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Navio encalhado no Canal de Suez já afeta preço do petróleo e bolsa de valores em Nova York
A cotação do petróleo recuou, nesta quinta-feira, com o bloqueio do Canal de Suez, após dois dias tensos em que os preços variaram cerca de 6% para cima e para baixo. Os contratos futuros em Nova York caíram 1,6%.
Uma equipe de elite está encarregada do desafio monumental de liberar o enorme cargueiro de contêineres de centenas de milhares de toneladas que está bloqueando o Canal de Suez, que liga Europa e Ásia, enquanto vários navios continuaram a “engarrafar” no canal pelo terceiro dia, em uma das vias navegáveis mais importantes do mundo. Os esforços para relançar o cargueiro Ever Given e abrir caminho para os navios que transportam quase US$ 10 bilhões em petróleo e bens de consumo foram retomados no Egito nesta quinta-feira.
Até agora, 185 navios aguardavam para cruzar o canal, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Rebocadores e escavadeiras tentaram, mas, até o momento, não conseguiram mover o navio, e alguns especialistas dizem que a crise pode se arrastar até segunda-feira. A Autoridade do Canal de Suez suspendeu temporariamente o tráfego ao longo da hidrovia.
Como ele tem quase 400 metros de comprimento e pesa 200 mil toneladas, seu grande tamanho dificulta os esforços para desencalhá-lo. Uma grande escavadeira amarela que trabalhava na operação parecia um brinquedo ao lado da proa do navio. Ele comporta até 20.100 contêineres, o que o torna um dos maiores navios do tipo no planeta.
O desafio de desencalhar o navio está nas mãos da SMIT Salvage BV, uma lendária empresa holandesa cujos trabalhadores pulam de paraquedas de navio em navio, muitas vezes salvando embarcações durante tempestades violentas.
— A operação pode durar semanas se o navio estiver realmente preso — disse Peter Berdowski, CEO da Boskalis Westminster, a empresa-mãe da equipe de salvamento. O processo pode demorar mais “se você precisar se livrar da carga e também fazer a dragagem”, acrescentou Berdowski. A japonesa Nippon Salvage Co. também foi contratada para fazer o cargueiro voltar a flutuar, de acordo com pessoas a par do assunto.
O MV Evergreen, que saiu da Ásia e tinha como destino Rotterdam, é a maior embarcação já encalhada no canal desde a sua criação, em 1869. O acidente ocorreu depois de fortes rajadas de vento. O Ever Given é tão pesado que provavelmente precisará ser liberado removendo coisas como água de lastro, que ajuda a manter os barcos estáveis no mar. O combustível também pode ser descarregado.
A parte frontal do navio está enfiada cerca de 5 metros dentro da parede do canal, o que é um dos principais obstáculos para liberá-lo, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. A dragagem tenta retirar a areia do casco dianteiro, para que a embarcação possa ser puxada pela lateral.
— Desbloquear um colossal navio de contêineres no Canal de Suez será difícil devido à natureza estreita do corredor de navegação do canal — disse Rockford Weitz, diretor do Programa de Estudos Marítimos Fletcher da Universidade Tufts. — Isso apresenta complicações adicionais se comparado com um encalhe em um recife ou em um banco de areia.
A Autoridade do Canal de Suez não comentou sobre o trabalho ou deu qualquer indicação de quando o tráfego poderia ser retomado. A melhor chance de liberar o navio poderia vir apenas no domingo ou na segunda-feira, quando a maré atingirá seu nível mais alto, segundo Nick Sloane, o capitão de salvamento responsável pelo refluxo do Costa Concordia, navio de cruzeiro que naufragou na costa da Itália em 2012.
Globalmente, existem cerca de 180 navios que podem transportar, cada um, mais de 15 mil contêineres, de acordo com Um Kyung-a, analista da Shinyoung Securities Co. em Seul.
Espera-se que pelo menos mais 47 navios porta-contêineres desse porte sejam entregues até 2024, de acordo com a empresa de pesquisas Drewry. Um navio que pode transportar 20 mil contêineres custa cerca de US$ 144 milhões, e aqueles que transportam 23 mil custam mais de US$ 150 milhões, estima a Drewry.
Ponto-chave do comércio global
Cerca de 12% do comércio mundial flui através do Canal de Suez, tornando-o tão estratégico que as potências mundiais lutam pela hidrovia desde que foi concluída em 1869. Todo o tráfego está atrasado com o Ever Given encalhado no sul do canal, complicando ainda mais as cadeias de abastecimento globais que já foram fortemente impactadas pelo boom do comércio eletrônico associado à pandemia.
— A cada hora, mais navios estão atrasados no Mediterrâneo ao Norte e no Mar Vermelho ao Sul — disse Jett McCandless, CEO da empresa de monitoramento de cadeias de abastecimento Project 44. — Este é mais um grande golpe para o comércio mundial em um ano que já tem sido difícil para as cadeias de abastecimento.
Bilhões em jogo; petróleo recua nas Bolsas
Uma estimativa aproximada mostra que o bloqueio afeta cerca de US$ 9,6 bilhões em tráfego por dia, de acordo com cálculos da Lloyd’s List, sugerindo que o tráfego no sentido Oeste equivale a cerca de US$ 5,1 bilhões por dia, e o tráfego no sentido Leste movimenta US$ 4,5 bilhões por dia. A cotação do petróleo recuou, nesta quinta-feira, com o bloqueio do Canal de Suez, após dois dias tensos em que os preços variaram cerca de 6% para cima e para baixo. Os contratos futuros em Nova York caíram 1,6%.
Às 14h50 GMT (11h50 no horário de Brasília), o barril americano WTI cotado em Nova York para entrega em maio perdia 5,25%, a US$ 57,97. Em Londres, o barril Brent valia US$ 61,53, 4,47% a menos que na véspera.
Com informações de O Globo.
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