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Entidades afirmam que Amazônia é alvo de desinformação e de disputa de narrativas

Organizações da sociedade civil avaliam que narrativa de que progresso só será atingido por meio do desmatamento tem mais espaço nas mídias

Floresta Nacional de Jamaxim (PA), queima no final de 2009, quando novo evento de El Niño começava a atingir o Brasil. (Foto: AFP/Antonio Scorza)

O pesquisador Roger Richer, do Instituto Vero, destacou na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (23) que a região Amazônica tem sido alvo de muita desinformação e de uma disputa de narrativas sobre modelos de desenvolvimento: de um lado, alguns defendem que o progresso só será atingido por meio do desflorestamento e das queimadas; de outro, os que defendem uma política mais sustentável para a região, que escute as populações locais e mantenham a floresta em pé.

O assunto foi debatido no seminário “Mentira que Desmata: os impactos da desinformação sobre a Amazônia e as políticas climáticas e ambientais”, organizado pelo Instituto Vero e pelo Coletivo Intervozes. Dados levantados pelas duas entidades indicam que há pelo menos 70 páginas difusoras de fake news nas redes atuando na área da Amazônia Legal e com potencial para impactar a relação dos moradores com a floresta.

O deputado Airton Faleiro (PT-PA) concordou que há uma disputa de narrativas sobre os projetos para a Amazônia e o desmatamento. De um lado, a versão de que o Brasil precisa produzir alimentos. De outro, o questionamento sobre o tipo de alimentos que estão sendo produzidos pelo agronegócio, que, segundo o deputado, estão envenenados por agrotóxicos e mercúrio.

Faleiro pediu mais engajamento dos defensores do meio ambiente nas mídias sociais. “Vou ser sincero: eles estão muito bem na área da mídia. Enquanto as nossas mídias têm lá seus 13, 15 mil seguidores, eles têm 100 mil, 400 mil e até milhões. Estou falando dos deputados. Então, a disputa de narrativas na opinião pública é um fio estratégico para o embate de projetos”, avaliou.

Matteus Oliveira, da Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável, afirmou que a desinformação mata na região e pediu que a Câmara aprove o PL das Fake News (PL 2630/20).

Tipo de desenvolvimento

Secretária de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas, Juma Kipaia disse que, quando se fala em desenvolvimento na Amazônia, é preciso questionar o tipo de desenvolvimento.

“A Amazônia não precisa ser desenvolvida. O que precisa urgentemente de desenvolvimento, de transformação, é a mente humana. O que significa se transformar? É levar maquinário, grandes indústrias, hidrelétricas como Belo Monte, grandes mineradoras a céu aberto como Belo Sun?, questionou Juma Kipaia. “A gente tem resultado nítido nisso, que é o impacto, a destruição do Rio Doce.”

Segundo ela, os povos da floresta têm grandes saberes milenares, mas o conhecimento de fora da floresta é tido como superior. “É um desenvolvimento que desmata e mata, assim como as mentiras”, alertou.

Na visão da secretária, as fake news fazem parte dos livros de história do Brasil desde seu início, já que não trazem a representatividade e a visão dos povos originários.

Qualidade de vida

A diretora-executiva do Instituto Mapinguari, Hannah Balieiro, reforçou a reclamação de que a mídia dá mais espaço para a narrativa de que a conservação da floresta representa atraso econômico. Segundo ela, a qualidade de vida das pessoas não é considerada indicador de sucesso.<

Hannah Balieiro ressaltou que os grandes empreendimentos não necessariamente trazem desenvolvimento para as pessoas da região. E lembrou que, apesar de existirem quatro hidrelétricas no Amapá, a população sofreu com apagão de energia elétrica há dois anos, além de pagar tarifas extremamente caras.

A diretora também comentou a atual polêmica sobre a exploração de petróleo na região Amazônica. “Até quando são os povos da Amazônia que vão ter que pagar esse custo da transição energética?”, questionou, ressaltando que esse custo é social e de vidas.

Falta de informação

O indígena Tapajós Henrique Ferreira, do coletivo Tapajônicos, destacou que a região Amazônica é afetada não apenas pela desinformação, mas também pela falta de informação, causada pela ausência de sinal de celular, de internet e até de energia elétrica.

Ele salientou que os projetos de desenvolvimento para a região devem ser uma construção colaborativa com as populações que vivem na Amazônia. “Temos que parar de globalizar a Amazônia, temos que amazonizar o mundo”, disse.

Soluções para o desmatamento

Assessora da chamada “bancada do cocar” na Câmara, Ingrid Sateré Mawé citou, entre as fake news disseminadas sobre meio ambiente, a de que o desmatamento estaria distante da realidade brasileira, e a de que o Brasil seria o país que mais conserva o meio ambiente.
Segundo ela, é importante não apenas desmentir, mas também divulgar que o desmatamento tem solução, afirmando que houve redução do problema nos governos petistas anteriores.

“O Brasil diminuiu o desmatamento na Amazônia de 27,8 mil km² para 4,6 mil km² entre 2004 e 2012. São dados do Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] de 2019″, informou. “Trata-se da maior contribuição dada por um país para a redução de emissões globais de gases de efeito estufa”, disse Ingrid, lembrando que o desmatamento e as queimadas são responsáveis pela maior parte das emissões desses gases no Brasil.

A assessora afirma que a redução desses números foi consequência de operações mais frequentes contra o desmatamento e madeireiras ilegais, além de ações para desmantelar esquemas fraudulentos de licenças ambientais e a criação do fundo Amazônia.

Outros biomas

Ingrid Sateré Mawé disse ainda que é preciso conservar biomas do Brasil inteiro. “Se a gente não proteger a Caatinga, o Cerrado, a Mata Atlântica, o Pampa e o Pantanal, infelizmente o nosso pulmão não vai se sustentar sozinho. Nosso corpo precisa estar saudável por completo para ter sobrevivência, e assim é nossa visão sobre a região amazônica”, comparou.

Ela pediu ainda mais atenção do governo à crise climática. “Até quando o nosso governo brasileiro vai esperar para declarar emergência climática no País?”, questionou.

Já Eliésio Marubo, da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), defendeu a regulamentação pelo Congresso Nacional dos serviços ambientais, como opção para proteger o meio ambiente e gerar renda.

As informações são da Agência Câmara de Notícias

 

 


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