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Amazônia eleva meio ambiente a prioridade nas redes, diz pesquisa
A análise também mostra que o debate sobre meio ambiente foi gigante no exterior — ou ao menos em outras línguas – e que o Brasil nunca discutiu tanto meio ambiente nas redes.
O debate sobre meio ambiente que tomou as redes por causa dos incêndios na Amazônia teve importância equivalente às discussões sobre o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e as eleições no Brasil, segundo notícia publicada no site da BBC Brasil. Diferentemente do que aconteceu com a tragédia de Brumadinho, quando as discussões sobre o deslizamento alcançaram um pico nas redes mas depois arrefeceram, a questão amazônica perdura mais do que o habitual nas postagens. O Brasil, portanto, nunca discutiu tanto meio ambiente nas redes.
Um estudo produzido pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV DAPP) a pedido da BBC News Brasil mostra que, em dez dias, houve mais 8 milhões de tuítes em português sobre temas ligados a meio ambiente. Os tuítes foram coletados entre 17 e 26 de agosto deste ano (até as 10h), e centenas de palavras-chave e associações entre termos foram levadas em consideração na hora da coleta (hashtags e tuítes sobre temas como aquecimento global, reservas ambientais, negacionismo climático, ONGs, entre outros).
“Pelo volume e pessoas envolvidas, é um dos debates majoritários da história do Brasil em relação a políticas públicas”, diz Lucas Calil, coordenador de linguística e pesquisador da FGV DAPP. “Nunca houve interesse parecido como o atual no tema.”
O laboratório analisa debates ligados a tópicos como direitos humanos, corrupção, economia, educação, entre outros. Especificamente nessa pesquisa sobre meio ambiente, não analisou os tuítes qualitativamente.
Calil compara a proeminência da discussão de agora sobre meio ambiente a outras com volume de dados muito significativos: greve dos caminhoneiros, julgamento do ex-presidente Lula, impeachment, eleições. Contribuiu para isso o fato de que grandes influenciadores estrangeiros como Donald Trump, o presidente americano, e Emmanuel Macron, presidente francês, também tuitaram sobre o assunto.
De acordo com o pesquisador da FGV, “o debate segue polarizado, mas agregou mais campos do espectro político se posicionando, com o centro e centro-direita em manifestação mais direta a favor da preservação ambiental”. Apesar disso, diz ele, “os campos políticos principais, oposição e pró-governo, seguem polarizados”, sem mudança de lados em nenhum dos grupos.
Para pesquisador, depois da “pauta Amazônia”, meio ambiente tem potencial de ser promovido a grupo de pautas importantes no Brasil.
Há anos o DAPP analisa pautas de políticas públicas e, segundo o pesquisador, as mais proeminentes nas redes brasileiras são direitos humanos, economia, segurança pública e corrupção. Já meio ambiente sempre manteve uma média razoável de interações – uma estabilidade de discussões que não era “absolutamente concentradora” nem alcançava outros temas.
O estudo levou em consideração somente dados no Twitter, mas os pesquisadores entendem a rede como um “ecossistema”, em que plataformas “se conectam e dialogam umas com as outras”. “Por isso, acho que existe uma tendência muito forte de que os posicionamentos e questões do debate no Twitter também sejam majoritários ou muito relevantes nas outras redes”, afirma Calil.
Uma consulta no “Monitor de WhatsApp”, um sistema criado pelo professor Fabrício Benevenuto, do departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mantido por ele e seus alunos, mostra que a maior parte das imagens compartilhadas por meio do WhatsApp nos últimos dias também era relacionada à Amazônia. O sistema criado por Benevenuto monitora diversos grupos brasileiros públicos no aplicativo de mensagens.
Também há outra particularidade: normalmente, as discussões online sobre meio ambiente duram poucos dias. Um exemplo citado por Calil é o de Brumadinho, referindo-se ao rompimento de uma barragem de rejeitos da Vale em Minas Gerais, em janeiro. “(A discussão em torno de) Brumadinho também foi impressionante, como sempre essas pautas são. Mas teve um período de pico e depois, aos poucos, foi decantando”, diz.
A Amazônia, agora, “não foi algo episódico e estritamente político, mas foi uma pauta temática”, dominando um percentual muito relevante do debate, com uma continuidade e durabilidade maiores e um pico menor. Essas características, segundo ele, também mostram que as conversas não eram apenas bate-boca nas redes, mas interações sobre um tópico que gerou interesse.
“Hoje, a pauta ambiental é a mais importante no Brasil, o que não era desde Brumadinho — e que antes era Brumadinho especificamente, não algo mais amplo como o meio ambiente”, diz Calil.
Para o pesquisador, o meio ambiente agora tem potencial de “ser promovido”, tornando-se um tema bastante discutido no Brasil e rivalizando com debates mais comuns, como economia e corrupção. “Acredito que a pauta ambiental vá assumir outro tipo de protagonismo, atingindo um novo nível de estabilização, com um aumento em sua participação no debate. Esse aumento de discussão pode ser contínuo pelos próximos meses”, afirma, ressaltando que sempre pode acontecer algo diferente que desvirtue essa tendência.
Houve um ponto de virada que mostra quando o assunto começou a ser amplamente debatido no Twitter. Embora as queimadas na Amazônia já estivessem ocorrendo e sendo noticiadas, foi apenas quando o céu da capital paulista e de outras cidades do Estado escureceu —por causa da fumaça proveniente de fogos combinada à chegada de uma frente fria— que o número de menções ao meio ambiente cresceu. Tuítes de instituições e veículos internacionais, lembra Calil, também contribuíram para esse ponto de inflexão.
Nos dias 17 e 18 de agosto, o meio ambiente teve pouco mais de 100 mil menções na rede. No dia 19, o dia do céu escuro em São Paulo e outras cidades, o número pulou para 527 mil. Um dia depois, triplicou, atingindo um pico: 1,5 milhão de tuítes.
O número de menções ao meio ambiente então se manteve estável entre 20 e 23 de agosto, terça a sexta-feira, quando foi assunto principal da semana no noticiário. E caiu, mas não arrefeceu, no fim de semana, quando a cúpula do G7 se reuniu em Biarritz, na França.
A análise da DAPP também mostra que o debate sobre meio ambiente foi gigante no exterior — ou ao menos em outras línguas. Além de português, os pesquisadores coletaram tuítes em inglês, espanhol e francês. Isso não signfica que todos esses tuítes foram feitos no exterior — há brasileiros interagindo nessas línguas, também (direcionando tuítes a Macron em francês, por exemplo, ou em inglês para a Nasa).
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