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Referências em medicina, publicações e prêmio Nobel fazem alerta sobre uso da cloroquina

A Organização Mundial de Saúde (OMS) voltou a reiterar que “não há informação suficiente para mostrar a eficácia dessas drogas no tratamento de pacientes com Covid-19.

Duas das mais importantes publicações de pesquisa em medicina do mundo alertaram sobre o uso de cloroquina e hidroxicloroquina contra a Covid 19. A respeitada British Medical Journal (BMJ) adverte em editorial deste fim de semana para o risco de usar os medicamentos indiscriminadamente no tratamento da Covid-19. “O uso dessas drogas é prematuro e potencialmente prejudicial”, afirma o editorial.

Já a revista Lancet afirma nesta sexta-feira que autoridades de países como EUA e França têm autorizado o uso dessas drogas sem garantia de segurança. Destaca ainda que a Organização Mundial de Saúde (OMS) voltou a reiterar que “não há informação suficiente para mostrar a eficácia dessas drogas no tratamento de pacientes com Covid-19, ou em prevenir que alguém contraia o coronavírus”.

A Agência Europeia de Medicamentos, o órgão regulador de drogas da União Europeia, diz que não vai autorizar qualquer uso desses remédios contra o coronavírus sem que existam provas.

Citando a BMJ, a Universidade de Campinas (Unicamp) divulgou nota oficial em que também chama a atenção dos médicos para não se orientar por evidências frágeis e crenças, mas pelos fatos.

“Assim, no que diz respeito a declarações sobre o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina (HCQ) para o tratamento da Covid-19, isoladamente ou em associação com azitromicina, a Unicamp, ouvindo especialistas na área, de dentro e de fora da instituição, e amplamente amparada por estudos científicos sobre o tema, corrobora as recomendações dos órgãos sanitários e da comunidade médico-científica mundial de que não há, até o momento, evidência científica suficiente baseada em ensaios clínicos com humanos sobre a eficácia desses medicamentos para o tratamento da doença causada pelo novo coronavírus”, diz a nota da Unicamp.

‘Não é paracetamol’

A nota da Unicamp observa que as manifestações de apoio ao uso dessas drogas se baseiam em evidências frágeis. E que as universidades, “como centro do conhecimento, devem sempre recomendar indicações e propostas que valorizem a razão científica em lugar de soluções intuitivas e crenças, que apesar de geralmente bem intencionadas podem estar eventualmente equivocadas”.

Segundo a BMJ, são necessários estudos controlados sobre as drogas, posto que os realizados até agora falharam em comprovar suas afirmações. “Até o momento, exceto por medidas de suporte, a infecção pelo Sars-CoV-2 é essencialmente intratável”, diz a BMJ.

Como informa a Lancet, se há incerteza sobre a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina, existe certeza de que causam efeitos colaterais. A advertência vem de um diretor da Clínica Mayo e da Prêmio Nobel de Medicina, a francesa Françoise Barré-Sinoussi.

“O que eu sei como cardiologista é que esses medicamentos têm efeitos colaterais importantes, incluindo a rara morte súbita”, disse à Lancet Michael Ackerman, diretor da Clínica Windland Smith Rice, uma das divisões da Mayo nos EUA. Ele disse que essa condição é rara, mas que o uso de cloroquina e hidroxicloroquina por milhões de pessoas pode colocar milhares de vidas em risco por medicamentos que, em tese, deveriam beneficiá-las.

“Cloroquina não é paracetamol. Ela pode ter efeitos deletérios nos pacientes e aumentar o risco para o coração”, alerta a imunologista Françoise Barré-Sinoussi, codescobridora do vírus HIV e ganhadora do Prêmio Nobel de Medicina de 2008 “A eficácia da cloroquina não foi provada”, disse Françoise, que é presidente do comitê de pesquisa da Covid-19 da França, aos jornais locais. Ela pede aos médicos que sejam responsáveis.

A preocupação dos especialistas estrangeiros é a mesma de médicos brasileiros que enfrentam a Covid-19. A pneumologista Margareth Dalcolmo, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), está alarmada com o desespero de pacientes e famílias que ouvem falar sobre cloroquina e hidroxicloroquina e pedem para que sejam usadas:

“Não há prova de que funcionam. As pessoas que melhoram são as que melhorariam de qualquer forma. E o que me preocupa muitíssimo é esse uso indiscriminado de remédios com efeitos colaterais em pessoas com fatores de risco para elas, como os hipertensos”, afirma a doutora Margareth, que trata pacientes com Covid-19 e não administra essas drogas por considerá-las inseguras e sem garantia de eficácia.


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