Brasil
Seca histórica na Amazônia estava prevista e impactos poderiam ter sido reduzidos, diz professor da Universidade de São Paulo
“Essa seca já estava prognosticada desde meados de junho deste ano. Então, já [deveria] haver um plano de redução desses impactos para [a] mitigação de impactos”, disse.
A seca histórica que o estado do Amazonas registrou em outubro já estava prevista em análises meteorológicas, segundo o professor do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP) Augusto José Pereira Filho, entrevistado pela Sputnik Brasil, de acordo com publicação no site do Jornal do Brasil.
Para ele, impactos na energia elétrica — que podem atingir todo o país — e, principalmente, na vida de milhares de indígenas e ribeirinhos da região amazônica, poderiam ter sido antecipados e reduzidos. “Essa seca já estava prognosticada desde meados de junho deste ano. Então, já [deveria] haver um plano de redução desses impactos para [a] mitigação de impactos”, disse.
“A meteorologia hoje é dotada de ferramentas muito importantes e, infelizmente, parece que ainda não aprendemos a antecipar essas situações de maneira apropriada. Com isso, toda essa população, que depende da água e dos rios para o transporte, acaba sofrendo de forma bastante dolorosa, e não deveria ser assim.”
A seca fez o rio Negro atingi o nível mais baixo em 121 anos de medições em Manaus (AM).
Segundo a Defesa Civil do Amazonas, maior estado em extensão territorial do Brasil, mais de 633 mil pessoas foram atingidas pela seca e 59 municípios estão em situação de emergência.
No interior, algumas cidades têm problemas de abastecimento de água potável, alimentos e insumos.
O meteorologista da Tempo OK e mestre em ciências atmosféricas Caetano Mancini explica que a seca do Norte geralmente começa em junho e vai até meados de outubro, mas a região tem tido chuvas abaixo da média e secura por mais tempo do que o previsto, em decorrência do fenômeno do El Niño. “Em condições normais, as chuvas já deveriam ter começado a retornar.”
“A previsão é que o fenômeno siga com intensidade forte até meados de dezembro, podendo se estender até os primeiros dias de janeiro, quando prevemos tendência de enfraquecimento gradual e desconfiguração total em meados de abril. Além disso, neste ano notamos [a] peculiaridade que potencializou o impacto do El Niño no Norte. Trata-se de um efeito combinado com o Oceano Atlântico Norte mais quente [do] que a média, o que prejudicou ainda mais as chuvas”, diz Mancini.
Pereira Filho explica que o El Niño aumenta chuvas sobre o Oceano Pacífico Equatorial mais próximo da América do Sul. Essa área gera movimento ascendente na região das chuvas sobre o oceano. Esse ar descende sobre a região leste onde esta a Amazônia e causa aquecimento da atmosfera e inibe a formação de nuvens. A região amazônica é a maior prejudicada por isso.
“A Amazônia não é uma região produtora de umidade para ela mesma. Ela recebe a umidade do oceano Atlântico.”
Segundo ele, a temperatura da superfície do Oceano Atlântico Sul esta mais baixa, o que reduz a evaporação e transporte de umidade para a bacia Amazônica.
O professor pondera que a seca impacta a região amazônica e região Sul em anos de El Niño e La Niña, respectivamente, com períodos entre três a sete anos, mas que este El Niño tem outros fatores que o intensificam, tais como maior derretimento do gelo oceânico no entorno da Antártica — provocado pelo maior transporte de calor e umidade proveniente das regiões equatorial e tropical via sistemas de frentes frias e quentes.
Essa água fria na borda da Antártica afunda para o fundo do oceano e emerge nos trópicos e produz menor evaporação, que transporta menos umidade à Amazônia.
A dependência das hidrelétricas é um dos problemas, na visão de Pereira Filho, já que as chuvas são cruciais para essa produção energética, centrada nas regiões Norte e Sul.
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