Economia
Dívida no cartão de crédito rotativo dobra em dois anos e chega a R$ 77 bilhões
Com juros de 440% ao ano, inadimplência salta para quase 50% no mesmo período.
Na mira do governo pelos juros elevados, o rotativo do cartão de crédito tem sido uma das principais linhas de acesso ao financiamento pelos brasileiros. Na prática, os clientes são empurrados para essa modalidade de empréstimo, que tem juros de, em média, 440% ao ano, ao pagar apenas uma parte da fatura do cartão.
Segundo dados do Banco Central (BC), em junho, os brasileiros tinham R$ 77,46 bilhões em dívidas no rotativo do cartão. O número é o dobro de junho de 2021, ou seja, de dois atrás: R$ 38,48 bilhões. Esse é o saldo do rotativo, ou seja, o estoque da dívida. A inadimplência, no mesmo período, saltou de 27,65% para 49,05%.
— Além dessa dívida que mostra o montante total, há também o dinheiro que é concedido todo mês pelos bancos, que está girando em torno de R$ 30 bilhões. É o crédito que vai sendo concedido, e também pago e refinanciado. Só uma parte disso acaba indo para o estoque — explicou o economista Miguel de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Ao não conseguir efetuar a fatura integral do cartão, o banco oferece um valor mínimo de pagamento da dívida. O restante, não pago, é financiado, com cobrança de juros aos clientes no rotativo. O juro mensal, até junho, estava em 15,03% de acordo com o Banco Central.
— Se ele dividir aquela fatura em 12 vezes, ele vai pagar os 440% (na média). O rotativo do cartão de crédito, as pessoas acabam entrando porque fazem muitos parcelamentos. Como há muito parcelamento, isso aumenta a possibilidade de ela não conseguir pagar a fatura total — disse Carla Beni, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Ela também critica o fato de muitos bancos concederem crédito para clientes acima do limite de renda do consumidor.
Sem definição
Na semana passada, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, adiantou, em sessão no Senado, que a discussão com bancos sobre o rotativo do cartão de crédito estava sendo direcionada para a extinção dessa modalidade.
Em contrapartida, segundo ele, o consumidor em inadimplência iria quitar o débito de forma parcelada, com juro de 9% ao mês. O chefe do BC também falou da possibilidade de limitar o parcelamento sem juros. O adiantamento da solução gerou ruídos, contudo, e, oficialmente, Campos Neto diz que ainda não há uma definição sobre o assunto.
Elevado nível de parcelamento
A alta de juros no cartão de crédito, segundo ele, é também explicada pelo elevado nível de parcelamento nas compras, com uma média de 13 parcelas por consumidor. Esse prolongamento aumenta o risco de crédito para as instituições financeiras (considerando o potencial dos consumidores não cumprirão com seus compromissos). A consequência são juros mais elevados.
— Só não podemos esquecer que existe uma boa parcela de ganhos dos bancos nesta modalidade de pagamento rotativo. Precisamos ter muito bom senso nessa decisão, pois afeta toda a cadeia produtiva do país — Luciano Bravo, economista e especialista em crédito internacional.
Desde 2017, após uma mudança no governo Temer que também tentou diminuir os juros do rotativo, quando um cliente passa 30 dias nessa modalidade, os bancos são obrigados a negociar a dívida. Os juros nessa modalidade também giram em torno de 15% ao mês, de acordo com integrantes do governo, o que é praticamente o mesmo do rotativo. Por isso, será preciso elaborar uma saída também para esse parcelado.
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