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Economia

Alimentação em casa sobe 1,4% em março, mas inflação é a menor para o mês desde o Plano Real

Queda dos preços das passagens aéreas e dos combustíveis fizeram o IPCA terminar em 0,07%, segundo o IBGE.

O preço dos alimentos nos supermercados e feiras pesou mais no bolso dos brasileiros em março, primeiro mês de isolamento social em diversas capitais do país. Dados divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE indicam que o grupo terminou o período com alta de 1,13%, ante 0,11% registrado em fevereiro. Apesar da elevação, a inflação para o mês encerrou em 0,07%, a menor para o período desde 1995.

O resultado expõe mais uma dificuldade para as famílias brasileiras. Ao mesmo tempo em que enxergam a queda da renda disponível para o consumo, além do desemprego, o preço dos produtos aumenta nas gôndolas.

O maior peso para alta do grupo de alimentos foi da alimentação no domicílio, com avanço de 1,4%. Produtos como cebola (20,3%), tomate (15,7%), batata-inglesa (8,16%) e ovo (4,6%) tiveram elevação de preços expressiva no período.

A carne, cujo aumento vinha sendo registrado no fim de 2019 por conta do aumento das exportações para a China, registrou queda de preços pelo terceiro mês consecutivo.

Segundo Pedro Kislanov, gerente da pesquisa, em alguns alimentos dois efeitos foram sentidos na alta de preços: restrição de oferta, seja por dificuldades na produção ou por questões climáticas, como também o aumento da demanda dos brasileiros por esses itens, em virtude da pandemia. Ele explica que itens como cenoura e tomate, por exemplo, já vinham apresentando elevação dos custos antes do covid-19.

Na avaliação de Julia Passabom, economista do Itaú, apesar da aceleração do grupo de alimentos em março, o avanço dos preços está dentro da normalidade esperada para essa época do ano, quando questões climáticas impactam a produção de alguns itens. Isso reforça, na avaliação dela, o cenário de inflação baixa no país, principalmente pelos efeitos da pandemia em outros setores.

“Se não fosse o grupo de alimentos, era pra termos uma deflação no mês. Apesar do aumento, o grupo dos alimentos não está tão pressionado, é comum por sazonalidade ter pressões no primeiro trimestre. Foi o que jogou a inflação para o campo positivo”, ressalta.

Julia explica que os repasses da alta do dólar nos últimos meses ainda não chegaram ao consumidor final. A ociosidade da economia, a baixa demanda e a expectativa de inflação baixa colaboram para esse cenário. “O repasse pro consumidor final está limitado, com as leituras até agora, parece limitado para bens industriais. Esses fatores que ajudam, mas é uma luz que devemos deixar acesa”, disse.

Queda nos preços

Apesar da alta dos alimentos, a inflação no menor patamar para o mês de março desde 1995 também foi gerada por efeitos do novo coronavírus na economia. No setor de serviços, altamente impactado, itens como cabeleireiro, transporte por aplicativo e aluguel de veículos, por exemplo, tiveram deflação.

A maior contribuição, no entanto, veio da deflação no grupo de transportes, com um recuo nos preços das passagens aéreas, com queda de 16,75%, e dos combustíveis, com retração de 1,88% nos preços.

Kislanov explicou que os preços já vinham em queda nos últimos meses, por isso ainda não é possível afirmar se o recuo deste mês tem relação com a pandemia do novo coronavírus, que gerou restrições de mobilidade dos brasileiros, impactando diretamente o setor aéreo.

“A variação de março reflete uma coleta de preços que foi feita em janeiro para quem ia viajar de avião no mês de março. Portanto, não podemos afirmar se há relação com a pandemia. Parece que foi pela demanda mesmo”, disse Kislanov.

Para os próximos meses, economistas afirmam que a inflação seguirá controlada e baixa por conta dos efeitos do isolamento social na economia. A deflação em itens do setor de serviços e no grupo de transportes podem gerar deflação a partir de maio.

“Outros grupos devem compensar essa alta dos alimentos. Podemos ver deflação nos próximos meses”, alerta Daniel Xavier Francisco, economista do Banco ABC.

Para João Maurício Rosal, economista-chefe da Guide Investimentos, o crescimento menor do que o esperado dos preços, acompanhado de uma forte queda nas projeções de crescimento da atividade, abre espaço para cortes adicional da Selic, considerada a taxa básica de juros, hoje em 3,75%.

“As condições locais da economia e da inflação convidam para mais cortes, mas cortes maiores poderiam acarretar sobre crédito local, gerando mais fuga de capital e agravando uma piora maior (da economia). Quando colocamos na balança, há espaço pra corte gradativo de 50 pontos agora e outros 50 mais a frente”, acrescentou.

Para 2020, os economistas das instituições financeiras projetam uma inflação de 2,72%, segundo a último Boletim Focus do Banco Central. A meta estipulada para este ano é uma inflação de 4%, um pouco abaixo da registrada em 2019. No ano, o indicador acumula alta de 0,53% e, nos últimos 12 meses, 3,30%.


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