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Na COP28, Lula cobra países ricos e diz que ‘o planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos’

Diante de uma plateia de 160 líderes mundiais, Lula afirmou que “2023 já é o ano mais quente dos últimos 125 mil anos”.

Em discurso na sessão de alto nível da conferência do clima COP28 em Dubai, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou dos países ricos o cumprimento da promessa de ajudar financeiramente os mais pobres para combater as mudanças climáticas. E afirmou que “o planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos”, ao dizer que “a conta” ambiental pelo fracasso na redução de emissões já está chegando de maneira visível.

Diante de uma plateia de 160 líderes mundiais, Lula afirmou que “2023 já é o ano mais quente dos últimos 125 mil anos” e que “a humanidade sofre com secas, enchentes e ondas de calor cada vez mais extremas e frequentes”. Ele lembrou as secas na Amazônia e as tempestades e ciclones que “deixam um rastro inédito de destruição e morte”.

— O não cumprimento dos compromissos assumidos corrói a credibilidade do regime. A ciência e a realidade nos mostram que desta vez a conta chegou antes — disse Lula. — O planeta já não espera para cobrar da próxima geração. O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. De metas de redução de emissão de carbono negligenciadas. Do auxílio financeiro aos países pobres que não chega. De discursos eloquentes e vazios. Precisamos de atitudes concretas.

Lula citou cifras de gastos com armamentos e questionou “quantos líderes mundiais estão de fato comprometidos em salvar o planeta”.

— Somente no ano passado, o mundo gastou mais de US$ 2 trilhões e 224 milhões de dólares em armas. Quantia que poderia ser investida no combate à fome e no enfrentamento da mudança climática — disse. — Quantas toneladas de carbono são emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo criançaz e mulheres famintas? — indagou.

Desigualdade

O presidente referiu-se à desigualdade, ao afirmar que “a conta da mudança climática não é a mesma para todos e chegou primeiro para as populações mais pobres”.

— O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial. Trabalhadores do campo, que têm suas lavouras de subsistência devastadas pela seca, e já não podem alimentar suas famílias. Moradores das periferias das grandes cidades, que perdem o pouco que têm quando a enchente arrasta tudo: casas, móveis, animais de estimação e seus próprios filhos — afirmou. — A injustiça que penaliza as gerações mais jovens é apenas uma das faces das desigualdades que nos afligem.

Segundo Lula, “o mundo naturalizou disparidades inaceitáveis de renda, gênero e raça”. E defendeu que “não é possível enfrentar a mudança do clima sem combater as desigualdades”.

— Quem passa fome tem sua existência aprisionada na dor do presente. E torna-se incapaz de pensar no amanhã — disse. — Reduzir vulnerabilidades socioeconômicas significa construir resiliência frente a eventos extremos. Significa também ter condições de redirecionar esforços para a luta contra o aquecimento global.

Credibilidade

Lula lembrou de sua participação na COP15, em Copenhague, quando “a arquitetura da Convenção do Clima estava à beira do colapso” e “foi preciso um grande esforço para recuperar a confiança e chegar ao Acordo de Paris, em 2015”. E afirmou que encontra quadro semelhante no evento deste ano.

— Ao retornar à presidência do Brasil, constato que estamos, hoje, em situação semelhante — disse. —O não cumprimento dos compromissos assumidos corrói a credibilidade do regime. É preciso resgatar a crença no multilateralismo.

Ele disse que “é inexplicável que a ONU, apesar de seus esforços, se mostre incapaz de manter a paz, simplesmente porque alguns dos seus membros lucram com a guerra”.

— É lamentável que acordos como o Protocolo de Kyoto (1997) ou os Acordos de Paris (2015) não sejam implementados. Governantes não podem se eximir de suas responsabilidades — disse. — Nenhum país resolverá seus problemas sozinho. Estamos todos obrigados a atuar juntos além de nossas fronteiras.

Liderança ‘pelo exemplo’

Lula afirmou que “o Brasil está disposto a liderar pelo exemplo”, ao citar que o país ajustou suas metas climáticas, “que são hoje mais ambiciosas do que as de muitos países desenvolvidos”.

— Reduzimos drasticamente o desmatamento na Amazônia e vamos zerá-lo até 2030. Formulamos um plano de transformação ecológica, para promover a industrialização verde, a agricultura de baixo carbono e a bioeconomia — afirmou. — Forjamos uma visão comum com os países amazônicos e criamos pontes com outros países detentores de florestas tropicais.

Descarbonização lenta

Discursando em um país petrolífero, Lula disse ainda que “o mundo já está convencido do potencial das energias renováveis”. E defendeu que “é hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis”.

