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Economia

PNAD Contínua 2020: queda na ocupação eleva transferências de renda no rendimento domiciliar

Caiu a proporção de domicílios que recebiam o Bolsa Família (de 14,3% para 7,2%), pois parte dos beneficiários passou a receber o Auxílio Emergencial.

O número de pessoas com outros rendimentos saltou de 16,4 milhões em 2019 para 30,2 milhões. (Foto: Vitor Jubini)

De 2019 a 2020, a proporção de domicílios com pessoas recebendo outros programas sociais saltou de 0,7% para 23,7%, aumentando em todas as regiões, sobretudo no Norte (0,5% para 32,2%) e Nordeste (0,8% para 34,0%). Isso se deveu ao Auxílio Emergencial, criado pelo governo federal devido à pandemia do coronavírus e destinado a trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados. Na Pnad Contínua 2020, este benefício entrou na rubrica de “outros rendimentos”, que engloba rendimentos provenientes de programas sociais, aplicações financeiras, seguro-desemprego, seguro-defeso etc.

Caiu a proporção de domicílios que recebiam o Bolsa Família (de 14,3% para 7,2%), pois parte dos beneficiários passou a receber o Auxílio Emergencial. Já a proporção de domicílios que recebiam BPC-LOAS passou de 3,5% para 3,1% no período.

O número de pessoas com outros rendimentos saltou de 16,4 milhões em 2019 para 30,2 milhões (de 7,8% para 14,3% da população) em 2020, enquanto o de pessoas com rendimento de trabalho caiu de 92,8 milhões para 84,7 milhões (de 44,3% para 40,1% da população). Esta queda está relacionada à redução da população ocupada, em 2020. Além disso, pela primeira vez, desde 2012, o grupo dos outros rendimentos superou o das pessoas que recebiam aposentadoria e pensão (26,2 milhões ou 12,4%).

De 2019 para 2020, os outros rendimentos ganharam participação na composição do rendimento domiciliar per capita no Brasil, passando de 3,4% para 7,2%. Já o peso do rendimento de trabalho caiu de 74,4% para 72,8%. Também caíram, no período, os rendimentos de aposentadoria ou pensão (de 18,7% para 17,6%), aluguel e arrendamento (de 2,4% para 1,5%) e pensão alimentícia, doação ou mesada (de 1,2% para 0,8%).

O rendimento médio real de todas as fontes caiu 3,4%, passando de R$2.292 em 2019 para R$2.213 em 2020. O maior valor estava no Sudeste (R$2.575) e o menor, no Nordeste (R$1.554), a única região onde não houve queda.

O rendimento de outras fontes caiu 15,4%, baixando ao menor valor (R$1.295) desde 2012. Dentre as categorias que compõem o rendimento proveniente de outras fontes, o item aposentadoria ou pensão, mesmo com retração recorde de 5,1%, manteve-se como o de maior média em 2020 (R$1.919). Já o valor dos outros rendimentos (R$678) cresceu 12,3% em relação a 2019, a maior expansão anual; porém, frente a 2012, essa estimativa ficou praticamente estável.

Por outro lado, o rendimento médio mensal real habitualmente recebido de todos os trabalhos aumentou 3,4% de 2019 para 2020, chegando a R$2.447. A saída de 8,1 milhões de pessoas da população ocupada, no período, elevou essa média.

Já o rendimento médio mensal real domiciliar per capita caiu 4,3% em 2020, chegando a R$1.349. O rendimento per capita nos domicílios que recebiam outros programas sociais aumentou 12,2% entre 2019 e 2020, passando de R$688 para R$772.

Em 2020, as pessoas do 1% melhor remunerado (rendimento médio domicilia per capita de R$15.816) recebiam 34,9 vezes o rendimento dos 50% com os menores rendimentos (rendimento médio de R$453). Em 2019, esta razão chegou a 40 vezes, maior valor da série.

O índice de Gini do rendimento médio domiciliar per capita passou de 0,544 em 2019 para 0,524 em 2020. O Nordeste manteve o maior Gini em 2020 (0,526) e o Sul, o menor (0,457). Entre 2019 e 2020, o Gini caiu em todas as regiões, sobretudo no Norte e Nordeste, onde o Auxílio Emergencial atingiu maior proporção de domicílios.

São informações da Pnad Contínua 2020: Rendimento de todas as fontes, que já incorpora a reponderação da série histórica da pesquisa (nota técnica 3/2021).

