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Mortes por calor extremo devem quintuplicar até 2050, diz estudo de agência das Nações Unidas
A pesquisa de referência foi elaborada em colaboração por 114 cientistas de 52 centros de pesquisa e agências das Nações Unidas de todo o mundo.
Mortes por calor extremo devem quintuplicar até 2050, diz estudo – “A saúde da humanidade está em grave perigo”, diz estudo publicado na revista “The Lancet”. Mortes de pessoas com mais de 65 anos relacionadas ao calor extremo já aumentaram 85% desde a década de 1990. O número de pessoas que correm o risco de morrer devido aos efeitos do calor extremo pode aumentar em cinco vezes nas próximas décadas, alerta um relatório publicado nesta quarta-feira (15).
“A saúde da humanidade está em grave perigo”, afirmam os autores da pesquisa de referência, elaborada em colaboração por 114 cientistas de 52 centros de pesquisa e agências das Nações Unidas de todo o mundo, e que é publicada anualmente pela revista científica The Lancet.
O estudo de 2023 afirma que, em um cenário de aumento médio da temperatura de 2°C na comparação com o período pré-industrial até o fim do século, as mortes vinculadas ao calor podem aumentar em 4,7 vezes até 2050.
O relatório é publicado a duas semanas do início da reunião da ONU sobre o clima, a COP28 de Dubai, prevista para começar em 30 de novembro, e que pela primeira vez terá sessões dedicadas à saúde.
O estudo destaca que, em média, os habitantes do planeta foram expostos a 86 dias de temperaturas potencialmente fatais em 2022 e que o número de pessoas com mais de 65 anos que morreram vítimas do calor aumentou 85% no período 2013-2022 em comparação com 1991-2000. Só a Alemanha registrou 3 mil mortes por calor neste ano.
Ano mais quente da história
Segundo as estimativas, 2023 será o ano mais quente registrado na história da humanidade. Na semana passada, o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S), órgão da União Europeia (UE), declarou que outubro foi o mais quente de que se tem registro até agora.
Efeitos são sentidos neste momento no hemisfério sul. O Rio de Janeiro registrou na terça-feira (14/11) sensação térmica de 58,5 °C na zona oeste da cidade, a maior desde que o serviço municipal de meteorologia Alerta Rio começou a monitorar esse parâmetro.
“Os efeitos observados atualmente podem ser apenas um sintoma precoce de um futuro muito perigoso”, disse Marina Romanello, diretora-executiva do estudo publicado na The Lancet.
No documento, os cientistas destacam que o calor é apenas um dos fatores climáticos que podem contribuir para o aumento da mortalidade. Quase 520 milhões de pessoas a mais devem ainda enfrentar uma situação de insegurança alimentar moderada ou grave entre 2041 e 2060 por causa das mudanças climáticas, segundo as projeções.
E as doenças infecciosas transmitidas por mosquitos devem continuar em propagação. A transmissão da dengue, por exemplo, pode registrar alta de 36%.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, comentou o relatório e afirmou que “a humanidade enfrenta um futuro intolerável”. “Já estamos vendo a catástrofe acontecendo para a saúde e a subsistência de bilhões de pessoas ao redor do mundo, ameaçados por ondas de calor recordes, secas devastadoras para as colheitas, níveis crescentes de fome, surtos crescentes de doenças infecciosas, tempestades e inundações fatais”, afirmou em um comunicado.
“Passo de tartaruga”
Na terça-feira, a ONU ainda advertiu que os governos do mundo estão avançando “a passo de tartaruga” com seus compromissos de redução de emissões para tentar frear as mudanças climáticas.
Em uma mensagem devido ao lançamento do último relatório sobre as contribuições nacionais ao Acordo de Paris para limitar o aumento da temperatura global, o secretário executivo de Mudanças Climáticas da ONU, Simon Stiell, disse que os resultados mostram que os países devem tomar medidas mais ambiciosas durante a COP28, em Dubai.
“Teremos que reconstruir a confiança no processo de Paris. O que significa honrar todos os compromissos, e em particular os financeiros”, destacou Stiell.
O relatório divulgado nesta quarta afirma que os compromissos nacionais propostos para enfrentar a crise climática reduziriam as emissões de poluentes globais em 2% até 2030 em comparação com os níveis de 2019.
Contudo, para cumprir o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais – quando a maioria dos cientistas estima que os desastres ambientais, como as ondas de calor extremas ou inundações, se tornarão muito mais intensos e comuns -, seria necessária uma redução de 43%.
Concentração recorde de gases do efeito estufa
Nesta quarta-feira, a ONU também apontou que a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, responsável pela mudança climática, bateu recorde em 2022, em uma tendência de alta que não parece mudar.
No ano passado, as concentrações médias globais de dióxido de carbono (CO2), o principal gás do efeito estufa, ultrapassaram pela primeira vez em 50% os valores pré-industriais.
Os níveis continuaram aumentando em 2023, segundo o boletim anual de gases do efeito estufa da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
As concentrações de metano e os níveis de óxido de nitrogênio também registraram recordes em 2022, com a alta anual mais expressiva já observada.
“Apesar de décadas de advertências por parte da comunidade científica (…) seguimos no caminho errado”, afirmou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas. “O atual nível de concentrações de gases do efeito estufa nos leva a um aumento das temperaturas bem superior às metas do Acordo de Paris até o final do século”, advertiu.
“As condições meteorológicas se tornarão mais extremas: calor intenso e tempestades fortes, derretimento das geleiras, elevação do nível do mar e aquecimento e acidificação dos oceanos. Desta maneira, nós vamos observar um aumento expressivo dos custos socioeconômicos e para o meio ambiente”, acrescentou o secretário-geral da OMM.
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