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Após sanções, russos fazem fila em bancos para comprar dólar, e rublo atinge mínima histórica
A restrição de acesso ao Swift dificultará transações corriqueiras de exportações e importações, compras internacionais e pagamentos cotidianos de consumidores russos.
O anúncio de duras sanções econômicas dos Estados Unidos e da União Europeia à Rússia, por causa da guerra na Ucrânia, que incluem a retirada de vários bancos russos do sistema internacional de pagamentos Swift e o bloqueio das reservas internacionais do governo de Moscou no exterior, provocou uma corrida para compra de dólares no país em pleno domingo, fez as cotações do rublo desabarem e deve levar os mercados globais a um dia de extrema volatilidade hoje, preveem analistas.
A Rússia tem uma das maiores reservas internacionais do mundo, estimadas em US$ 630 bilhões, e ainda que grande parte desses ativos não estejam mais denominados em dólar, o súbito bloqueio de sua movimentação pode causar um forte desequilíbrio nos mercados cambiais globais.
Ao mesmo tempo, a restrição de acesso ao Swift dificultará transações corriqueiras de exportações e importações, compras internacionais e pagamentos cotidianos de consumidores russos.
Ontem, em Moscou, muitos relataram não conseguir mais acesso a meios digitais de pagamento como Apple Pay e Google Pay. Muitos tentaram, sem sucesso, sacar dólares em caixas eletrônicos.
Analistas avaliam que o tamanho do estrago dependerá da capacidade — ou não — de Moscou conter os danos. Nesse domingo, o Banco da Rússia (o banco central do país) divulgou comunicado garantindo que “teria os recursos e ferramentas para manter a estabilidade e a continuidade operacional do setor financeiro”. Também prometeu fornecer aos bancos suprimentos “ininterruptos” de rublos, mas não fez menção à moeda estrangeira. Num cenário extremo, uma corrida por saques poderia criar o risco de insolvência bancária.
— Imagino que o governo russo tenha algum tipo de plano para minimizar essa situação, o que não impede que filas enormes de russos tentando salvar o patrimônio se formem, porque a gente não sabe quanto tempo isso vai durar — afirma Carlos Carvalho, gestor da Kinitro Capital, lembrando que Moscou se preparou para a guerra e para as sanções:
— Estamos nos primeiros capítulos desse drama. É um momento delicado. Não vemos algo parecido desde a Segunda Guerra. Putin (o presidente russo Vladimir Putin) escolheu a dedo o momento de fazer essa invasão, já que se viu em posição de superioridade em relação à questão do petróleo e do gás natural, com a pressão inflacionária. Não tenho a menor dúvida de que ele vinha se preparando para as retaliações econômicas — sugere Carvalho.
Rublo desvalorizado
As filas nos caixas eletrônicos se formaram desde ontem cedo. Na sexta-feira, a moeda russa já havia atingido sua mínima histórica, com o dólar sendo vendido a 83 rublos. No domingo, a moeda americana era comercializada acima de 100 rublos em casas de câmbio, renovando o patamar mínimo. A expectativa é que haja nova desvalorização hoje — de 10% a 15%, na avaliação de Carvalho — e que ocorra uma corrida aos bancos em busca de dinheiro.
— Fiquei na fila por uma hora, mas a moeda estrangeira sumiu em todos os lugares, apenas rublos. Acabei vindo tarde porque não achava que isso fosse possível. Estou chocado — disse Vladimir, um programador de 28 anos que esperava na fila em frente a um caixa eletrônico em São Petersburgo, que se recusou a dar seu sobrenome.
A última vez que a Rússia enfrentou uma grande corrida aos bancos foi em 2014, quando a queda dos preços do petróleo, na sequência das sanções ocidentais em retaliação à anexação da Crimeia, provocou uma queda na taxa de câmbio. Apenas o Sberbank, o maior banco da Rússia, gastou 1,3 trilhão de rublos (US$ 16 bilhões) em uma única semana naquela ocasião.
Professor de economia da PUC-SP e presidente do Conselho Federal de Economia, Antônio Corrêa de Lacerda, avalia que a guerra na Ucrânia e as sanções impostas à Rússia devem provocar alta volatilidade nos mercados nos próximos dias, levando à alta do dólar, além de impactar os juros e as Bolsas globais. Segundo Lacerda, a corrida aos bancos é “natural em momentos de instabilidade”.
— Quando você coloca sanções dificulta a expansão do comércio internacional, o que é uma notícia ruim para o mundo que saiu da pandemia — afirma Lacerda.
Para o economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, o que deve gerar mais impacto hoje sobre os mercados é a notícia de que Putin colocou as forças de dissuasão nuclear em alerta máximo:
— Os mercados estão muito tensos. A tendência é de queda no médio prazo, a não ser que aconteça alguma conversa entre Rússia e Ucrânia. Veremos também muita volatilidade, afetando inclusive as criptomoedas e o preço do ouro.
Espírito Santo ainda diz que a inflação, que já vem alta, vai gerar incômodo ainda maior para os bancos centrais, que se verão em uma encruzilhada. Se subirem o juro para conter a inflação, correm o risco de enfrentar mais à frente uma eventual recessão. O Brasil não é exceção.
— O quadro brasileiro independentemente da guerra já não era favorável. Havia estagnação com inflação persistente. E a guerra vai tornar mais difícil o crescimento da economia porque vai haver pressões inflacionárias e pode haver uma desvalorização do real frente ao dólar — diz Lacerda. (Com agências internacionais)
A informação é do site Extra.
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