Brasil
Parceria entre Bolsonaro e Musk para beneficiar escolas na Amazônia nunca saiu do papel, diz Anatel
O governo do então presidente brasileiro anunciou uma parceria com a empresa Starlink, de Musk, para a instalação de satélites de monitoramento na Amazônia.
Ao menos uma parte do grande projeto anunciado em 2022 entre o governo de Jair Bolsonaro e o empresário Elon Musk nunca se concretizou. A informação é do presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Carlos Baigorri, em entrevista ao jornal “The New York Times”, numa reportagem sobre o bilionário e a sua “relação diplomática” com líderes da extrema direita pelo mundo. As informações são do jornal O Globo.
Apresentado em maio daquele ano, o governo do então presidente brasileiro anunciou uma parceria com a empresa Starlink, de Musk, para a instalação de satélites de monitoramento na Amazônia. A intenção, à época, era que a companhia compartilhasse dados dos aparelhos para identificar focos de desmatamento e, eventualmente, conectar escolas em zonas rurais da região. No entanto, a conexão com as escolas não chegou a ser implementada.
A iniciativa foi acertada durante um encontro em um hotel no interior de São Paulo. No entanto, como noticiou O GLOBO, não foram apresentados contratos, divulgados valores para o acordo e não havia dados sobre como essa parceria seria viabilizada nem quais contrapartidas exigiria.
A reportagem do jornal americano intitulada “A democracia de Elon Musk” mostra como o empresário usou suas empresas para apoiar abertamente políticos da extrema direita pelo mundo, como Bolsonaro, o presidente da Argentina, Javier Milei, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. Em contrapartida, Musk conseguiu expandir seus negócios e montar seu “império empresarial”.
Ao mostrar a relação do bilionário com o ex-presidente brasileiro, a reportagem mostra como em 2021 o empresário tentava trazer seu serviço da Starlink para o Brasil. De acordo com a publicação, a Starlink “estava engatinhando” no mundo, e possuía menos de 150 mil usuários em 25 países.
O jornal teve acesso a uma carta enviada pelo ministro das Comunicações, Fabio Faria, enviada a Musk dizendo que a Starlink e o Brasil poderiam se tornar “grandes parceiros”. Semanas depois, o ministro visitou o bilionário nos Estados Unidos e, na volta ao Brasil, pressionou as agências reguladoras a aprovarem a empresa de satélites no país.
A visita de Faria aos Estados Unidos foi em novembro de 2021. Três meses depois, em janeiro, a Anatel deu aval para a Starlink operar satélites de órbita baixa no Brasil. Na época, o bilionário afirmou que o projeto levaria internet a 19 mil escolas desconectadas da web.
Em entrevista ao “NYT”, Carlos Baigorri disse que o plano de conectar escolas nunca se concretizou. “Eu realmente não acredito que isso sequer existisse”, disse o presidente da Anatel sobre o plano. Ainda segundo o jornal, autoridades brasileiras disseram não ter registro da empresa de satélites ter conectado qualquer escola na região ou conduzindo o monitoramento ambiental.
A publicação americana salienta que mesmo sem o projeto ter ido à frente, tanto Bolsonaro como Musk se beneficiaram da publicidade do caso. “Musk consolidou a SpaceX em um mercado crítico , onde a Starlink agora tem 150 mil contas ativas”, enquanto a campanha do ex-presidente conseguiu promover a imagem de que ele seria um “defensor da Amazônia” antes das eleições de 2022. Apesar disso, Bolsonaro perdeu as eleições.
A publicação ainda traz o último embate do bilionário com o ministro Alexandre de Moraes que beneficiou o bolsonarismo. Em abril, os dois entraram em rota de colisão quando o empresário confrontou Moraes sobre bloqueios de contas no X (antigo Twitter) no âmbito do inquérito que apura a existência de milícias digitais. Musk afirmou que iria descumprir as decisões judiciais de Moraes e liberar o conteúdo que Moraes mandou bloquear. A Polícia Federal instaurou uma investigação sobre as falas do bilionário. O caso incendiou o debate nas redes, principalmente entre os políticos de direita.
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