônia deve ser afetada pelas mudanças climáticas.

No início dos anos 2000, o pesquisador Scott Saleska, da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, reparou que um período de seca na floresta brasileira levou ao aumento de algumas áreas verdes, diferentemente do que se imaginava que ocorreria. Ao estudar melhor as características da Amazônia, foi possível perceber que a floresta é bastante heterogênea e, portanto, regiões diferentes são afetadas de maneira distintas.

seca-afeta-de-forma-distinta-dO artigo, publicado na revista Nature, foi bem recebido por pesquisadores que também investigam a região. “Esse trabalho é importante por dois motivos”, diz Bernardo Flores, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina que também estuda os impactos das mudanças climáticas nessa floresta tropical, em entrevista a VEJA. “Primeiro porque nos permite compreender melhor essa heterogeneidade, o que pode ser um fator chave para que a floresta não sofra um colapso abrupto; segundo porque ajuda a entender como fatores de grande escala, como clima, ou pequena escala, como topografia, influenciam nessas diferenças.”

O que a pesquisa revelou?

Ao investigar dados coletados por satélite ao longo de duas décadas, os pesquisadores descobriram que o principal fator associado à resiliência é o acesso a água subterrânea. Duas características, portanto, explicam a maior resistência à seca: água mais próxima à superfície ou raízes mais profundas.

Três secas foram analisadas utilizando os dados de satélite: de 2005, de 2010 e no período 2015-2016. De acordo com os pesquisadores, essa análise revelou que algumas regiões aumentaram em áreas verdes durante a seca porque a água subterrânea, nesses casos, era mais próxima à superfície. Assim, nos períodos de seca, o nível desses reservatórios diminuía, sem impedir o acesso hídrico, mas facilitando maior absorção de oxigênio pelas raízes e exposição elevada a luz solar.

Essa característica é mais comum na região sul da Amazônia, em uma bacia sedimentar conhecida como escudos brasileiros, onde o solo é fértil e a água mais superficial. No entanto, eles viram que árvores da região norte, conhecida como escudo da guiana, onde o solo é menos fértil e as águas mais profundas, também tinham alguma resiliência e a explicação para isso foram as raízes mais profundas e de crescimento lento.

O grupo internacional de pesquisadores comemorou a descoberta. “É como se tivéssemos colocado em foco uma imagem borrada”, diz Shuli Chen, autora principal do artigo, em nota. “Quando falamos sobre a Amazônia estar em risco, pensamos como se fosse tudo uma única coisa. Esta pesquisa mostra que a Amazônia é um mosaico rico em que algumas partes são mais vulneráveis. Esta é a chave para compreender o sistema e, em última análise, protegê-lo.”

Quais as consequências dessa descoberta?

A partir desse tipo de estudo, será possível pensar em estratégias mais eficazes de proteção da floresta, em especial nos locais sem as características de resistência. “As florestas estão bem adaptadas às condições climáticas que elas vivenciaram nas últimas décadas”, diz Flores. “No entanto, algumas podem não persistir às mudanças climáticas e o estudo indica que provavelmente seriam aquelas em locais mais altos na paisagem e com menor acesso ao lençol freático.”

O fato de que algumas regiões da floresta são mais resilientes à seca do que se acreditava até agora não significa que o combate deixa de ser importante. Isso porque algumas regiões podem entrar em colapso ainda neste século e, sem essa parte da floresta, o equilíbrio do sistema pode ficar comprometido e o carbono armazenado, exposto na atmosfera.

A explicação é razoavelmente simples. Embora o Rio Amazonas seja muito conhecido pelo seu surpreendente fluxo de água, existe um rio atmosférico tão importante quanto, levando uma quantidade equivalente de água no sentido oposto, o que é importante para a agricultura e para o equilíbrio de chuvas. “Basicamente, quebrar esse ciclo ameaça a integridade de todo o sistema”, diz em comunicado António Nobre, coautor do artigo e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.


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