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Jovens latinos são vítimas mais frequentes de mortes por covid-19, nos Estados Unidos
Os dados fazem parte da pesquisa realizada pelo Covid Tracking Project, um grupo independente que monitora os casos, óbitos e hospitalizações referentes à doença nos Estados Unidos.
A taxa de mortalidade em decorrência da Covid-19 é pelo menos o dobro em comunidades latinas se comparada com o mesmo índice entre brancos e asiático-americanos nos Estados Unidos, segundo dados federais. A diferença na letalidade da doença é ainda mais contundente entre os latinos mais jovens, sobretudo aqueles com idade entre 30 e 40 anos.
Na Califórnia, estado com a maior população hispânica do país, os números mostram que latinos de 35 a 49 anos morreram 5,5 vezes mais em razão do coronavírus do que brancos de idade equivalente. Embora representem 41,5% das pessoas desta faixa etária no estado, eles são responsáveis por 74% das mortes.
Em dezembro, os latinos que estão no auge da vida tinham sete vezes mais probabilidade de morrer do que seus pares brancos, de acordo com o Covid Tracking Project, um grupo independente que monitora dados relativos a casos, óbitos e hospitalizações atinentes à doença.
A significativa taxa de mortalidade entre os mais jovens impactou também a expectativa de vida dos latinos em todo o país, com uma queda projetada em cerca de três anos durante 2020, conforme um estudo publicado no mês passado pela revista acadêmica Proceedings of the National Academy of Science (PNAS), baseado em dados federais. Segundo os autores, que atualizaram suas descobertas recentemente, a redução na expectativa de vida dos latinos foi superior a três vezes a perda experimentada pela população branca.
“Uma morte em idade mais jovem representa mais anos perdidos de vida”, disse Theresa Andrasfay, coautora do estudo e pós-doutoranda na University of Southern California que estuda disparidades de saúde. “Isso mostra como essa pandemia está operando de maneira um pouco diferente de outras causas de morte”, emendou ao jornal americano Washington Post.
Os pesquisadores projetam que, nesse ritmo, a expectativa de vida de latinos e brancos pode se equiparar ao fim de 2021. Apesar da discrepância social, política e econômica, os estudiosos reconheceram que os hispânicos viviam mais do que os nativos brancos. A vantagem foi ampliada desde 2006 – quando o governo americano passou a documentar esses dados de maneira segregada -, mas agora calcula-se que dois terços dessa margem tenham se esvaído em apenas um ano por conta da quantidade desproporcional de mortes entre os latinos mais jovens.
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Ainda não há uma resposta consolidada sobre esse paradoxo que contrapõe o alto índice de óbitos à maior expectativa de vida na comunidade latina. Teorias sugerem que imigrantes chegam aos Estados Unidos com mais saúde ou que aqueles com saúde precária ou quase mortos voltam ao seu país de origem, o que não foi comprovado. Certo é que a pandemia acentuou a desigualdade social e econômica que dita quem tem acesso aos recursos de saúde, que vão desde hospitais bem equipados a instalações para testes e vacinação.
Boa parte dos latinos, por exemplo, atua em serviços essenciais e não podem se dar ao luxo de trabalhar de casa. Além de mais expostos, eles ainda costumam viver em lares multigeracionais, com vários adultos compartilhando moradia em razão do baixo salário. A renda familiar média das famílias hispânicas era cerca de US$ 16 mil a menos do que a das famílias brancas em 2019.
Outro fator que explica por que a Covid-19 é tão devastadora para os latinos são as taxas mais altas de pelo menos duas doenças crônicas que tornam as pessoas mais suscetíveis a enfermidades graves causadas pelo coronavírus: diabetes e obesidade. A literatura acadêmica ratifica que esse grupo sofre mais em termos metabólicos devido ao estresse social e ao racismo a que são submetidos no dia a dia, o que influi no surgimento de algumas comorbidades.
Graças ao trabalho voluntário dos chamados promotores de saúde, profissionais da área que levam informação e acompanhamento às comunidades latinas, é possível formar uma rede de apoio nesses lugares.
“Eles são a rede de segurança. São capazes de traduzir informações de instituições para a comunidade de uma forma significativa, porque conhecem o racismo mediado pessoalmente e como isso se desenvolve. Eles veem pessoas, eles veem vizinhos, eles veem amigos. Enquanto os sistemas não veem você, eles veem um número, um gráfico”, disse ao Post a professora da Escola de Trabalho Social da Universidade de Boston Linda Sprague Martinez, que realiza pesquisas de saúde comunitária com adolescentes e jovens.
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