— Temos de fazê-lo de forma urgente e justa. Vamos trabalhar de forma construtiva, com todos os países, para pavimentar o caminho entre esta COP 28 e a COP30, que sediaremos no coração da Amazônia — afirmou, referindo-se ao evento que será sediado em Belém, em 2025. — Não existem dois planetas Terra. Somos uma única espécie, chamada Humanidade. Todos almejamos tornar o mundo capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes, e não apenas uma minoria privilegiada.

Leia abaixo a íntegra do discurso de Lula na COP28:

“Uma mulher africana, a queniana Wangari Maathai, vencedora do prêmio Nobel da Paz, sintetizou bem o dilema da humanidade em sua relação com a natureza. Disse ela: “A geração que destrói o meio ambiente não é a geração que paga o preço”.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas alertou que temos somente até o final desta década para evitar que a temperatura global ultrapasse um grau e meio acima dos níveis pré-industriais. 2023 já é o ano mais quente dos últimos 125 mil anos.

A humanidade sofre com secas, enchentes e ondas de calor cada vez mais extremas e frequentes. No Norte do Brasil, a Amazônia amarga uma das mais trágicas secas de sua história. No Sul, tempestades e ciclones deixam um rastro inédito de destruição e morte.

A ciência e a realidade nos mostram que desta vez a conta chegou antes. O planeta já não espera para cobrar da próxima geração. O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. De metas de redução de emissão de carbono negligenciadas. Do auxílio financeiro aos países pobres que não chega. De discursos eloquentes e vazios.

Precisamos de atitudes concretas. Quantos líderes mundiais estão de fato comprometidos em salvar o planeta? Somente no ano passado, o mundo gastou mais de US$ 2 trilhões e 224 milhões de dólares em armas. Quantia que poderia ser investida no combate à fome e no enfrentamento da mudança climática.

Quantas toneladas de carbono são emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo crianças e mulheres famintas? A conta da mudança climática não é a mesma para todos. E chegou primeiro para as populações mais pobres.

O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial. Trabalhadores do campo, que têm suas lavouras de subsistência devastadas pela seca, e já não podem alimentar suas famílias. Moradores das periferias das grandes cidades, que perdem o pouco que têm quando a enchente arrasta tudo: casas, móveis, animais de estimação e seus próprios filhos.

A injustiça que penaliza as gerações mais jovens é apenas uma das faces das desigualdades que nos afligem. O mundo naturalizou disparidades inaceitáveis de renda, gênero e raça. Não é possível enfrentar a mudança do clima sem combater as desigualdades. Quem passa fome tem sua existência aprisionada na dor do presente. R torna-se incapaz de pensar no amanhã.

Reduzir vulnerabilidades socioeconômicas significa construir resiliência frente a eventos extremos. Significa também ter condições de redirecionar esforços para a luta contra o aquecimento global. Em 2009, quando participei da COP15, em Copenhague, a arquitetura da Convenção do Clima estava à beira do colapso.

As negociações fracassaram e foi preciso um grande esforço para recuperar a confiança e chegar ao Acordo de Paris, em 2015. Ao retornar à presidência do Brasil, constato que estamos, hoje, em situação semelhante. O não cumprimento dos compromissos assumidos corrói a credibilidade do regime.

É preciso resgatar a crença no multilateralismo. É inexplicável que a ONU, apesar de seus esforços, se mostre incapaz de manter a paz, simplesmente porque alguns dos seus membros lucram com a guerra. É lamentável que acordos como o Protocolo de Kyoto (1997) ou os Acordos de Paris (2015) não sejam implementados.

Governantes não podem se eximir de suas responsabilidades. Nenhum país resolverá seus problemas sozinho. Estamos todos obrigados a atuar juntos além de nossas fronteiras.

O Brasil está disposto a liderar pelo exemplo. Ajustamos nossas metas climáticas, que são hoje mais ambiciosas do que as de muitos países desenvolvidos. Reduzimos drasticamente o desmatamento na Amazônia e vamos zerá-lo até 2030. Formulamos um plano de transformação ecológica, para promover a industrialização verde, a agricultura de baixo carbono e a bioeconomia. Forjamos uma visão comum com os países amazônicos e criamos pontes com outros países detentores de florestas tropicais.

O mundo já está convencido do potencial das energias renováveis. É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis. Temos de fazê-lo de forma urgente e justa. Vamos trabalhar de forma construtiva, com todos os países, para pavimentar o caminho entre esta COP 28 e a COP30, que sediaremos no coração da Amazônia.

Não existem dois planetas Terra. Somos uma única espécie, chamada Humanidade. Todos almejamos tornar o mundo capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes – e não apenas uma minoria privilegiada. Como nos convida o Papa Francisco na Encíclica “Todos Irmãos”, precisamos conviver na fraternidade.

Muito obrigado.”


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