Rendimento de trabalho perde participação na renda total

Das 211,1 milhões de pessoas residentes no Brasil em 2020, 128,7 milhões (61,0%) tinham algum tipo de rendimento. A maior proporção estava na Região Sul (65,4%), enquanto Norte e Nordeste tinham os menores percentuais (54,6% e 57,3%, respectivamente). Frente a 2019, apenas o Norte teve variação positiva, passando de 53,4% para 54,6% no período.

Em 2020, 40,1% da população residente (84,7 milhões) tinham rendimento do trabalho e 28,3% (59,7 milhões) tinham rendimento proveniente de outras fontes. Frente a 2019, houve redução da parcela correspondente ao rendimento do trabalho, que era de 44,3% (92,8 milhões) no ano anterior, e aumento do peso do rendimento de outras fontes, que correspondia a 23,6% (49,5 milhões). Essa tendência ocorreu em todas as regiões.

O Sul permanecia com o maior percentual de pessoas com rendimento de trabalho (46,0%). Já o Nordeste registrou, pela primeira vez, um percentual de pessoas com rendimento de trabalho (32,3%) menor que o daquelas que recebiam de outras fontes (32,8%).

Número de pessoas com outros rendimentos vai de 16,4 a 30,2 milhões, em um ano

O número de pessoas com outros rendimentos (seguro-desemprego/seguro-defeso, programas sociais do governo – inclusive o Auxílio Emergencial–, rendimentos de poupança etc.) quase dobrou de 2019 para 2020, o primeiro ano da pandemia, indo de 16,4 milhões (7,8% da população) para 30,2 milhões (14,3%). Pela primeira vez na série, esse grupo superou o das pessoas que recebiam aposentadoria e pensão (26,2 milhões ou 12,4%), se tornando a principal categoria na composição dos rendimentos de outras fontes. Em seguida, vinham aluguel e arrendamento (1,3%) e pensão alimentícia, doação ou mesada de não morador (1,7%).

No Norte (17,5%), Nordeste (19,7%) e Centro-Oeste (12,1%), o percentual dos que recebiam outros rendimentos superou o dos que recebiam de outras fontes que não o trabalho.

Rendimento de todas as fontes cai 3,4%, mas Nordeste tem aumento

Entre 2019 e 2020, o rendimento médio real de todas as fontes (que inclui trabalho e outras fontes) caiu 3,4%, passando de R$2.292 para R$2.213. O maio valor foi registrado na Região Sudeste (R$2.575), seguida por Centro-Oeste (R$2.466) e Sul (R$2.441), enquanto o menor foi verificado no Nordeste (R$1.554). De 2019 para 2020, a queda desse rendimento ocorreu principalmente no Sudeste (4,7%), Sul (4,3%) e Centro-Oeste (3,3%). A região Nordeste foi a única que não teve queda, passando de R$1.538 (2019) para R$1.554 (2020).

Rendimentos de outras fontes cai ao menor valor desde 2012

Em 2020, o rendimento de outras fontes caiu 15,4%, seu menor valor (R$1.295) desde 2012. O movimento de queda ocorreu em todas as regiões, principalmente, no Sudeste, Sul e Centro-Oeste, onde as perdas foram de 19,6%, 13,2% e 21,0%, respectivamente.

Entre todas as categorias que compõem o rendimento de outras fontes, a aposentadoria ou pensão, mesmo com retração recorde de 5,1%, manteve-se como o de maior média em 2020 (R$1.919). Em todas as regiões, a aposentadoria ou pensão era a categoria de maior valor, variando de R$1.540 no Norte a R$2.268 no Centro-Oeste. Regionalmente, a perda de valor foi generalizada, alcançando 10,7% no Norte e 8,8% no Centro-Oeste.

Já o valor dos outros rendimentos (R$678) cresceu 12,3% ante 2019. Norte e Nordeste tiveram ganhos expressivos, de 47,8% e 55,0%, respectivamente. No Norte, o valor médio passou de R$435 em 2019 para R$643 em 2020; no Nordeste, foi de R$400 para R$620. Por outro lado, no Sudeste e no Sul, esse tipo de rendimento caiu 16,5% e 5,0%, respectivamente.

Os rendimentos provenientes de aluguel e arrendamento tiveram valor médio de R$1.622 e também caíram ante 2019 (5,1%) e 2012 (9,7%). A pensão alimentícia, doação ou mesada de não morador totalizavam em média R$646, mesmo valor de 2019 e 5,2% acima de 2012.

