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Extrema direita surge nas eleições para Parlamento Europeu, mas o centro ainda se mantém

A maior parte dos ganhos da extrema direita concentrou-se em países que elegem um grande número de assentos: França, Itália e Alemanha.

Marine Le Pen, líder da extrema-direita na França. (Foto:Reprodução)

A previsão é de que os partidos de extrema direita conquistem um número recorde de assentos no Parlamento Europeu, um resultado que, se confirmado, representaria uma dura repreensão à corrente política dominante em Bruxelas e acrescentaria uma incerteza à direção futura da Europa.

Após três dias de votação nos 27 Estados-membros da União Europeia, um levantamento de boca de urna mostrou que os partidos de extrema direita deveriam conquistar cerca de 150 dos 720 assentos do parlamento, o que provavelmente tornará mais difícil para os partidos tradicionais formar as maiorias necessárias para aprovarem leis.

Em um discurso neste domingo (9), a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que os resultados mostravam que o seu Partido Popular Europeu (PPE) – que prevê garantir o maior número de assentos – ainda poderia funcionar como uma “âncora de estabilidade”. Ela, no entanto, apelou aos seus aliados políticos para a protegerem-se contra partidos extremistas.

“O centro está aguentando. Mas também é verdade que os extremos da esquerda e da direita ganharam apoio, e é por isso que o resultado traz grande responsabilidade para os partidos do centro”, disse ela em uma audiência em Bruxelas.

Os resultados completos serão divulgados na segunda-feira (10), quando o processo de construção de uma coligação terá início, à medida que os centristas da Europa procuram pôr de lado as suas diferenças para derrotar uma extrema direita ressurgente.

A maior parte dos ganhos da extrema direita concentrou-se em países que elegem um grande número de assentos: França, Itália e Alemanha.

Depois da boca de urna mostrar que o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, deverá derrotar os seus próprios candidatos, o presidente francês, Emmanuel Macron, dissolveu o seu parlamento e convocou uma arriscada eleição antecipada, com o primeiro turno marcado para 30 de junho.

Os resultados iniciais mostraram que o RN obteve 31,5% dos votos, mais que o dobro da participação do Partido Renascimento de Macron, que caiu para o segundo lugar com 15,2% dos votos, logo à frente dos socialistas em terceiro, com 14,3%.

Em um discurso comemorativo na sede do RN antes do anúncio chocante de Macron, o líder do partido Jordan Bardella disse que a “derrota sem precedentes para o atual governo marca o fim de um ciclo e o primeiro dia da era pós-Macron”.

Tal como Macron, o chanceler alemão, Olaf Scholz, também sofreu um duro golpe nas sondagens, já que o seu Social-Democrata (SD) obteve o pior resultado da história, 14%, enquanto popular Partido Democrata-Cristão (CDU) ficou em primeiro lugar, com 29,5% dos votos. O Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema direita, ficou em segundo lugar, com 16,5%.

Embora os resultados definam a direção política da UE para os próximos cinco anos, este conjunto de eleições nacionais é muitas vezes visto como uma avaliação de fato sobre os governos nacionais em exercício. Isso poderá significar problemas para Macron nas eleições presidenciais de 2027, na França, e para Scholz, nas eleições federais da Alemanha no próximo ano.

Muita coisa mudou na Europa desde as últimas eleições parlamentares em 2019, depois que o Reino Unido deixou o bloco em 2020 e a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022. Os acontecimentos colocaram grande parte do continente em pé de guerra enquanto tentava o bloco tentava desesperadamente enviar suprimentos necessários para Kiev e os estados-membros reforçavam suas próprias defesas.

“É claro que esta eleição não ocorre no vácuo. O mundo ao nosso redor está em crise. Forças externas e internas estão tentando desestabilizar as nossas sociedades e tentando enfraquecer a Europa”, disse von der Leyen.

Embora o aumento da extrema direita possa complicar ainda mais a aposta de Bruxelas pela unidade do bloco, os próprios partidos do espectro político permanecem relativamente divididos. O AfD, da Alemanha, é politicamente “sem-teto”: foi afastado do partido de extrema direita Identidade e Democracia (ID) depois do seu principal candidato europeu, Maximilian Krah, ter dito que não considerava todos os membros do grupo paramilitar nazista, o SS, como criminosos. Vários outros partidos de extrema direita estão entre o grupo dos não-alinhados (NI), que deverá garantir 45 assentos.

Respondendo à pesquisa de boca de urna, Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, afirmou que os resultados mostram que o establishment político de Bruxelas precisa “compreender como as pessoas votaram” e tomar decisões “que tenham impacto na vida cotidiana dos cidadãos”.

“Podemos ver que o centro construtivo e pró-europeu se manteve”, apontou ela, mas sublinhou que continua sendo “uma responsabilidade dos grupos se unirem para formar uma maioria”.


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