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Estudo mostra que isolamento social leva à recuperação econômica mais rápido

Na gripe espanhola, produção industrial e emprego se recuperaram com mais força em cidades dos EUA que aderiram à medida.

A alternativa de manter somente as pessoas idosas e com doenças crônicas em casa, o chamado isolamento vertical, suspendendo a quarentena para todo mundo, pode ter efeito mais danoso à economia do que a recessão causada pelo distanciamento total, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Estudo recente de pesquisadores do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mostra que a adoção de medidas restritivas é melhor para a recuperação econômica. O estudo, que teve como foco a gripe espalhola de 1918, revela que as cidades americanas que aderiram ao isolamento social se recuperaram mais rapidamente.

Intitulado “Pandemics depress the economy, public health interventions do not: evidence from the 1918 flu”, o estudo menciona as chamadas intervenções não farmacêuticas (NPIs em inglês), como o distanciamento social.

Localidades que adotaram essas medidas dez dias antes da chegada da pandemia tiveram um aumento de 5% no emprego industrial, em 1919, em relação à média analisada. As que mantiveram essas medida por mais 50 dias viram o emprego crescer 6,5% no mesmo período.

“Ao comparar a velocidade e a agressividade das NPIs, concluímos que elas não pioram o queda da economia. Ao contrário, as cidades que intervieram antes e de forma mais agressiva tiveram aumento relativo no emprego do na indústria, na produção industrial e nos ativos bancários”, dizem os autores.

Quem assina o estudo são os especialistas Sergio Correia, do board do Fed; Stephan Luck, do Fed de Nova York; e Emil Verner, do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Economistas brasileiros dizem que a opção de isolamento seletivo, como propõe o presidente Jair Bolsonaro, é impossível de ser praticada no Brasil e que é melhor não arriscar. Quanto mais rápido se controlar a epidemia, melhor para economia, avaliam.

Monica de Bolle, diretora de estudos latino-americanos e mercados emergentes da Johns Hopkins University, alerta que a contaminação vai explodir, o sistema de saúde não vai dar conta, criando um caos social, na hipótese do isolamento parcial: “ O Brasil vai parar, sobrecarregar o sistema de saúde, pessoas não vão ter atendimento. Um infartado que chegue ao SUS não vai conseguir ser atendido. Isso vai gerar um pânico na sociedade quando essa onda chegar. Olha Nova York, Espanha, Itália. Vai ser devastador para economia. Cerca de 20% dos doentes vão precisar ser internados. É muita coisa, a metade desses vai precisar de algum tipo de auxilio médico intensivo, uma UTI, é quadro de absoluto colapso do sistema de saúde se não tentar desacelerar a contaminação”.

A economista afirma que é falsa a escolha entre salvar vidas e a economia. Não existe essa opção, na opinião dela. Não fazer a quarentena vai levar ao colapso de tudo, inclusive da própria economia. “ De repente, os casos explodem, o SUS vai entrar em colapso, as pessoas vão ficar em pânico, haverá caos social, político e institucional. Como uma economia pode resistir a isso.

O economista Marcelo Medeiros, professor visitante da Universidade de Princeton, diz que, quanto mais rápido assegurar o isolamento, controlando a epidemia, menos perdas econômicas vão acontecer. Ele vive atualmente em Nova York, local que reúne o maior número de casos dos Estados Unidos. “ Se deixar a epidemia se espalhar, perde-se o controle e depois vai ter que isolar todo mundo por muito mais tempo. A economia vai ficar muito mais tempo parada.”.

Ele cita o estudo do Fed que mostra que as cidades que controlaram mais rapidamente a gripe espanhola em 1918 se recuperaram da recessão antes. “ Poderemos ver isso na Alemanha, que está investindo tudo para controlar a epidemia. Ela vai se recuperar antes e ter uma vantagem competitiva no cenário global por razões óbvias. Quem está vendo o controle da epidemia como investimento, como a França e a Alemanha, vão se recuperar mais rápido”, disse.


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