Economia
Mais de 100 mil empresas fecharam as portas no comércio no 1º ano de pandemia, informa IBGE
A maior retração na ocupação se deu no segmento varejista de tecidos, vestuário e calçados com cerca de 176,6 mil trabalhadores excluídos dessas atividades em 2020.
O comércio brasileiro amargou no primeiro ano de pandemia a maior queda no número de postos de trabalho e de empresas desde 2007, início da série histórica do IBGE. É o que apontam os dados da Pesquisa Anual de Comércio (PAC), divulgada pelo instituto nesta quarta-feira,17/08.
O número de empresas retraiu 106,6 mil (7,8%) em 2020 em relação a 2019. Ao todo foram registradas 1,34 milhão de companhias em 2020, o que indica uma volta ao contingente de treze anos atrás (2007), quando o total de empresas brasileiras no setor era de 1,33 milhão.
— Para efeitos de comparação, em 2015, ano de recessão econômica, a queda foi de 16 mil empresas. No ano seguinte, ainda no biênio da crise, houve retração de mais 25 mil. O que temos durante o primeiro ano da pandemia é uma queda com efeito quatro vezes maior. Esse número de empresas no comércio já vinha sendo reduzido por própria estratégia de algumas delas, mas a crise econômica potencializou esse comportamento — afirma a gerente de Análise Estrutural do IBGE, Synthia Santana.
Já a ocupação caiu 4% em 2020 em relação ao ano anterior, totalizando 9,8 milhões de profissionais no setor naquele ano. Isso significa que a mão de obra ocupada no comércio retornou a patamares de uma década atrás. É o menor contingente empregado no setor desde 2011, quando a mão de obra no comércio era de 9,6 milhões de pessoas.
Ao todo foram perdidos 404,1 mil postos no comércio. Cerca de 90,4% desse total (ou 365,4 mil) em 2020 ocorreram no varejo, cujas vendas destinam-se ao consumidor final. Este setor teve a maior queda de ocupação da série histórica.
A maior retração na ocupação se deu no segmento varejista de tecidos, vestuário e calçados. Cerca de 176,6 mil trabalhadores deixaram a ocupação nessa atividade em 2020, uma queda de 15,3% em relação ao ano anterior.
Segundo o IBGE, a pandemia de Covid-19 afetou a capacidade de planejamento das famílias, empresas e governos, o que impactou o consumo e trouxe impactos para o comércio, uma das três grandes categorias econômicas do PIB pela ótica da oferta.
“A necessidade isolamento social para mitigar o avanço do contágio, bem como a ausência de perspectivas sobre o fim da doença e as sucessivas de ondas de contaminação afetaram de forma mais intensa as atividades que exigiam mais contato com o público”.
Digitalização das empresas
Com o fechamento dos estabelecimentos considerados não essenciais na pandemia, as varejistas mais dependentes do contato presencial investiram na digitalização para alavancar as vendas.
Segundo o IBGE, o número de empresas que declararam realizar vendas pela internet mais que dobrou: passou de 23,181 mil em 2019 para 56,788 mil em 2020.
Somente duas atividades do varejo tiveram um ligeiro aumento da ocupação em 2020 em relação ao ano anterior, sendo ambas consideradas essenciais durante a pandemia: a de hipermercados e supermercados (incremento de 1,8 mil pessoas) e a de produtos farmacêuticos, perfumaria, cosméticos e artigos médicos, ópticos e ortopédicos (aumento de 318 pessoas).
Setor atacadista em destaque
Na contramão do varejo, apenas o segmento atacadista registrou aumento significativo na ocupação e no número de empresas.
A ocupação cresceu 2,2% neste segmento, enquanto o comércio varejista e de veículos, peças e motocicletas registraram perdas de 4,8% e 8,5%, respectivamente. O resultado foi puxado pelo aumento de postos no comércio por atacado de materiais de construção, de produtos alimentícios e bebidas e de mercadorias em geral.
Já o número de empresas que atuam no atacado subiu 1,3%, enquanto o comércio varejista e de veículos, peças e motocicletas amargaram retração de 8,7% e 9,9%.
— O atacado foi um pouco mais resiliente diante do primeiro ano de pandemia. As exportadoras, por negociarem diretamente com outras empresas ou entidades, fazem parte do atacado. O fato de, em 2020, o comércio internacional ter apresentado um comportamento mais expressivo também eleva o setor atacadista a resultados que divergem um pouco do que foi exibido pelo varejo, que teve queda no número de empresas e de pessoas ocupadas — explica a pesquisadora Synthia Santana.
O setor atacadista foi responsável por 47,7% do total da receita operacional líquida do comércio em 2020 (R$ 4,3 trilhões), atingindo sua maior contribuição em termos percentuais e superando a participação historicamente mais elevada do setor varejista.
O ganho de receita foi puxado pelos setores mais demandados ao longo da pandemia, como o comércio por atacado de matérias-primas agrícolas e animais vivos, de hiper e supermercados e venda no atacado de produtos alimentícios e bebidas.
No mesmo período, a contribuição do comércio varejista para a receita líquida ficou em 43,9%, menor participação dessa atividade desde 2014. Já a contribuição do segmento de comércio de veículos, partes e peças para a receita foi de 8,7% em 2020, menor nível desde 2011.
— A venda de veículos é bastante influenciada pela capacidade de renda das famílias. Em períodos de recessão, em que as famílias possuem menor capacidade de renda, é muito mais difícil fazer uma aquisição de um veículo onde você passa cinco anos realizando o pagamento de prestações. Além disso, tem uma mudança de comportamento das famílias que substituíram a compra de carros por outros meios de transporte — completa Synthia.
A informação é do jornal O Globo.
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