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Homem em vigília mais antiga na Casa Branca diz que nasceu na região de Manaus
A legislação americana exige que o acampamento esteja ocupado 24 horas por dia, 7 dias por semana. Do contrário, o Serviço Secreto tem autorização para desmontá-lo.
Um brasileiro que diz ter nascido na região de Manaus, no Amazonas, mantém o acampamento mais antigo na frente da Casa Branca, em Washington, Estados Unidos. Philipos Melaku-Bello está há 41 anos morando na calçada, cercado de cartazes de protesto contra armas nucleares. A informação é do site UOL.
Em Washington, capital dos Estados Unidos, para os padrões locais, o inverno está um pouco mais quente que o usual. As temperaturas namoram 0ºC, venta frio e forte na Lafayette Square. Numa das laterais da praça fica a Casa Branca. Na segunda-feira passada (23), o tempo instável espantava as infindáveis selfies de turistas diante dos portões de ferro.
A uma dúzia de passos das grades, há alguém sentado no mesmo lugar há 41 anos. Debaixo de uma lona improvisada, cercada de bandeiras encardidas e cartazes escritos à mão, um senhor de pele morena e barba grisalha se encolhe na cadeira de rodas.
Tem as pernas protegidas por um cobertor grosso e colorido. Nascido no Brasil, Philipos Melaku-Bello é o vizinho mais próximo do homem mais poderoso do mundo. Até a data do nosso encontro, foram 15.565 dias de convivência quase sempre pacífica.
Em 3 de junho de 1981, um ativista chamado William Thomas postou-se diante da residência oficial do presidente dos Estados Unidos segurando um cartaz ainda presente na ocupação: “Wanted: wisdom and honesty” (em português, “procura-se: sabedoria e honestidade”).
Era um protesto contra as armas nucleares. William foi ficando e ficando até se tornar um hóspede permanente na praça. Muito por ideologia, outro tanto por necessidade. A legislação exige que o acampamento esteja ocupado 24 horas por dia, 7 dias por semana. Do contrário, o Serviço Secreto tem autorização para desmontá-lo.
Logo nos primeiros dias, um grupo de voluntários apareceu para ajudar. Coadjuvante a princípio, o então jovem Philipos passou a fazer parte da equipe regular de revezamento em 1984.
Com a morte de William, em 2009, e de outra liderança importante, a espanhola Concepción Picciotto, em 2016, o professor de estudos anarquistas e revolucionários – conforme a definição em seu perfil no Linkedin -, se tornou a face mais visível da vigília.
O nome não entrega o local de nascimento. “Foi na região de Manaus. Fiquei no Brasil até os 3 anos de idade. Sou filho de mãe brasileira e pai etíope, ambos ativistas”, explica.
Philipos pede para não entrar em detalhes sobre a família. Apenas diz que a jornada familiar de paz, amor e alguma confusão o levou a morar na Etiópia, Inglaterra, África do Sul e nas duas costas dos Estados Unidos.
Poucas pistas, impossíveis de serem comprovadas, também quanto à relação com os presidentes. Bill Clinton foi o seu favorito. “Só vou dizer que já fui recebido por quatro deles na Casa Branca. E enfrentei alguns outros no tribunal”, despista.
Em Washington, a rotina de Philipos gira em torno da ocupação. Seus turnos durante a semana vão do meio-dia às 6 da tarde – ele diz que há “2 ou 3 pessoas” que revezam com ele nos outros horários.
Aos sábados e domingos, os plantões se estendem por 14 horas. Uma garrafa plástica recebe os dólares de simpatizantes e turistas. São as doações que garantem a sobrevivência do protesto. Uma reportagem do jornal Washington Post estimou a coleta diária em 65 dólares. O equivalente a 330 reais.
O protesto diante da Casa Branca hoje abriga uma Babel pró-direitos humanos. O guarda-chuva de reivindicações abriga gritos contra a crise climática, em defesa da Palestina, a favor da taxação de bilionários, em apoio ao movimento Black Lives Matter e contra a pena de morte. Do punhado de bandeiras nacionais que colorem a barraca, a mais recente é a do Brasil.
Em 2 de janeiro, Philipo adicionou o pavilhão verde-amarelo com uma saudação ao presidente Lula. Simpatizantes bolsonaristas torcem o nariz, ele conta. O ativista conhece um pouco de português e arrisca um “boa tarde” para sinalizar que captou as críticas.
“Bolsonaro transformou a Amazônia numa fogueira e declarou guerra contra as minorias. Todo mundo aqui nos Estados Unidos sabe disso, mesmo quem não tem qualquer relação com o Brasil”, afirma. “Ele deveria ser julgado por uma corte internacional por crimes contra humanidade. Marielle Franco presente!”.
Um cartaz lista as intempéries superadas ao longo de quatro décadas: sol, chuva, neve, granizo, furacões, H1N1, coronavírus. O momento mais difícil, diz o ativista, foi uma combinação de nevasca e tornado na virada de 1994 para 1995. “William ainda estava vivo, morava só a 7 quarteirões e não apareceu para me render. Tive de passar a noite com uma sensação térmica de -57ºC”, conta.
Já escurecia. Faltavam 10 minutos para as 6 da tarde quando Philipos me pediu uma “carona” – uma empurradinha de 5 minutos em sua cadeira de rodas até a Farragut Square. Ali, ele pegaria o primeiro de dois ônibus na viagem de uma hora até sua casa. Em seu lugar, um voluntário também na casa dos 60 anos faria o turno da noite.
“Precisamos de uma nova geração, alguns jovens que pudessem ficar numa transição de 5 ou 6 anos. Adoraria derrubar isso daqui, mas o mundo precisa estar em paz”. Na manhã seguinte, ele voltaria para o dia 15.566 do protesto.
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