Valor do rendimento de trabalho cresce 3,4%

O rendimento médio mensal real habitualmente recebido de todos os trabalhos (calculado para as pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência) foi de R$2.447 em 2020, 3,4% maior que o registrado em 2019 (R$2.366). Esse aumento explica-se com a saída de 8,1 milhões de pessoas da população ocupada, no período, indicando que aqueles que continuaram ocupados tinham maior rendimento do trabalho.

Em relação a 2012, quando a estimativa era de R$2.269, o crescimento foi de 7,8%. As Regiões Nordeste (R$1.751) e Norte (R$1.814) registraram os menores valores, e Sudeste (R$2.793), Centro-Oeste (R$2.651) e Sul (R$2.611), os maiores.

Com redução da população ocupada, massa de rendimento do trabalho cai 5,6%

Em 2020, o rendimento habitualmente recebido de todos os trabalhos resultou em uma massa mensal de rendimento de aproximadamente R$207,4 bilhões, 5,6% menor que a estimada para 2019. Frente a 2012, a massa de rendimento cresceu 5,5%.

Dentre os fatores que ajudam a explicar essa queda está a forte redução da população ocupada (queda de 8,7%), chegando ao menor contingente da série (84,7 milhões). Em relação a 2012, quando a população ocupada era de 86,7 milhões, a redução foi de 2,2%.

O Sudeste continuou com a maior massa mensal de rendimento em 2020 (R$107,6 bilhões), seguida pela Região Sul (R$36,2 bilhões). A menor massa era a da Região Norte (12,1 bilhões). Em todas as regiões, houve queda da massa de rendimento do trabalho entre 2019 e 2020, com a redução da população ocupada, sobretudo no Nordeste (11,8%) e Sudeste (8,8%).

Distribuição do rendimento de trabalho é mais desigual no Nordeste

O índice de Gini do rendimento médio mensal real habitualmente recebido de todos os trabalhos foi de 0,500 em 2020, inferior ao de 2019 (0,506). Mais uma vez, a redução do contingente de ocupados, sobretudo dos trabalhadores por conta própria, domésticos e empregados sem carteira, pode ter tornado a distribuição de rendimento do trabalho um pouco menos desigual.

As Regiões Sul (0,436) e Centro-Oeste (0,476) apresentaram os menores índices e a Nordeste, o maior (0,532). A região Nordeste também foi a única a registrar variação positiva.

Auxílio emergencial eleva o peso dos outros rendimentos na renda domiciliar

Em 2020, o rendimento de todos os trabalhos compunha 72,8% do rendimento médio mensal real domiciliar per capita, pouco abaixo de 2019 (74,4%). Os 27,2% provenientes de outras fontes se dividiam em aposentadoria ou pensão (17,6%), aluguel e arrendamento (1,5%), pensão alimentícia, doação ou mesada de não morador (0,8%) e outros rendimentos (7,2%).

Destaca-se o crescimento da participação de outros rendimentos, que passou de 3,4% em 2019 para 7,2% do rendimento domiciliar per capita em 2020. Essa categoria abarca, além do rendimento de aplicações financeiras, seguro-desemprego e seguro-defeso etc., os programas sociais como Programa Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada (BPC-LOAS) e o Auxílio Emergencial, criado para fazer frente à pandemia do novo coronavírus (COVID 19).

Entre as Grandes Regiões, o rendimento de todos os trabalhos variou de 63,4%, na Região Nordeste, a 77,7%, na Região Centro-Oeste. Já a rubrica outros rendimentos foi de 4,4% no Sul a 13,7% no Nordeste. Com o pagamento do auxílio emergencial, a participação dessa categoria passou de 5,1% para 12,5% no Norte, e de 5,5% para 13,7% no Nordeste.

Proporção de domicílios que recebem outros programas sociais sobe de 0,7% para 23,7%

Com a criação e inclusão do Auxílio Emergencial na categoria outros programas sociais, o percentual de domicílio com este tipo de rendimento passou de 0,7% em 2019 para 23,7% em 2020. Esse aumento aconteceu em todas as grandes regiões.

Houve redução da proporção de domicílios que recebiam o Programa Bolsa Família (de 14,3% para 7,2%), uma vez que parte dos seus beneficiários passou a receber o Auxílio Emergencial. Já a proporção de domicílios que recebiam BPC-LOAS passou de 3,5% para 3,1% no período.

As Regiões Norte e Nordeste tinham as maiores proporções de domicílios com beneficiários de programas sociais: 12,9% e 14,2%, respectivamente, recebiam rendimento do Programa Bolsa Família; 5,0% e 4,5% recebiam rendimento do BPC-LOAS; e 32,2% e 34,0% recebiam rendimento de outros programas sociais, sobretudo Auxílio Emergencial.


