Economia
Puxada pelos combustíveis, inflação oficial fecha agosto em 0,87%; maior índice para o mês desde ano 2000
O indicador acumula altas de 5,67% no ano e de 9,68% nos últimos 12 meses, o maior acumulado desde fevereiro de 2016.
A inflação calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do país, ficou em 0,87% em agosto, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Puxada pelo aumento do preço da gasolina, esta foi a maior taxa para um mês de agosto desde 2000, embora levemente abaixo dos 0,96% registrados em julho.
Com o resultado, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 9,68%, a mais alta desde fevereiro de 2016, quando ficou em 10,36%. No ano, o IPCA acumula alta de 5,67%.
Desde março, o indicador acumulado em 12 meses tem ficado cada vez mais acima do teto da meta estabelecida pelo governo para a inflação deste ano, que é de 5,25%.
O IBGE destacou que, em agosto, o indicador acumulado em 12 meses ficou acima de 10% em 8 das 16 regiões pesquisadas.
Inflação disseminada
A inflação está cada vez mais disseminada, ou seja, atingindo cada vez mais itens de consumo do brasileiro. Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE para a composição do IPCA, oito registraram aumento de preços em agosto.
Além disso, o índice de difusão do IPCA – que reflete o espalhamento da alta de preços entre os 377 produtos e serviços pesquisados – passou de 64% em julho para 72% em agosto. Desde dezembro do ano passado esse índice não ultrapassava os 70%.
Veja o resultado para cada um dos grupos pesquisados:
– Alimentação e bebidas: 1,39%
– Habitação: 0,68%
– Artigos de residência: 0,99%
– Vestuário: 1,02%
– Transportes: 1,46%
– Despesas pessoais: 0,64%
– Educação: 0,28%
– Comunicação: 0,23%
– Saúde e cuidados pessoais: -0,04%
Gasolina é a ‘vilã’ da inflação em agosto
Os combustíveis foram os ‘vilões’ da inflação em agosto, com destaque para a gasolina. Segundo o IBGE, a alta foi de 2,96%, acima dos 1,24% do mês anterior.
Só a gasolina, com alta de 2,80%, foi responsável por 0,17 ponto percentual da inflação mensal, sendo o item com o maior impacto individual sobre o índice. Etanol (4,50%), gás veicular (2,06%) e óleo diesel (1,79%) também ficaram mais caros no mês.
“O preço da gasolina é influenciado pelos reajustes aplicados nas refinarias de acordo com a política de preços da Petrobras”, disse em nota o analista da pesquisa, André Filipe Guedes Almeida.
Almeida destacou que “o dólar, os preços no mercado internacional e o encarecimento dos biocombustíveis são fatores que influenciam os custos, o que acaba sendo repassado ao consumidor final”. “Em oito meses, o preço da gasolina sofreu alta em sete deles. Somente em abril houve queda no preço dela, de 0,44%”, destacou o pesquisador.
Peso dos transportes volta a superar o da alimentação
Puxado pelos combustíveis, o grupo dos transportes teve alta de 1,46% em agosto, exercendo a maior influência sobre o IPCA entre os grupos pesquisados.
Tiveram alta também, aqui, veículos próprios (1,16%), com alta de 1,98% nos automóveis usados, 1,79% nos novos, e 1,01% em motocicletas. Já os transportes públicos tiveram queda média de 1,21%, sob influência de uma queda de 10,69% nos preços das passagens aéreas.
A pressão dos preços dos combustíveis tem sido tamanha que, em agosto, o peso do grupo de transportes voltou a superar o da alimentação na composição do IPCA e, por isso, o de maior impacto no orçamento doméstico.
De acordo com o analista da pesquisa, os transportes tiveram o maior peso entre os nove grupos pesquisados entre outubro de 2019 a maio de 2020. Desde então, a alimentação vinha sendo a de maior impacto na inflação, representando 19,97% do IPCA, enquanto os transportes respondiam por 19,85%.
Em agosto, porém, os transportes passaram a responder por 20,87% do IPCA, enquanto a alimentação, 20,83%.
Alimentos seguem em alta
Os preços dos alimentos não deram trégua para os consumidores em agosto. Com alta de 1,39% (mais que o dobro da alta de 0,60% registrada em julho), o grupo de alimentação e bebidas foi o segundo de maior impacto sobre a inflação do mês.
Veja as principais altas entre os itens:
– batata-inglesa: 19,91%
– café moído: 7,51%
– frango em pedaços: 4,47¨
– frutas: 3,90%
– carnes: 0,63%
Alta da conta de luz perde força, mas ainda pressiona
Vilã da inflação do mês passado, a alta da energia perdeu força em agosto, subindo 1,10% (em julho, a alta foi de 7,88%) – mas seguiu pressionando as contas.
“O resultado é consequência dos reajustes tarifários em Vitória, Belém e em uma das concessionárias em São Paulo. Além disso, a bandeira tarifária vermelha patamar 2, que adiciona R$ 9,492 a cada 100 kWh consumidos, vigorou nos meses de julho e agosto”, afirmou André Filipe Almeida.
Os preços do gás encanado (2,70%) e do gás de botijão (2,40%) também subiram.
Inflação dos serviços desacelera em agosto
O IPCA calculado especificamente sobre os serviços no país desacelerou de 0,67% em julho para 0,39% em agosto.
Segundo o analista da pesquisa, André Almeida, essa desaceleração se deu por conta das passagens aéreas, cujos preços médios tiveram queda de 10,69% em agosto, depois de terem subido 35,22% no mês anterior. Em 12 meses, o IPCA de serviços acumula alta de 3,93%.
Inflação em alta em todas as regiões
A pesquisa mostra ainda que todas as 16 regiões do país pesquisadas pelo IBGE tiveram inflação em agosto.
A maior taxa foi registrada em Brasília, de 1,40%, influenciada pelas altas nos preços da gasolina (7,76%) e da energia elétrica (3,67%).
Já a menor taxa foi observada na região metropolitana de Belo Horizonte (0,43%), por conta da queda nos preços das passagens aéreas (-20,05%) e da taxa de água e esgoto (-13,73%).
Para calcular o IPCA de agosto, O IBGE comparou os preços coletados no período de 29 de julho a 27 de agosto de 2021 com os preços vigentes no período de 29 de junho a 28 de julho de 2021.
Meta de inflação e perspectivas
A meta central do governo para a inflação em 2021 é de 3,75%, e o intervalo de tolerância varia de 2,25% a 5,25%. Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic), que foi elevada no início de agosto para 5,25% ao ano.
As estimativas do mercado financeiro já estão longe das metas do BC: na última pesquisa Focus, que reúne as projeções dos analistas, a inflação esperada para este ano já chegava a 7,58%.
Já a expectativa dos analistas para a taxa Selic no fim do ano está atualmente em 7,63%, o que pressupõe que haverá novas altas nos próximos meses.
Na ata de sua última reunião, o Comitê de Política Monetária do Banco Central avaliou que a inflação ao consumidor continua se revelando “persistente”, indicando uma nova alta de um ponto percentual no juro básico da economia em sua próxima reunião, marcada para 21 e 22 de setembro.
Para 2022, a inflação também dá mostras de estar fora do esperado: o mercado financeiro estima uma taxa de 3,94%. No ano que vem, a meta central de inflação é de 3,5% e será oficialmente cumprida se oscilar de 2% a 5%.
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