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Infectologista diz que Amazonas foi “exemplo de tudo o que não se deve fazer” na pandemia

O médico cita que o relaxamento das medidas de isolamento social associado a uma situação de alta vulnerabilidade social e à interpretação equivocada sobre a imunidade de rebanho levaram a cidade à segunda onda da doença.

Manaus teve hospitais cheios e crise no abastecimento de oxigênio. (Foto: Bruno Kelly/Reuters)

A rápida disseminação do coronavírus em Manaus, inclusive com a descoberta de uma variante do vírus na capital do Amazonas no início deste ano, levou o infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe do setor de infectologia da Unesp de Botucatu (SP) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a afirmar à CNN Brasil que Manaus é, de fato, um exemplo a ser observado pelo resto do país. “Manaus e o Amazonas foram exemplos de tudo o que não se deve fazer”, diz.

Barbosa explica que o relaxamento das medidas de isolamento social associado a uma situação de alta vulnerabilidade social e à interpretação equivocada sobre a imunidade de rebanho levaram a cidade à segunda onda da doença. “Não existe correlato de imunidade para Covid. A SBI se manifestou sobre essa pesquisa. Nesse caso, 50% dos exames poderiam ser falsos positivos”, comenta Barbosa. “A imunidade de rebanho foi por água abaixo e levou Manaus junto”, completa.

Um exemplo dos problemas que a cidade enfrenta está na denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República contra o governador Wilson Lima (PSC). De acordo com a denúncia apresentada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) nesta segunda-feira (26), Lima é suspeito de organização criminosa e da prática dos crimes de dispensa indevida de licitação, fraude à licitação e peculato em meio à pandemia do novo coronavírus.

A PGR calcula que o prejuízo aos cofres públicos ultrapassa R$ 2 bilhões. Além do governador, a PGR denunciou o vice-governador Carlos Almeida (PTB) e mais 16 pessoas, entre servidores públicos e empresários. Todos são suspeitos de terem cometido crimes na compra de respiradores para pacientes contaminados com a Covid-19.

Terceira onda a caminho

Enquanto o Senado se prepara para escrutinar a atuação do governo federal durante a pandemia, Manaus e o Estado do Amazonas se preparam para uma possível terceira onda da doença para a próxima semana, em maio. Novos leitos de UTI devem ser abertos, e a estrutura hospitalar, ampliada.

“O estado do Amazonas tem sido o primeiro a ser agravado. Depois, acontece no restante do país. Assim se deu na primeira onda e nessa segunda. Nós esperamos que essa terceira não seja tão forte quanto a segunda”, afirmou o governador Wilson Lima, após conversar com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em Brasília, na quinta-feira (22).

Segundo Marcus Lacerda, da Fiocruz, os novos problemas que Manaus tem enfrentado durante a vacinação contra a Covid-19 também podem servir de alerta ao resto do país. “Manaus foi a primeira capital a chegar à fase 3 da vacinação e ela está se mostrando mais lenta e mais difícil porque as pessoas precisam comprovar as comorbidades”, afirma. “Além disso, há uma taxa considerável de recusa das pessoas. Temos vacinas em estoque em Manaus, e vacinas em estoque não protegem ninguém”, completa o infectologista.

A Secretaria Municipal de Saúde de Manaus afirma que não há relatos de resistência à vacinação e que o município tem cumprido as metas em todos os grupos atendidos, com mais de 90% de pessoas vacinadas, por segmento.

Sobre as dificuldades na fase 3, a pasta afirma que Manaus “segue como exemplo na condução da campanha de vacinação, destinando de imediato as doses de vacina recebidas e também remanejando doses para avançar nos grupos prioritários, como é o caso dos portadores de comorbidades de 18 a 59 anos, que começou a vacinar muito antes de qualquer outra capital.”

A CNN procurou o Ministério da Saúde no dia 14 de abril com oito perguntas sobre a condução do enfrentamento da pandemia em Manaus – e voltou a pedir respostas em mais quatro ocasiões. A assessoria de imprensa do Ministério da Saúde enviou apenas uma reportagem de seu site, de fevereiro deste ano, sobre a instalação do Comitê de Crise na cidade e como nele foram discutidas “todas as ações executadas no estado para o enfrentamento da crise, dentre elas, as diversas operações realizadas para reorganizar o sistema de abastecimento de oxigênio, com o transporte do insumo até a capital amazonense e a instalação de usinas e miniusinas nos hospitais de Manaus e do interior”.

O texto fala também que no comitê “são definidas as ações de transferência de pacientes do interior para a capital e de Manaus e demais municípios amazonenses para outros estados brasileiros” e “as estratégias para avançar na vacinação contra a Covid-19 no Amazonas, além da logística para a compra de insumos e equipamentos médicos e a contratação de profissionais da saúde”.

Nos próximos meses, a CPI da Covid fará uma devassa do que aconteceu até agora no combate à pandemia no Brasil. O que acontecerá em um futuro próximo depende de variáveis como o avanço no ritmo da vacinação e de como o país irá se preparar. Vale a pena olhar para Manaus.

Com informações da CNN Brasil.

 


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