Economia
Saiba como fazer celular durar mais e como comprar aparelho usado com segurança
Pesquisas apontam que brasileiros estão levando até dois anos para trocar celular, e buscando mais smartphones recondicionados.
Preços salgados e crédito caro na praça estão levando o brasileiro a passar cada vez mais tempo com o mesmo celular. Se há alguns anos a troca por um novo era feita a cada 12 meses, agora a média subiu para 24 meses. É o que aponta uma pesquisa da consultoria GfK, realizada no primeiro trimestre deste ano. Entre os consumidores 44% disseram que trocavam o aparelho depois de mais de dois anos de uso. Em 2019, essa fatia era de 32,3%.
Outro levantamento mostrou que, do total de 30 milhões de celulares vendidos no varejo no ano passado, 22 milhões foram substituições por modelos similares e 8 milhões foram atualizações para um modelo mais avançado, sinalizando que o consumidor está mais resistente a comprar aparelhos mais caros, com versões mais atualizadas do mercado.
— Com a pandemia, o processo de troca de aparelhos se tornou mais longo. O consumidor vai avaliar a tecnologia, mas também se a prestação cabe no bolso. Por isso, o preço é um fator crítico — Fernando Baialuna, diretor de consultoria e varejo da GfK para a América Latina.
Ainda segundo a consultoria 2,5 milhões de unidades representaram um segundo aparelho extra para o mesmo consumidor. Além disso, boa parte dos consumidores só vai às compras quando o aparelho quebra ou é roubado. Quatro milhões de unidades foram compradas para reposição de um celular perdido ou roubado.
O crédito caro, e escasso, no varejo ajuda a explicar a demora na troca do celular. Segundo especialistas no mercado, a redução no número de parcelas e, consequentemente, o aumento no valor mensal têm ajudado a afastar os compradores. Por isso, cresceu a busca por modelos mais baratos no mercado:
— A gente viu essa queda no tíquete médio mais acentuado depois da pandemia. O consumidor encontra muita dificuldade de comprar smartphone com renda comprometida. Assim, os fabricantes disponibilizam os modelos mais baratos que vão ter mais saída, de acordo com critérios econômicos. Os varejistas e fabricantes também já perceberam. O consumidor tem passado mais tempo com seu aparelho, chegando até 3 anos com o mesmo smartphone — explica Andréia Chopra, analista Consumer Devices IDC Brasil.
Uma pesquisa do IDC Brasil revelou que o mercado brasileiro de aparelhos celulares registrou redução de 11% em unidades vendidas. No período, foram comercializados 9,94 milhões de smartphones, cerca de 1,24 milhão a menos do que nos mesmos meses do ano anterior.
O estudo mostra que a faixa de preço dos celulares mais vendidos no trimestre do ano foi a de R$ 700 a R$ 999, representando 26% do total de vendas. Andréia Chopra destaca que o preço ainda é fator prioritário para o consumidor, mas que as especificações do aparelho são cada vez mais levadas em consideração.
Seminovos até 40% mais baratos
Se por lado os consumidores estão ficando mais tempo com mesmo aparelho e optando por modelos mais baratos, por outro tem crescido o interesse por celulares recondicionados ou usados. Para conseguir pagar por modelos mais caros, top de linha, os celulares usados — que chegam ao mercado sem melhorias — ganham espaço por oferecer preços mais acessíveis. Já os aparelhos recondicionados — opções usadas e revisadas por uma equipe técnica, com eventuais reposições de componentes — oferecem smartphones com valores até 40% mais baratos do que os novos.
— São alternativas para os consumidores que desejam trocar de aparelho, mas buscam opções mais em conta. No primeiro semestre, registramos alta de 13,3% nas vendas em relação ao mesmo período de 2022— afirma Armando Mosin, CEO da Trocafone.
Em 2024, o mercado de recondicionados deve somar 5,5 milhões de unidades, segundo estudo da IDC. O volume projetado é 52,8% superior aos 3,6 milhões de aparelhos vendidos em 2021.
