Conecte-se conosco

Mundo

EUA e Europa investigam e limitam uso de vacina contra chikungunya, aprovada no Brasil, após reações graves

Autoridades estrangeiras restringiram acesso entre idosos; no Brasil, onde a dose ainda não foi comercializada, limite da Anvisa já é de 65 anos.

eua-e-europa-investigam-e-limi

Os Estados Unidos e a Europa deram início a uma investigação sobre a vacina contra a chikungunya Ixchiq, da farmacêutica franco-austríaca Valneva, que recebeu recentemente aval para uso no Brasil. Segundo as autoridades sanitárias americanas e europeias, são monitorados relatos de efeitos adversos graves em idosos. Ambas interromperam a indicação para maiores de 60 anos, nos EUA, e de 65, na Europa.

A Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador dos EUA, foi o primeiro a autorizar o imunizante no mundo, ainda em 2023, para a população adulta. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA, da sigla em inglês) aprovou a dose em maio do ano passado para maiores de 18 anos, depois estendendo o público elegível para todos acima de 12.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu o sinal verde para a vacina para pessoas de 18 a 65 anos em abril deste ano, embora a dose ainda não tenha sido comercializada no país. O pedido foi realizado em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo, que tem um acordo com a farmacêutica para produzir uma versão própria do imunizante, que já está em análise na agência. Como uma das contrapartidas, o instituto brasileiro foi responsável por conduzir estudos clínicos da Ixchiq com adolescentes.

Segundo o Butantan, as duas vacinas “têm praticamente a mesma composição”, mas a versão produzida com componentes nacionais no instituto “será melhor adequada à incorporação pelo SUS (Sistema Único de Saúde (SUS)”, por questões logísticas. Após o aval da Ixchiq no Brasil, o Ministério da Saúde afirmou que pretende solicitar a inclusão da dose no SUS.

No último dia 7, porém, a EMA anunciou que estava revisando a vacina e interrompendo a sua indicação acima dos 65 anos “após relatos de eventos adversos graves em idosos”. Até a data, entre mais de 43,4 mil doses aplicadas no mundo, foram relatadas 17 reações graves, incluindo duas mortes entre pessoas de 62 a 89 anos, segundo a agência.

Um dos casos fatais foi de um homem de 84 anos que desenvolveu encefalite, uma inflamação do cérebro. O segundo foi também de um homem, de 77 anos, com doença de Parkinson, cuja dificuldade de engolir piorou e pode ter causado pneumonia por aspiração, afirmou a EMA. Ambos os casos foram registrados no território ultramarino francês de La Réunion, onde uma campanha de vacinação está em andamento após um recente surto da doença.

A EMA reforça que muitas pessoas que tiveram reação grave “tinham outras doenças, e a causa exata desses eventos adversos e sua relação com a vacina ainda não foram determinadas”. Mas, como os estudos clínicos que demonstraram a segurança do imunizante envolveram principalmente participantes abaixo dos 65 anos, a agência decidiu interromper a indicação para os mais velhos.

“Como medida temporária enquanto uma análise aprofundada estiver em andamento, a Ixchiq não deve ser usada em adultos com 65 anos ou mais. A vacinação com Ixchiq pode continuar em pessoas com menos de 65 anos de idade, de acordo com as recomendações oficiais”, disse.

O comitê de segurança do órgão analisará os dados disponíveis e fará uma recomendação sobre os termos de autorização da vacina. Na União Europeia, a dose está disponível na Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Luxemburgo, Holanda, Noruega e Suécia.

Nos Estados Unidos, dois dias depois do anúncio da EMA, a FDA e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças do país (CDC) afirmaram que também estavam deixando de recomendar a vacina para indivíduos com 60 anos ou mais enquanto “investigam relatos pós-comercialização de eventos adversos graves”.

As autoridades citaram os mesmos 17 eventos adversos graves mencionados pelo órgão europeu e acrescentaram que 6 deles foram registrados nos EUA. Mas reforçaram que a maioria “ocorreu em indivíduos com condições médicas crônicas subjacentes” e que esses casos são suspeitas que precisam ser investigadas, ou seja, “podem não ter relação causal com a vacinação”.

A Ixchiq contém uma versão viva e enfraquecida do vírus chikungunya e, segundo a FDA, pode causar sintomas semelhantes aos da doença. Nos estudos clínicos avaliados pela agência, no entanto, que vacinaram 3,5 mil pessoas com 18 anos ou mais na América do Norte, as reações mais comuns foram dor de cabeça, fadiga, dor muscular, dor nas articulações, febre, náusea e sensibilidade no local da injeção.

“A FDA realizará uma avaliação de risco-benefício atualizada para o uso do Ixchiq em indivíduos com 60 anos de idade ou mais. (…) A FDA e o CDC informarão o público quando as agências concluírem a avaliação desse problema de segurança”, afirmam as autoridades americanas.

Em nota, a Valneva disse estar “comprometida em manter os mais altos padrões de segurança” e afirmou ter se envolvido “proativamente com as autoridades de saúde em todos os territórios onde a Ixchiq está licenciada para fornecer informações oportunas sobre todos os eventos adversos graves conhecidos”.

Pontuou que, “conforme destacado pela FDA/CDC, os eventos adversos podem não estar relacionados à vacinação,” mas reconheceu que a “avaliação completa desses casos é fundamental para garantir o uso seguro” da vacina. “A empresa continua a observar um risco-benefício positivo na grande maioria das pessoas com exposição potencial à doença”, continuou.

No Brasil, não houve alteração por parte da Anvisa em relação à indicação da vacina, que já é restrita ao público de até 65 anos. De acordo com a agência, a situação está sendo monitorada, porém não houve ainda a comercialização do imunizante no país.

A chikungunya é uma infecção viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo responsável pela disseminação da dengue e da zika. Segundo o Ministério da Saúde, o vírus foi introduzido no continente americano em 2013 e confirmado no Brasil em 2014. Hoje, ele é bem distribuído pelo país e se manifesta, principalmente, causando edema e dor articular incapacitante.

Casos graves da infecção podem demandar internação hospitalar e evoluir para óbito por causarem doença neuroinvasiva, como encefalite, mielite, meningoencefalite, síndrome de Guillain-Barré, síndrome cerebelar, paresias, paralisias e neuropatias.


Clique para comentar

Faça um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

vinte + doze =