Rendimento médio mensal real domiciliar per capita cai 4,3%

O rendimento médio mensal real domiciliar per capita foi de R$1.349, em 2020, 4,3% menor que o estimado em 2019 (R$1.410). As Regiões Norte e Nordeste tinham os menores valores (R$896 e R$891), apesar do aumento de 2,3% e 0,9% no período. A Região Sudeste se manteve com o maior rendimento domiciliar per capita médio (R$1.623), seguida pela Região Sul (R$1.597). Entre 2019 e 2020, houve redução do rendimento médio nas Regiões Sudeste (6,0%), Sul (6,3%) e Centro-Oeste (5,2%).

Rendimento per capita nos domicílios que recebiam outros programas sobe 12,2%

O rendimento médio mensal real domiciliar per capita nos domicílios que recebiam o Programa Bolsa Família foi de R$379 em 2020, e naqueles que não recebiam foi de R$1.453. Para os domicílios que recebiam o BPC-LOAS o rendimento médio domiciliar per capita foi de R$792 e para os que não recebiam, R$1.368. Já nos domicílios que recebiam outros programas sociais, o rendimento médio foi de R$772, frente a R$1.565 naqueles que não recebiam. Entre 2019 e 2020, cresceu 12,2% o rendimento dos domicílios que recebiam outros programas sociais.

Rendimento dos 50% mais pobres aumenta 3,9% em relação a 2019

Na estratificação em classes de percentual das pessoas em ordem crescente de rendimento domiciliar per capita em 2020, metade da população com menores rendimentos recebeu, em média, R$453. Se comparado a 2019, esse rendimento foi 3,9% mais elevado (R$436).

A Região Sul (R$661) tinha a maior média de rendimento domiciliar per capita para a metade da população com menores rendimentos em 2020, e as Regiões Norte (R$325) e Nordeste (R$301), as menores. No entanto, entre 2019 e 2020, apenas as Regiões Norte e Nordeste tiveram aumento neste indicador (17,8% e 16,2%, respectivamente), o que pode ter relação com o recebimento do Auxílio Emergencial.

Na comparação entre 2019 e 2020, houve aumento do rendimento domiciliar per capita médio nas classes de rendimento da primeira metade da distribuição, principalmente nas classes de mais de 5% até 10% (17,6%) e de mais de 10% até 20% (9,8%). A partir da classe de mais de 40% até 50% o rendimento domiciliar per capita médio começa a se reduzir no período, sobretudo no último percentil (queda de 9,4%).

Renda do 1% melhor remunerado é 34,9 vezes o rendimento dos 50% que ganham menos

As pessoas que estavam no último percentil de rendimento, ou seja, aquelas que faziam parte do 1% da população com rendimentos mais elevados (cujo rendimento médio mensal real era de R$15.816) recebiam, em média, 34,9 vezes o rendimento da metade da população com os menores rendimentos (cujo rendimento médio mensal real era de R$453). Em 2019, esta razão era de 40 vezes, maior valor da série.

Queda do Gini reflete o Auxílio Emergencial, principalmente no Norte e Nordeste

O índice de Gini do rendimento médio mensal real domiciliar per capita passou de 0,544 em 2019 para 0,524 em 2020.
O Nordeste manteve o maior índice de Gini em 2020 (0,526) e o Sul, o menor (0,457). Entre 2019 e 2020, a desigualdade medida pelo Gini se reduziu em todas as regiões, sobretudo no Norte e Nordeste, regiões com maior proporção de domicílios recebendo Auxílio Emergencial.

Massa de rendimento domiciliar per capita cresce apenas no Norte e Nordeste

A massa de rendimento mensal real domiciliar per capita foi de R$284,6 bilhões em 2020, inferior à de 2019 (R$295,2 bilhões). O Sudeste concentrava 50,7% dessa massa (R$144,4 bilhões). Entre 2019 e 2020, apenas o Norte e o Nordeste tiveram aumento na massa de rendimento domiciliar per capita (3,6% e 1,4%). A maiores quedas foram no Sul (-5,7%) e Sudeste (-5,2%).

A parcela dos 10% com os menores rendimentos detinha 0,9% da massa, enquanto os 10% com os maiores rendimentos concentravam 41,6%. Este último grupo possuía uma parcela da massa de rendimento quase equivalente à dos 80% da população com os menores rendimentos (43,0%). Contudo, entre 2019 e 2020, o grupo dos 10% com maiores rendimentos perdeu participação (-1,2 p.p.), enquanto os décimos de menor rendimento tiveram variação positiva.


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