Economia
FGV mostra que famílias gastaram efetivamente 2,78% a mais com cesta de consumo em 12 meses
O cálculo considera os gastos efetivos feitos pelos consumidores brasileiros, que conseguiram driblar parte dos aumentos de preços.
A inflação oficial no País foi de 4,61% nos 12 meses encerrados em agosto. No entanto, as famílias brasileiras sentiram um aumento efetivo no custo de vida de 2,78% no período, apontou o Índice de Preços dos Gastos Familiares (IPGF), novo índice de inflação desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). O cálculo considera os gastos efetivos feitos pelos consumidores brasileiros, que conseguiram driblar parte dos aumentos de preços na economia através de substituições na cesta de consumo.
“Os recentes resultados apontam para uma sutil reaceleração da inflação interanual a partir da substituição das leituras negativas de julho a setembro do ano passado, no entanto, o IPGF sugere que essa aceleração é menos acentuada que o indicado pelo IPCA”, frisou o relatório do indicador divulgado pela FGV.
O IPGF usa dados do Consumo das Famílias no Sistema de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mensurados e compilados pelo Monitor do PIB da FGV, para atualizar mensalmente o peso dos itens na cesta de produtos e serviços cujos preços são investigados. A intenção é que o índice reflita a inflação a partir de uma cesta de consumo móvel, que se adapte automaticamente às alterações de preferência do consumidor ao longo do tempo.
O Índice de Preços dos Gastos Familiares (IPGF) registrou aumento de 0,03% em agosto, ante uma elevação de 0,23% apurada no mês pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, apurado pelo IBGE).
Com o resultado, o IPGF acumula uma taxa de 2,11% de janeiro a agosto de 2023, enquanto o IPCA ficou em 3,23%.
Embora permaneça em patamar inferior ao da inflação pelo IPCA, a taxa acumulada em 12 meses pelo IPGF acelerou de 2,35% em julho para 2,78% em agosto, impulsionada pelo grupo Transportes, “que apresentava deflação de 4,17% em 12 meses até julho e agora acumula alta de 1,44% em agosto, graças, sobretudo, ao reajuste nos preços dos combustíveis”.
Houve aceleração ainda na taxa em 12 meses do grupo Habitação, de 3,24% em julho para 4,04% em agosto, e de Educação, de 8,13% para 8,35%. O grupo Comunicação manteve a queda acumulada de 7,10%, registrada também no mês anterior.
Os demais seis grupos do IPGF registraram redução em suas taxas em 12 meses na passagem de julho para agosto: Alimentação (de -2,92% para -4,07%), Artigos de Residência (de -3,69% para -4,05%), Vestuário (de 5,60% para 4,23%), Saúde e Cuidados Pessoais (de 11,39% para 10,73%), Despesas Pessoais (de 11,07% para 10,61%) e Serviços Prestados às Famílias e atividades pessoais (de 5,64% para 5,43%).
“Quando, por exemplo, o consumidor substitui arroz por macarrão ou carne vermelha por carne branca, ou ainda deixa de consumir combustível e passa a usar mais o transporte público devido ao aumento de preços, os itens substituídos perdem peso na cesta de consumo das famílias e seus aumentos de preço passam a comprometer menos o custo de vida e vice-versa. Assim, no longo prazo, esse efeito acaba gerando um número menor de inflação”, explica Matheus Peçanha, economista responsável pela pesquisa no Ibre/FGV, em nota oficial.
O novo índice de inflação mostrou piora recente no processo de disseminação de aumentos de preços. O índice de difusão do IPGF – que mostra a proporção de itens com elevações de preços – saiu de 41,3% em julho para 47,8% em agosto.
“No entanto, a difusão ainda é menor que no início do processo de descompressão em dezembro de 2022, quando estava em 73,9% e a análise de sua média móvel de 12 meses indica o aprofundamento da redução do índice de difusão desde junho de 2022, quando o processo inflacionário começou a apresentar sinais de descompressão”, ponderou o relatório da FGV.
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