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Estudo mostra que gasto militar global dispara e atinge maior nível da história
Os Estados Unidos seguem incontestes como o país mais poderoso da história moderna. Em 2023, empenharam 41% do gasto militar total do planeta.
O gasto militar global disparou em 2023 e atingiu o maior patamar da história moderna, descontadas as duas guerras mundiais do século 20. No tenso ano passado, os países gastaram um pouco mais do que um PIB do Brasil em defesa.
A conta foi feita pelo IISS (sigla inglesa para Instituto Internacional de Estudos Estratégicos), de Londres, na divulgação nesta terça (13) de seu referencial anuário sobre o estado das Forças Armadas do planeta, o “Balanço Militar”.
O think-tank apurou um crescimento de 9% nos gastos com armas no ano passado, chegando a US$ 2,2 trilhões (R$ 10,9 trilhões hoje). Em termos nominais e relativos, é o maior valor dos 65 anos da série histórica da publicação que, como estudos semelhantes, nunca viu tanto dinheiro sendo desembolsado desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
Os Estados Unidos seguem incontestes como o país mais poderoso da história moderna. Em 2023, empenharam 41% do gasto militar total do planeta, seguidos pela China (10%) e a Rússia (5%). Tudo o que os americanos despendem no setor equivale a pouco mais do que o gasto dos 14 outros países do ranking juntos.
A aliança militar comandada por Washington, a Otan, teve um aumento substancial de seus gastos, reflexo da Guerra da Ucrânia: 8,5% do bolo total, excetuando os EUA. Em termos reais, foi um aumento de quase 40% em seus gastos com defesa, o maior do mundo, o que desautoriza um pouco a crítica recente feita pelo ex-presidente americano Donald Trump sobre o apetite europeu de se defender.
Por outro lado, não é algo homogêneo: a Polônia transformou-se em um grande centro de investimento militar, prometendo gastar 4% de seu PIB com defesa, enquanto a rica Alemanha, alvo preferencial da ameaça de Trump de não cumprir a defesa mútua da aliança se voltar à Casa Branca, despende 1,57%.
Outro polo notável é a Índia, que ultrapassou o Reino Unido e assumiu o quarto lugar, com 3,3% da despesa global (US$ 73,6 bilhões).
No caso dos rivais dos EUA na Guerra Fria 2.0, o IISS ressalva que o gasto de Pequim e de Moscou é, aplicando critérios de Paridade de Poder de Compra que levam em conta custos de produção, bem maior. Os chineses aplicaram o equivalente a US$ 407 bilhões, não os US$ 219,5 bilhões nominais. Os russos, US$ 296 bilhões na prática, e não US$ 108,5 bilhões.
Os EUA também puxam a fila dos países no quesito crescimento dos gastos, sendo responsáveis em valores reais por 22,2% do total. Entre as outras grandes potências, a Rússia foi quem mais investiu, refletindo a militarização de sua economia de olho em um conflito prolongado contra a Ucrânia, invadida há quase dois anos. Foi um salto real de 18,6% em investimentos, que levou a um gasto em proporção do PIB de 4,8%.
“Hoje os russos gastam um terço do que têm para investir em defesa”, afirmou o diretor-geral do IISS, Bastian Giegerich. Como já fizera no ano passado, contudo, o instituto pintou um quadro de perdas militares enormes tanto para russos quanto para ucranianos.
Segundo estimativa do IISS, Putin perdeu 3.000 tanques na guerra e hoje tem uma frota ativa de 1.750 unidades. Antes do conflito, ela tinha 3.387 desses blindados prontos para agir, mas é preciso colocar em perspectiva que muitas das perdas diz respeito às quantidades maciças de equipamento antigo em estoque que foi posta em campo.
“Claramente eles colocaram quantidade acima da qualidade”, disse o analista de forças terrestres do IISS, Douglas Barry. Mas Giegerich afirma que, no ritmo atual, Moscou pode conseguir manter seu esforço de guerra neste campo por mais dois ou três anos baseado em estoques, e no meio-tempo o avanço de sua produção militar tende a compensar as perdas.
Para a Ucrânia, o cenário é o de dificuldades conhecidas. O IISS ressaltou os sucessos assimétricos de Kiev ao impedir a livre atuação da Frota do Mar Negro da Rússia com o uso de drones, e ataques com aviões-robôs em pontos distantes do território russo.
A guerra Israel-Hamas foi outro exemplo levantado pelos especialistas para enfatizar o peso da assimetria, destacando a brutal eficácia do ataque do grupo terrorista palestino de 7 de outubro passado e o risco dos ataques houthis no mar Vermelho. “Israel ainda não alcançou seus objetivos estratégicos”, disse Giegerich em videoconferência, em que destacou o papel do Irã como desestabilizador regional.
Os analistas apontaram para desenvolvimentos no Indo-Pacífico, como a aliança militar entre EUA, Austrália e Reino Unido, como novo fator para uma corrida armamentista. Em 2023, o aumento real de despesas na região asiática foi de 5%.
No ranking geral, o Brasil subiu de 15 para 14 no ranking de gasto militar do mundo. Os dados do IISS são compatíveis, embora algo diferentes daqueles aferidos em termos de execução orçamentária, e há a diferença mais importante: em 2023, 80% da despesa brasileira foi com pessoal ativo e inativo, enquanto isso não entra nas contas do padrão Otan, por exemplo.
Há, por óbvio, dificuldades metodológicas que o próprio instituto assume, como definir exatamente o gasto russo, pulverizado. Outros países estrategicamente importantes em suas regiões, como a Síria, a Coreia do Norte ou a Venezuela, não têm esses dados disponíveis.
Em termos de efetivos pelo mundo, o IISS apontou uma estabilidade em 2023 ante 2022, ainda que a Rússia e a Ucrânia tenham aumentado suas Forças Armadas —Moscou para 1,1 milhão de soldados, o quarto maior número do mundo atrás de China, Índia, EUA e Coreia do Norte, e Kiev, para 800 mil militares. Ao todo há 20,6 milhões de fardados no mundo, 367 mil deles no Brasil.
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