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Cientista da Fiocruz alerta para os perigos e as consequências da variante Ômicron no Amazonas
Jesem Orellana analisou nesta segunda-feira (29/11) o perigo da variante Ômicron do SarsCov 2
A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu, nesta segunda-feira (29/11), que a variante Ômicron do novo coronavírus representa um risco muito elevado para o planeta. O epidemiologista da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana, que destacou na semana passada a silenciosa terceira onda da Covid-19 no Amazonas, alerta sobre o perigo da variante no Estado e elenca pontos fracos, como grande número de pessoas não vacinadas ou com esquema de vacinação incompleto e o que que ele classifica como ineficácia da vigilância sanitária.
O que se sabe da nova variante Omicron?
Jesem Orellana – Que foi rapidamente classificada como variante de preocupação pela Organização Mundial de Saúde (OMS), por ter um conjunto grande e inédito de mutações.
É mais letal ou mais transmissível?
Jesem Orellana – Ainda não se sabe se pode ser mais letal que as outras. Mas, certamente é mais transmissível e pode estar associada com a redução da resposta do sistema de defesa ou imune das pessoas, incluindo indivíduos previamente vacinados, especialmente os que tem esquema vacinal incompleto.
Quais os perigos da nova variante para o Amazonas?
Jesem Orellana – É difícil asseverar como ela se comportará de um ponto de vista epidemiológico, especialmente quando sequer se tem a confirmação da circulação da mesma no país. A disseminação de toda variante, independentemente do tipo, sempre depende das precauções adotadas e da estrutura do sistema de saúde, especialmente da parte de vigilância epidemiológica e laboratorial. Portanto, podemos dizer que o cenário que se avizinha é ao menos preocupante para o Amazonas, dadas as nossas falhas com precauções e a ineficácia de nossas vigilâncias.”
Há suspeita de que a nova variante já esteja circulando pelo Amazonas?
Jesem Orellana – Suspeita sempre há, o fato é que ainda não há confirmação, assim como com a Gama (P.1) que só foi “detectada” meses depois do seu surgimento, basicamente porque o Japão tinha uma vigilância aeroportuária funcionando de forma eficaz, algo que jamais tivemos.
A baixa vacinação e o negacionismo da pandemia podem ser considerados as facilidades de atuação da nova variante?
Jesem Orellana – Temos centenas de milhares de amazonenses sem vacina, com esquema incompleto ou com esquema completo achando que vacina sozinha faz milagre. Além disso, temos a conhecida negligência das autoridades sanitárias e da população frente a epidemia com a falsa sensação que a pandemia acabou. Sem dúvida, esses elementos podem ser decisivos para novo ciclo de contágios e mortes por Covid-19 no Amazonas.
Estamos no período de festas e confraternizações: com a chegada da nova variante, Manaus pode repetir as cenas de 2021 ou ainda é muito cedo para estimar um cenário?
Não é cedo para tomar precauções. Este é um período não apenas festivo e de agitação do comércio, como também influenciado pelo “inverno amazônico”, o qual facilita a disseminação de agentes infecciosos transmitidos pelo contato próximo. Por isso, caso sigamos relaxando medidas que visam conter a circulação viral, reduzindo cada vez mais o número de exames RT-PCR e sem busca ativa de casos na comunidade/rastreamento de contatos, podemos trilhar o rumo do desconhecido na pandemia, de novo.
A pandemia no Amazonas está de fato controlada? O secretário de Saúde do Amazonas, Anoar Samad, em post nas redes sociais, disse que “estamos enfrentando uma nova variante em condições bem distintas, pois temos boas vacinas, testes disponíveis, anticorpos monoclonais já aprovados e uma boa curva de aprendizagem”.
Sim e não. Temos boas vacinas, testes disponíveis e possíveis tratamentos de suporte. No entanto, as coberturas vacinais estão longe do ideal, especialmente no interior. Os testes não estão sendo massificados e seguimos com a testagem de RT-PCR para diagnóstico certeiro de Covid-19 centralizado em Manaus. E os tratamentos disponíveis atualmente são apenas de suporte e não são eficazes ao ponto de curarem a doença em qualquer estágio da enfermidade. Em novembro de 2020, alguns acharam que a epidemia estava controlada e que não precisávamos de testagem em massa. Mas, esse erro nos levou a mais dramática e desumana experiência pandêmica.
A aprendizagem de fato são as mortes evitáveis? O relaxamento de medidas? A falta de infraestrutura de enfrentamento da Covid-19?
O aprendizado parece mínimo, pois seguem internando/morrendo pessoas por Covid-19 no Amazonas e os relaxamentos sendo acelerados de forma irresponsável por estado e municípios. Além disso, seguimos com precária infraestrutura médico-hospitalar e de vigilância laboratorial, especialmente no interior.
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