Economia
IBGE: 51% das empreendedoras brasileiras são responsáveis pelo sustento da casa
Seis anos atrás, esse percentual de mulheres donas de empresas que também eram as principais responsáveis pelo sustento da casa era de 41%
Mais da metade das empreendedoras brasileiras são também chefes de domicílio. O percentual alcançou 51% no ano passado, o maior nível desde 2016, quando o levantamento começou a ser feito pelo Sebrae, com base em dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Seis anos atrás, esse percentual de mulheres donas de empresas que também eram as principais responsáveis pelo sustento da casa era de 41%.
Renata Malheiros, coordenadora de Empreendedorismo Feminino do Sebrae, considera uma vitória das mulheres, que ainda enfrentam barreira cultural para se impor no mundo dos negócios.
— Os obstáculos para as mulheres que querem empreender são muito maiores do que o enfrentado pelos homens. Não é mimimi — afirma.
Há duas diferenças culturais básicas. A primeira delas, diz Renata, é que empreender não costuma fazer parte do sonho das meninas, que são educadas com crenças limitantes sobre o que podem ou não fazer.
Ela lembra que não é raro uma mulher de negócios ter uma rede de relacionamentos de trabalho (networking) menor, por evitar se expor ou tomar a iniciativa de contato com homens, mesmo quando eles podem se tornar um importante parceiro nos negócios.
Cuidado com a casa
Outro fator limitante é o fato de as mulheres ainda hoje terem de dedicar mais tempo no cuidado com a casa, os filhos e família do que os homens.
Numa pesquisa feita no ano passado, o Sebrae descobriu que as mulheres dedicam em média, 17% menos horas semanais aos negócios do que os homens, por estarem envolvidas com a chamada “economia de cuidados”. Durante a pandemia, com as crianças sem aula, a situação piorou, porque as mulheres deixaram de ter o suporte de escolas e creches.
Acumular o sustento da casa e o cuidado com os filhos dá o tom do trabalho de Débora de Freitas Mina, 41 anos, dona da clínica de estética Encantar Beleza e Bem-estar, no bairro da Água Rasa, em São Paulo.
Mudança de foco
Esteticista há 20 anos, ela não pensou em empreender, até que a clínica onde ela trabalhava mudou de foco para medicina estética e deixou de prestar os serviços que Débora fazia, como micropigmentação, design de sobrancelhas, depilação e limpeza de pele.
— Uma das clientes havia fechado um pacote e queria terminar de fazer. A pedido dos donos da clínica, o jeito foi atendê-la na minha própria casa — conta Débora.
A demanda das ex-clientes levou Débora a abrir sua própria clínica, que hoje já ocupa quatro salas, emprega duas esteticistas e ainda oferece serviço de fisioterapia, em associação com uma profissional da área.
— Fiz vários cursos, mas ainda hoje não me sinto preparada para a gestão. Estava acostumada apenas a prestar serviços e deixar as clientes satisfeitas — diz Débora.
Durante a empreitada, Débora se divorciou e assumiu sozinha as despesas da casa e dos filhos, hoje com 15 e 9 anos de idade. A empreendedora é a responsável pelos gastos da casa e paga os alugueis da residência e da clínica. A ajuda do ex-marido corresponde apenas a cerca de um terço do aluguel da casa.
A empreendedora ainda se recente por não ter conseguido, por falta de tempo, terminar o curso online de gestão financeira, oferecido pelo Sebrae.
— Acho que fui criada para ser boa dona de casa e funcionária competente, sair no horário e me contentar com o salário, além de cuidar da casa e dos filhos — diz ela.
Apesar de 32 milhões de mulheres tocarem seus negócios, o que coloca o Brasil em sétimo lugar do mundo em número de empreendedoras, elas ainda trabalham pelo menos 10 horas a mais por semana do que os homens em afazeres domésticos e com os filhos.
A divisão desigual do tempo talvez explique o fato de o ganho médio das mulheres empreendedoras ser ainda 16% inferior ao dos homens, apesar de terem grau de escolaridade mais alto em relação aos homens. O último dado, de 2021, mostrou que 68% das empreendedoras têm ensino médio completo ou superior, contra 54% dos homens.
Taxas de juros
Também naquele ano as mulheres pagavam taxas de juros mais altas do que os homens (34,6% ao ano, contra 31,1%), mesmo tendo taxa de inadimplência menor — a média das mulheres era de 3,7% contra 4,2% dos homens.
Renata afirma que o bom empreendedor, tanto homem quanto mulher, precisa colecionar uma série de competências técnicas, e não basta apenas ser bom naquilo que faz. Planejar, calcular custos fixos e variáveis e saber quais legislações devem ser seguidas estão entre os saberes básicos.
— O problema está na competência socioemocional, que ainda atrapalha as mulheres no exercício da liderança, na negociação com terceiros, na formação de rede de contatos e na persuasão. É aí que a cultura costuma dar rasteira nas mulheres — diz ela.
A coordenadora do Sebrae defende medidas sociais que permitam que as mulheres diminuam a sobrecarga de trabalho em casa e vê com bons olhos os grupos de mulheres empresárias, como Mulheres do Brasil e Mulheres Empreendedoras, que oferecem mentoria para que as empresárias de desenvolvam.
— Em rede as mulheres identificam melhor seus problemas e trocam soluções, além de poderem fazer negócios entre si — diz Renata.
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