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Países anunciam corte-surpresa de 1 milhão de barris de petróleo por dia

Barril avança 8% na Ásia e supera US$ 80 após a decisão, liderada pelos sauditas. Preço dispara nos países.

A Arábia Saudita e outros membros do grupo Opep+ anunciaram de surpresa neste domingo (2) cortes na produção de petróleo, num total de mais de 1 milhão de barris por dia.

Em consequência da decisão, os preços da matéria-prima dispararam nos mercados da Ásia, na manhã desta segunda-feira (3). O Brent era negociado a US$ 86, e o WTI, a US$ 81, valorizações superiores a 8%.

Riad implementará um “corte voluntário” de 500 mil barris diários, ou pouco menos de 5% de sua produção, em “coordenação com alguns outros países da Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] e não Opep”, disse o país neste domingo.

A Rússia, membro da Opep+, afirmou que estenderá seu atual corte de produção de 500 mil barris/dia até o fim do ano. A redução de Moscou foi anunciada pela primeira vez em março, em retaliação contra as medidas dos países ocidentais de impor um teto de preço às exportações marítimas de petróleo russo, em razão da Guerra da Ucrânia.

A iniciativa liderada pela Arábia Saudita é incomum, pois foi anunciada fora de uma reunião formal da Opep+.

Os cortes seguem uma forte queda nos preços do petróleo no mês passado, após o colapso do SVB (Silicon Valley Bank), nos EUA, e a aquisição forçada do Credit Suisse pelo UBS, que provocou temores de contágio nos mercados financeiros globais e uma queda significativa na demanda por petróleo.

“A Opep+ fez um corte preventivo para se antecipar a qualquer possível fraqueza da demanda causada pela crise bancária que surgiu”, disse Amrita Sen, diretora de pesquisa da Energy Aspects.

Os cortes de surpresa correm o risco de reacender as disputas entre Riad e Washington, que, no ano passado, pressionou o reino a bombear mais petróleo para tentar domar a inflação desenfreada em meio ao aumento dos custos de energia.

Em outubro, a Casa Branca acusou a Arábia Saudita de efetivamente se aliar à Rússia, apesar da invasão da Ucrânia por Moscou e sua tentativa de criar uma crise energética cortando o fornecimento de gás para a Europa, quando a Opep+ anunciou pela última vez um corte formal de produção de 2 milhões de barris/dia.

Pessoas familiarizadas com o pensamento da Arábia Saudita dizem que Riad ficou irritada na semana passada porque o governo Biden descartou publicamente novas compras de petróleo para reabastecer o estoque estratégico que foi esgotado no ano passado, quando a Casa Branca se esforçava para conter a inflação.

A declaração da secretária de Energia, Jennifer Granholm, de que poderá levar “anos” para reabastecer a reserva fez os preços do petróleo caírem brevemente. A Casa Branca já havia oferecido garantias à Arábia Saudita de que interviria para fazer compras para sua reserva estratégica se os preços recuassem.

“Não achamos que cortes sejam aconselháveis neste momento, devido à incerteza do mercado —e deixamos isso claro”, disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional neste domingo.

“[Mas] continuaremos a trabalhar com todos os produtores para garantir que os mercados de energia apoiem o crescimento econômico e reduzam os preços para os consumidores americanos.”

Helima Croft, chefe de estratégia de commodities da RBC Capital Markets, disse que a Arábia Saudita está adotando uma estratégia econômica independente dos EUA, após uma deterioração nas relações entre Riad e Washington durante o governo Biden.

“É uma política saudita em primeiro lugar. Eles estão fazendo novos amigos, como vimos com a China”, disse Croft, referindo-se a um recente acordo diplomático mediado por Pequim entre a Arábia Saudita e o Irã. O reino estava enviando uma mensagem aos EUA de que “o mundo não é mais unipolar”.

Os cortes voluntários dos membros da Opep+ começarão em maio e durarão até o fim de 2023, disse o comunicado saudita.

O Iraque reduzirá a produção de petróleo em 211 mil barris diários, os Emirados Árabes Unidos, em 144 mil, o Kuait, em 128 mil, o Cazaquistão, em 78 mil, a Argélia, em 48 mil, e Omã, em 40 mil, conforme declarações dos respectivos governos.

O Brent, a referência do petróleo bruto, caiu para perto de US$ 70 o barril no fim do mês passado, mas se estabilizou na semana passada e se recuperou para pouco menos de US$ 80. O Brent foi negociado em uma faixa relativamente estreita entre US$ 75 e US$ 90 o barril durante grande parte dos últimos seis meses.

Apesar da queda de preços em março, muitos traders previam cotações mais altas no fim deste ano, quando a oferta deve ficar aquém da demanda, à medida que a economia da China abolir totalmente as restrições relacionadas à Covid.

O ministro da Energia saudita, príncipe Abdulaziz bin Salman, meio-irmão do primeiro-ministro e príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, argumentou que o mundo está investindo pouco nos suprimentos de petróleo. O reino depende das receitas do petróleo para financiar o ambicioso programa de reforma econômica do príncipe Mohammed.


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