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Estudo científico de 2017 alertou que secas na Amazônia iam ficar mais severas e mais frequentes

A Floresta Amazônica corre o risco de cair em um círculo vicioso de seca e desmatamento provocado pela ação humana e pela redução das precipitações na região.

Um estudo da Universidade de Connecticut, publicado na Scientific Reports, da editora da revista Nature, em 2017, constatou que o desmatamento e o aquecimento provocado pela emissão de CO2 agravaram a falta de chuvas na região, e alertava para o fato de que a futuras secas na Amazônia podiam se tornar mais severas e mais frequentes.

Notícia publicada no site da Deutsche Welle (DW), empresa pública de radiodifusão da Alemanha, informava que o estudo mostrava que a ação humana contribuiu para intensificar o período de seca na Amazônia em 2016. E que, entre as secas na região analisadas pelos pesquisadores, de 1983, 1998, 2005, 2010 e 2016, a do de 2016 foi a primeira que não pôde ser explicada somente pelo aumento da temperatura da superfície dos oceanos, incluindo mudanças causadas pelo fenômeno do El Niño.

O estudo “sugere fortemente” que o desmatamento e a mudança climática causados pelo homem contribuíram para tornar a seca ainda mais severa. “Temperaturas acima do normal da superfície oceânica na região tropical do Pacífico e no Atlântico foram os principais causadores de secas extremas na América do Sul, mas não explicam a severidade da falta de chuva em 2016 em uma porção substancial da Amazônia e do Nordeste”, diz o estudo.

“Isso sugere fortemente uma contribuição potencial de fatores não oceânicos (como mudanças na cobertura da terra e aquecimento por emissões de dióxido de carbono) para a seca de 2016”, conclui.

As secas de 2005 e 2010, entre as maiores dos últimos 100 anos, segundo o estudo, puderam ser melhor previstas pelo modelo dos pesquisadores, que não considerava a contribuição humana, do que a seca de 2016.

Com o aumento do desmatamento, “futuras secas podem se tornar mais severas e mais frequentes”, afirmou uma das autoras do estudo, Guiling Wang, à DW Brasil.

O desmatamento agrava períodos de seca porque a perda da cobertura vegetal reduz a transferência de água para a atmosfera, a chamada evapotranspiracão (evaporação do solo somada à transpiração das plantas), resultando em menos chuvas.

As secas recorrentes em períodos curtos de tempo afetam a recuperação do ecossistema, o que aumenta o risco de queimadas e mortalidade das árvores. As secas de 2005 e 2010, por exemplo, resultaram em recordes de queimadas e emissões de carbono.

Um fator importante a observar é o chamado “ponto de inflexão” da floresta. “Algumas pesquisas mostram que uma vez que o desmatamento ultrapassa um limite, ele pode sustentar uma forte dinâmica entre vegetação e clima que pode levar a seca e morte da floresta tropical em um período relativamente curto”, afirmou Wang.

Esse fenômeno seria preocupante não só para a biodiversidade da Amazônia, mas poderia ter impactos sobre a falta de água em outras regiões do país. Cientistas já apontaram que o desmatamento na Amazônia prejudica a rota dos chamados rios voadores, grandes nuvens que levam a umidade para outras regiões do Brasil, incluindo as mais populosas como o Sudeste.

Círculo vicioso

A Floresta Amazônica corre o risco de cair em um círculo vicioso de seca e desmatamento provocado pela ação humana e pela redução das precipitações na região, segundo um estudo publicado também em 2017 na revista científica Nature, segundo noticiado também pela DW Brasil.

Baseada numa complexa e inovadora análise dos fluxos de água, a pesquisa, liderada pela cientista Delphine Clara Zemp, do Instituto de Pesquisa Climática de Potsdam (PIK), aprofunda a estreita relação existente entre o desmatamento e a seca.

“Por um lado sabemos que a redução de precipitações aumenta o risco de desmatamento e, por outro, este desflorestamento pode intensificar a seca na região”, afirmou Zemp.

“Por isso, quanto maior a seca, menor a floresta, e quanto menor a floresta, maior a seca. E assim sucessivamente. As consequências deste círculo vicioso entre as plantas e a atmosfera que as rodeia não estão claras”, acrescentou.

A pesquisadora destacou que o estudo “proporciona mais luz sobre esta questão, sublinhando o risco de que o desmatamento está diretamente relacionado à redução de precipitações”. Embora a média de chuvas não varie drasticamente, a extensão das secas afetará a região que poderia se transformar numa savana, segundo as previsões lançadas pela publicação.

De acordo com o coautor do estudo Henrique Barbosa, da Universidade de São Paulo (USP), o ciclo de água na Amazônia é extremamente suscetível às mudanças ambientais.

“A ação humana está impondo perturbações maciças no Amazonas, pela poda de árvores e pelos gases do efeito estufa que reduzem a umidade e as precipitações, e acaba afetando até as partes inexploradas da floresta”, detalhou Barbosa.

Além disso, o estudo sustenta que uma das fortalezas que tem a floresta para resistir a essa ameaça é a diversidade na vegetação.

“Como cada espécie reage de maneira diferente, ter uma grande diversidade na vegetação pode significar que o ecossistema resista melhor”, afirmou Marina Hirota, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), também coautora.

“Preservar a biodiversidade se transforma não só numa questão de amar a natureza, mas num elemento estabilizador do sistema terrestre”, concluiu.


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