— Modelos cada vez mais caros fomentam um mercado secundário. Captamos os aparelhos através de parcerias (como varejistas e as próprias marcas), e eles passam por uma avaliação, para saber se é fruto de roubo ou não. Uma varredura identifica defeitos e necessidades de troca de peças. Fazemos a oferta em três categorias, que levam em conta a saúde da bateria e a estética — explica Felipe Piva, head da Trocafy.
Custo e benefício atraentes
As principais fabricantes estão investindo em produtos que oferecem bom custo benefício para atrair clientes:
— No Brasil, o maior volume de vendas se dá na categoria de produtos intermediários, que combinam aspectos de tecnologia dos produtos mais avançados como a tecnologia 5G, telas Oled e câmeras de alta resolução, com o melhor custo benefício — destaca Rodrigo Vidigal, diretor executivo de vendas da Motorola.
Head da Operação da Xiaomi Brasil, Luciano Barbosa analisa que outro fator que interfere na demora para a troca de aparelho é que as fabricantes têm aumentado o intervalo entre os lançamentos:
— Antes, tanto a Xiaomi quanto outras marcas trabalhavam com dois lançamentos anuais, o que impulsionava o interesse dos consumidores. Quem não está trocando com tanta regularidade está com bons aparelhos, que atingiram um nível alto de tecnologia e duram mais tempo.
A startup britânica Doji verificou que o brasileiro tem vendido até dois celulares para investir em um outro aparelho já usado ou seminovo:
— O mercado de celular usado está mais aquecido. As diferenças entre os modelos são muito pequenas. A perda de poder aquisitivo e juros altíssimos prejudicam o parcelamento — diz Fernando Montera, CEO da empresa.
Confira os cuidados na compra de aparelho seminovo
Procedência
Para evitar o transtorno de descobrir que o celular seminovo é fruto de roubo ou furto, o consumidor deve adotar medidas de segurança. A recomendação é nunca comprar um aparelho sem que o vendedor lhe dê garantias de que o IMEI do aparelho foi consultado e que não consta nenhum registro de crime. O número, equivalente a uma identidade do celular, pode ser consultado nas configurações, ou discando *#06#.
Condições de uso
Certifique-se de que o aparelho seminovo passou por revisões de peças e funcionalidades, incluindo hardware, software, conectores, memória, e bateria. A estrutura e a configuração de fábrica devem estar preservadas.
Nota fiscal e garantia
Compre smartphones seminovos de vendedores que possam oferecer nota fiscal do produto. Não aceite somente um recibo de compra. Além disso, é importante verificar se há oferta de garantia para falhas técnicas pelo período de, pelo menos, 90 dias.
Durabilidade
A durabilidade de um celular recondicionado depende do estado do produto na compra. Segundo especialistas, dependendo do histórico do aparelho, é possível que permaneça tão funcional quanto um novo.
Para fazer o celular durar mais
Bateria
O ideal é respeitar o ciclo da bateria, deixando que o aparelho descarregue para então recarregá-lo, e evitar cargas picotadas. Além disso, cabos e carregadores de baixa qualidade também interferem na vida útil da bateria. Dê preferência a itens homologados pela Anatel e até mesmo pelas fabricantes.
Tela e carcaça
Película e capa são acessórios fundamentais para preservar a tela e a estrutura física do aparelho, protegendo contra arranhões e até quebras, em caso de quedas.
Sistema operacional
Os fabricantes fazem atualizações periódicas dos sistemas, o que influencia diretamente na performance do aparelho e na forma como os aplicativos operam. Os usuários devem ficar atentos ao armazenamento do smartphone, para que haja espaço para as atualizações.
Memória
Na hora de comprar o aparelho, é importante entender o perfil de consumo, para que o celular tenha uma quantidade de armazenamento suficiente para um bom tempo de uso. Às vezes, o usuário pode achar que existe um problema no smartphone, mas ele está apenas com a memória sobrecarregada, o que impacta na performance.
Limpeza
Manter o aparelho limpo e evitar a exposição a líquidos e outros componentes, como poeira e até areia de praia, também ajudam a aumentar a vida útil.
Fonte: André Gildin, da consultoria de Inovação e Transformação Digital RKKG
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