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Maduro adota discurso da extrema direita e diz que sistema eleitoral do Brasil não é auditável

Maduro criticou, sem provas, sistema eleitoral brasileiro e disse que o de Caracas é o ‘melhor do mundo’.

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Em meio a uma escalada retórica com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que as eleições no Brasil são inauditáveis, adotando uma narrativa comum a setores da direita e extrema direita. Sem apresentar nenhum prova, Maduro fez a declaração sobre o tema — largamente rebatido pelas instituições brasileiras — durante um comício entre a noite de terça-feira e a madrugada de quarta em Maracay, no Estado de Aragua.

Maduro criticou não apenas o processo eleitoral no Brasil, mas também os dos EUA e da Colômbia, países amplamente considerados democráticos. O presidente também disse aos seus apoiadores que a Venezuela — onde a oposição denuncia uma série de repressões, incluindo prisões e inabilitações de candidaturas — tem “o melhor sistema eleitoral do mundo”.

— São três da manhã, mas antes temos que esclarecer à extrema direita que respeitem o processo eleitoral, que nós vamos ganhar outra vez e que na Venezuela vai haver democracia, liberdade e paz. Temos o melhor sistema eleitoral do mundo. Tem 16 auditorias. Eles fazem uma auditoria, como vocês sabem, em 54% das mesas. Em que outra parte do mundo se faz isso? Nos EUA? É inauditável o sistema eleitoral. No Brasil? Não auditam nenhum registro. Na Colômbia, não auditam nenhuma ata. Na Venezuela, auditamos no momento, na mesa — disse Maduro.

A fala de Maduro é o mais novo desdobramento de uma série de declarações, desde que o presidente venezuelano advertiu, também em um comício, que o país estava diante do risco de um “banho de sangue” e uma “guerra civil” caso não fosse reeleito.

Inicialmente, o governo brasileiro minimizou e disse que pregou afastamento do processo eleitoral. Um dia após a fala de Maduro repercutir em território brasileiro, interlocutores ligados ao Itamaraty disseram que o Brasil só atuaria na questão se fosse chamado por representantes de Maduro e da oposição, “dentro do espírito de Barbados”, referindo-se a um acordo assinado entre oposição e governo venezuelano em outubro do ano passado no país caribenho.

Na primeira menção ao presidente venezuelano após a fala do banho de sangue, Lula foi evasivo e afirmou que os venezuelanos “que elejam os presidentes que quiserem”, ressaltando que o país não tem contenciosos pelo mundo e que “o Brasil tem que gostar de todo mundo”.

Com a repercussão das falas de Maduro e um movimento regional de pressão, incluindo um pedido conjunto de Argentina, Costa Rica, Guatemala, Paraguai e Uruguai pelo “fim do assédio e da perseguição e repressão” a opositores pelo regime chavista, Lula retomou o tema em uma coletiva de imprensa com agências internacionais. O presidente se disse “assustado” com as falas de Maduro:

— Fiquei assustado com as declarações de Maduro de que se perder as eleições haverá um banho de sangue. Quem perde as eleições toma banho de votos, não de sangue — disse o presidente brasileiro sobre durante a entrevista coletiva em Brasília. — O Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica, quando você perde, você vai embora. Vai embora e se prepara para disputar outra eleição.

A mudança de posicionamento foi acompanhada por ações. Lula anunciou que o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, viajaria a Caracas para acompanhar o processo eleitoral, além dos dois observadores que a Justiça eleitoral brasileira. Fontes ouvidas pelo blog da Malu Gaspar no GLOBO afirmaram que o Itamaraty pressionou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a enviar servidores para acompanhar in loco a eleição presidencial no país.

A resposta de Maduro veio sem menção direta a Lula. Em uma declaração na terça-feira, o presidente sugeriu que “quem se assustou” com sua fala sobre o banho de sangue “tomasse um chá de camomila”.

— Eu não disse mentiras. Apenas fiz uma reflexão. Quem se assustou que tome um chá de camomila — declarou Maduro, citando apenas o termo usado por Maduro.

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