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Macron pede adesão da França à Organização do Tratado de Cooperação Amazônica
Para Macron, a França poderia aderir justamente em razão de a Guiana Francesa ter território amazônico e, na sua visão, a França assim é também amazônica.
O presidente da França, Emmanuel Macron fez um anúncio surpreendente em discurso anual aos embaixadores franceses, em Paris: a França quer aderir à Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, que hoje reúne os oito países da região.
‘Declaro solenemente que a França é candidata a participar da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica e a desempenhar um papel pleno nela, com uma representação associando estreitamente a Guiana Francesa’’, anunciou Macron.
‘Isso é muito importante, e devemos desempenhar nosso papel diplomático por meio de nossos territórios ultramarinos. Portanto, eu realmente espero que o Brasil e todas as outras potências da região aceitem nossa candidatura e nos permitam participar desse formato’, acrescentou.
Para Macron, a França poderia aderir justamente em razão de a Guiana Francesa ter território amazônico e, na sua visão, a França assim é também amazônica.
Em 2019, quando presidiu o G7, grupo das principais nações industrializadas, Marcon afirmou durante um pronunciamento que ‘“a Amazônia é nosso bem comum. Estamos todos envolvidos, e a França está provavelmente mais do que outros que estarão nessa mesa [do G7], porque nós somos amazonenses. A Guiana Francesa está na Amazônia”.
Ao mencionar a Amazônia como bem público comum, fontes dizem que Macron não se refere ao território amazônico, mas ao que a floresta fornece em termos de umidade, rios voadores, biodiversidade, com efeito transfronteiriço. Porém, como às vezes se expressa mal, e o que diz não vem com nuances, nacionalismos primários interpretam sua fala como risco de ‘internacionalização’ da Amazonia.
Mas o que a França quer agora causou surpresa em certas chancelarias, e essa não é uma questão diplomaticamente fácil de ser resolvida.
É que, em princípio, a Organização do Tratado de Cooperação da Amazônia não é aberta a adesões, porque considera que seus oito membros já cobrem o território da floresta – Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, República d Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.
A OTCA é o único bloco socioambiental da América Latina e diz ter ‘uma ampla visão do processo de Cooperação Sul-Sul, trabalha em diferentes dimensões, no âmbito da implementação do Tratado de Cooperação da Amazônia (TCA)’.
Em janeiro deste ano, de volta ao poder, o presidente Lula chegou a convidar Macron para participar da Cúpula da Amazônia, em Belém, reunindo os líderes dos países da OCTA. Macron não veio.
A ausência do presidente francês foi criticada por parte da imprensa em Paris. O jornal ‘Libération’ falou de ‘desprezo’ dele em relação à iniciativa dos países amazônicos.
O próprio Lula deu uma alfinetada na ausência de Macron. O presidente disse, numa entrevista, que a presença do francês teria sido importante para evitar que ele fique falando da Amazônia lá da Europa. “Venha conhecer a Amazônia. Venha ver como é o povo ribeirinho, como vivem os nossos indígenas“, disse Lula.
No seu discurso de ontem, Macron disse que gostaria de ter ido à Cúpula em Belém ‘para ser o único chefe de Estado europeu, ao lado de embaixadores europeus, para explicar como financiamos a Amazônia’. Deu sua resposta e jogou a bola para o lado da OTCA.
Com o surpreendentemente anúncio para aderir à OTCA, o mais provável é que o tema faça agora parte da agenda da reunião de chanceleres dos países membros, marcada para novembro em Brasília.
No passado, chegou-se a cogitar um convite para a França ser observadora na OCTA. Mas alguns países se opuseram à iniciativa. As relações com a Venezuela estão menos ruins, mas ainda assim o regime de Nicolas Maduro pode ser um dos obstáculos aos franceses.
Em seu discurso de ontem, Macron relatou que seu governo prepara para a Cúpula do Clima da ONU (COP 28), também a ser realizada em Belém, em 20025, ideias sobre desenvolvimento de créditos de biodiversidade e um mercado de carbono que funcione melhor.
‘Estabelecemos parcerias de conservação que começamos a implantar no Gabão e em Papua Nova Guiné no verão passado, mobilizando financiamento público e privado para preservar essas áreas em conjunto com os povos indígenas’, disse. ‘E continuaremos a fazer isso, como também queremos fazer na Amazônia, por meio de nosso próprio território, mas também por meio de nossos principais parceiros, em especial o Brasil’.
Sem citar o Mercosul, ele reiterou também que a França continuará a se ‘opor aos acordos comerciais que permitiriam a importação para a Europa de produtos que não atendem aos nossos padrões de saúde, clima, carbono ou biodiversidade. E é isso que nos torna uma força tão poderosa nessas questões. Gostaria de lembrar que foi por termos sido os primeiros a pressionar pela proibição do desmatamento importado que pressionamos muitas potências a evitar essas práticas’.
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