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Destruição da Amazônia vai muito além do desmatamento, alertam pesquisadores

Para cientistas, avanço da degradação e o desmatamento estão empurrando o ecossistema para um “ponto de não retorno”

A fire burns along the road to Jacunda National Forest, near the city of Porto Velho in the Vila Nova Samuel region which is part of Brazil’s Amazon, Monday, Aug. 26, 2019. The Group of Seven nations on Monday pledged tens of millions of dollars to help Amazon countries fight raging wildfires, even as Brazilian President Jair Bolsonaro accused rich countries of treating the region like a “colony.” (AP Photo/Eraldo Peres)

“A perda de floresta amazônica até hoje é muito maior do que os quase 20% de desmatamento dos quais se fala nos meios de comunicação”. Esse é o alerta que o climatologista Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), fez à BBC Brasil.
“Falar só de desmatamento quando falamos da destruição da Amazônia é o que eu chamo de a grande mentira verde”, diz ele, que defende que um panorama mais real da destruição da floresta só é possível quando se considera a degradação dela.
Define-se como degradação o fenômeno que acontece quando o acúmulo de perturbações em um trecho de floresta (incêndios, extração de madeira e caça descontrolada, por exemplo) retira daquele ecossistema sua capacidade de funcionar normalmente.
“A questão é que a degradação tem um papel importante na maneira como a floresta muda, e nós não estamos vendo. Não há nenhum tipo de política para evitar a degradação”, diz à BBC News Brasil o botânico Jos Barlow, professor da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, e pesquisador da Rede Amazônia Sustentável (RAS).
“Assim como uma pessoa saudável tem menos chances de pegar uma gripe, uma floresta saudável tem menos chance de queimar e de sucumbir às mudanças climáticas. O que a degradação faz é deixar a floresta cada vez mais vulnerável”, completa.
O avanço da degradação e o desmatamento estão empurrando o ecossistema para um “ponto de não retorno”, de acordo com os cientistas Carlos Nobre e Thomas Lovejoy. Uma área de floresta degradada também perde, por exemplo, a capacidade de reciclar água da chuva.
No Brasil, entre os meses de janeiro e novembro do ano passado, o fogo arrasou mais de 7 milhões de hectares de Amazônia. Na Bolívia, o incêndio atingiu mais de 2 milhões de hectares do bioma.
Um relatório recente do governo da Colômbia afirma que, entre 2012 e 2015, a região amazônica no país perdeu 187.955 hectares por desmatamento e 414.605 hectares por degradação ​​— mais que o dobro.
“Sabemos que até os números oficiais que temos são subestimados, porque geralmente só se mede a degradação mais grave”, alerta Jos Barlow, da Universidad de Lancaster.
As consequências da destruição da Amazônia, ainda que não sejam previsíveis em sua totalidade, apontam para aumento da temperatura, diminuição das chuvas, comprometimento da agropecuária, aumento de doenças transmitidas por mosquitos.


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