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Fumaça de queimadas na Amazônia e no Pantanal afeta a saúde de quem está em SP e outros estados, mostra pesquisa

A partir de cinco pontos de medição instalados em São Paulo, o projeto vem monitorando a fumaça oriunda de incêndios florestais e também as concentrações de gases do efeito estufa.

A fumaça proveniente das queimadas da Amazônia e do Pantanal afeta diretamente a qualidade do ar na cidade de São Paulo, revela novo estudo publicado na Science of the Total Environment. O trabalho é assinado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). As informações são do jornal Estado de São Paulo.

O estudo faz parte do projeto Metroclima, coordenado pela professora Maria de Fátima Andrade, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, da USP, com financiamento da Fapesp. A partir de cinco pontos de medição instalados na cidade, o projeto vem monitorando a fumaça oriunda de incêndios florestais e também as concentrações de gases do efeito estufa.

Como o Estadão mostrou, o Amazonas sofre com uma seca histórica, agravada pelo El Niño, e registrou número recorde de incêndios em outubro, o que levou Manaus e outras cidades a serem encobertas por nuvens de fumaça. O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem patinado na crise das queimadas na floresta e admitiu que a estrutura de combate ao fogo é insuficiente.

Segundo o estudo da USP, as partículas oriundas das chamas que consomem a floresta não são um problema só para os moradores do Norte do País. As plumas de fumaça oriundas na Amazônia, no Pantanal e também no interior de São Paulo, com a queima de cana-de-açúcar são transportadas para a região metropolitana de São Paulo, onde agravam a qualidade do ar e os níveis de concentração de CO2 e metano.

Nos dias em que a fumaça se acumula sobre a cidade, as concentrações de material particulado fino excederam o padrão aceitável pela Organização Mundial de Saúde (de 25 mcg/m3) em todas as estações do projeto. O volume de CO2 registrado foi de 100% a 1.178% superior ao medido em dias sem fumaça.

“Uma coisa muito interessante que conseguimos detectar é que, nas áreas com mais vegetação, a absorção do CO2 pode ser até 20% maior do que nas regiões em que não há nenhuma vegetação, dependendo do período do ano”, afirmou Maria de Fátima. “Ou seja, qualquer esforço local no sentido de plantar árvores já faz diferença.”

Em outubro, o Amazonas registrou 3.858 focos de incêndio, o pior número desde o início da série histórica, iniciada em 1998. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia.

O grupo liderado por Fátima detectou também os índices de metano – outro gás do efeito estufa muito relacionado à criação de gado. “Ao medirmos o metano descobrimos que há impactos negligenciados nas cidades, como as emissões por aterros sanitários, que são muito maiores do que o esperado”, destaca.

Os cientistas da USP e do Ipen demonstraram ainda como eventos de poluição externa, como incêndios florestais, representam um desafio adicional para as cidades, em relação às ameaças à saúde pública associadas à qualidade do ar, e reforçaram a importância das redes de monitoramento de gases do efeito estufa para rastrear emissões e fontes locais e remotas dos gases em áreas urbanas.

A poluição do ar é a principal causa ambiental de doenças e mortes prematuras no mundo. Partículas finas de poluição do ar ou aerossóis, também conhecidas como partículas finas são responsáveis por 6,4 milhões de mortes todos os anos, causadas por doenças como cardiopatia isquêmica, acidente vascular cerebral, câncer de pulmão, doença pulmonar obstrutiva crônica, pneumonia, tipo 2 diabetes e distúrbios neonatais.

Além da saúde, a poluição do ar está ligada à perda de biodiversidade e ecossistema, e tem impactos adversos no capital humano.

Um aumento previsto na frequência, intensidade e duração das ondas de calor e uma elevação associada de incêndios florestais em consequência das mudanças climáticas neste século devem agravar ainda mais a qualidade do ar. A interação entre poluição e mudança climática imporá uma “penalidade climática” adicional para centenas de milhões de pessoas, de acordo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).


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