Brasil
Tortura em presídios cresce mais de 37%, aponta Pastoral Carcerária
Foram registrados 223 casos de janeiro de 2021 a julho de 2022, sendo 3 no Amazonas.
Os casos de tortura no sistema prisional brasileiro aumentaram 37,6% de janeiro de 2021 a julho de 2022 na comparação com igual período de 2019 e 2020, aponta relatório da Pastoral Carcerária Nacional, da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Foram registrados 223 casos no documento Vozes e Dados da Tortura em Tempos de Encarceramento em Massa, divulgado nesta quarta-feira (18). Na edição anterior, foram 162 registros. Entre as denúncias reunidas, estão situações de violência física, falta de alimentação e de água e ausência de atendimento médico.
Quanto à localização federativa do espaço palco das violências, a Pastoral Carcerária Nacional abriu, no período mencionado, 2 (0,89%) casos do Amapá, 3 (1,34%) casos do Amazonas, 7 (3,14%) casos da Bahia, 11 (4,93%) casos do Ceará, 6 (2,69%) casos do Distrito Federal, 4 (1,79%) casos do Espírito Santo, 17 (7,62%) casos de Goiás, 9 (4,03%) casos do Maranhão, 31 (13,90%) casos de Minas Gerais, 4 (1,79%) casos de Mato Grosso do Sul, 7 (3,14%) casos do Mato Grosso, 4 (1,79%) casos do Pará, 1 (0,44%) caso da Paraíba, 8 (3,58%) casos do Paraná, 3 (1,34%) casos de Pernambuco, 2 (0,89%) casos do Piauí, 8 (3,58%) casos do Rio de Janeiro, 13 (5,82%) casos do Rio Grande do Sul, 3 (1,34%) Casos de Rondônia, 1 (0,44%) caso de Roraima, 6 (2,69%) casos de Santa Catarina, 71 (31,83%) casos de São Paulo, 1 (0,44%) caso de Sergipe, 1 (0,44%) caso do Tocantins.
A pesquisa não recebeu denúncias dos estados do Acre, Alagoas e Rio Grande do Norte.
“O último relatório de tortura foi feito durante a pandemia de covid-19 e, nesse período, muitos familiares e a assistência religiosa não conseguiam entrar no cárcere. Elas estavam sendo barradas. A gente acredita que a volta dessas visitas, tendo em vista que muitas denúncias chegam pelos agentes da pastoral e pelos familiares, foi um dos fatores que fizeram aumentar as denúncias. Recebemos mais casos”, explica Carol Dutra, do setor jurídico da Pastoral Carcerária.
A maioria dos casos denunciados pela pastoral está em São Paulo. Foram 71 registros, o que representa 31,83% do total. Em seguida está Minas Gerais, com 31 casos. Nos relatórios anteriores, o estado, que tem a maior população carcerária do país, com mais de 200 mil detentos, também estava na liderança das denúncias.
A entidade chama atenção que o número reduzido de denúncias, ou mesmo a ausência de casos em alguns estados, não representa ausência de violações ou preservação dos direitos dos presos nesses locais. “Pelo contrário, o baixo números de casos pode ser resultado de atmosferas punitivas que circundam o espaço prisional, que ameaçam e alimentam o medo dos/as denunciantes que são coagidos/as a ficarem em silêncio”, alerta o documento.
Tipos de violações
A agressão física é o tipo de violação mais frequentes nos presídios, mais da metade das denúncias apresentadas são de socos, tapas, chutes, tiros, pauladas, entre outras. Outra comportamento frequente, com 81 casos (36,32%), é o tratamento humilhante ou degradante, como manter pessoas presas sentadas no chão debaixo de sol quente, impedir o banho de sol por dias, semanas e até meses, manter as pessoas presas dormindo no chão, aplicar castigo coletivo, entre outras.
Também são comuns violações contra familiares, como negar direitos como de visita, de envio de itens básicos de sobrevivência, direito de envio de cartas e de entrada de determinados alimentos, humilhações e xingamentos.
“Infelizmente a ausência do Estado é recorrente em qualquer relatório, seja de qualquer ano. A gente recebe poucas respostas, elas costumam demorar muito tempo e, quando a gente recebe, eles [instituições] alegam que as respostas são genéricas porque a gente mantém as vítimas no anonimato, por uma questão de segurança”, aponta Carol.
Dos 223 casos, portanto, 37 foram monitorados por agentes locais da entidade e, por isso, não constam na análise das respostas institucionais. Foram encaminhadas 186 denúncias a órgãos públicos, 31 não tiveram resposta. “O número é assustador, mas não surpreende. A Pastoral Carcerária vem relatando ao longo dos anos a insensibilidade dos órgãos da execução penal na apuração das denúncias enviadas”, aponta o documento.
A entidade também critica o descrédito ou valorização dos relatos apresentados. Em 80% dos casos, a instauração de procedimento interno é a medida adotada pelo órgão de controle. A pastoral avalia que essa dinâmica é natural do ponto de vista burocrático, mas deve ser repensada quanto a preferência em ouvir “a própria Administração, ignorando as vítimas”.
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