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‘O ministro se precipitou, pô’, diz Mourão sobre nota de Salles decretando fim das ações contra desmatamento e queimadas

O vice-presidente da República, que é chede do Conselho Nacional da Amazônia, desmentiu ministro do Meio Ambiente sobre anúncio de bloqueio de recursos de R$ 60,6 milhões para Ibama e ICMBio.

Chefe do Conselho Nacional da Amazônia, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou na noite desta sexta-feira (28) que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, “se precipitou” ao anunciar, no fim da tarde, que todas as operações de combate ao desmatamento ilegal e queimadas na Amazônia Legal e no Pantanal serão suspensas a partir da próxima segunda-feira (31). As informações são do jornal O Globo.

A pasta alegou o bloqueio de orçamento determinado pela Secretaria de Orçamento Federal de cerca de R$ 60,6 milhões para Ibama e ICMBio. Segundo Mourão, o valor não será bloqueado. “O ministro se precipitou, pô. Precipitação do ministro Ricardo Salles. O que é que tá acontecendo? O governo está buscando recursos para poder pagar o auxílio emergencial, é isso que eu estou chegando à conclusão. Então, está tirando recursos de todos os ministérios. Cada ministério oferece aquilo que pode oferecer, né? Então, o ministro teve uma precipitação aí e não vai ser isso que vai acontecer, não vai ser bloqueado os R$ 60 milhões aí, entre Ibama e ICMBio, que são exatamente do combate ao desmatamento e a queimada ligada à área do ministério”, declarou o vice-presidente, na saída do Palácio do Planalto.

A nota do Ministério do Meio Ambiente (MMA) cita nominalmente Esteves Colnago, assessor do ministro da Economia, Paulo Guedes, e diz que foi ele o responsável por informar o bloqueio de cerca de R$ 60 milhões para Ibama e ICMBio. Ainda segundo o comunicado, o contingenciamento foi decidido pela Casa Civil da Presidência da República e pela Secretaria de Governo, comandadas por dois generais da reserva, respectivamente, Walter Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos. Procuradas pela reportagem, as duas pastas não se manifestaram até o momento.

O valor bloqueado “vem a se somar à redução de outros R$ 120 milhões já previstos como corte do orçamento na área de meio ambiente para o exercício de 2021”, acrescentou o MMA.

A nota do Meio Ambiente surpreendeu o Palácio do Planalto. Em reservado, um integrante da cúpula do governo disse ter sido informado sobre o comunicado pela reportagem, mas comentou que todos precisam de recursos e “a caixa está vazia”. E classificou a manifestação da pasta comandada por Salles como um “choro” normal.

Mourão disse ainda que já avisou a Salles, por telefone e por mensagem, que ele foi precipitado, mas ressaltou que ele é ministro do presidente Jair Bolsonaro, a quem cabe tomar “qualquer medida”. Questionado sobre a sinalização que a nota dá por ter citado os responsáveis pelo bloqueio, o vice-presidente reforçou que a iniciativa foi precipitada.

“Foi precipitado isso aí, foi precipitado. Então, vamos esperar que agora ele reflita e chegue à conclusão que não foi a melhor linha de ação a que ele tomou, e criou um caso que não era para ser criado. Eu conversei com ele por telefone, mandei mensagem para ele, acabou. Ele tem que entender que não agiu da melhor forma”, declarou.

Mourão também afirmou que a Operação Verde Brasil, que combate crimes ambientais na Amazônia Legal com o emprego das Forças Armadas, depende principalmente de recursos do Ministério da Defesa. E o montante citado pelo MMA, segundo o vice-presidente, “não vai ser retirado”.

“Isso aí é o remanejamento que o governo está buscando fazer, está tirando dinheiro da Defesa, de outros lugares. Continua a operação, não está parada. E outra coisa: o que o ministro viu foi uma planilha de planejamento que é da SOF (Secretaria de Orçamento Federal). No Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal), que é o sistema onde realmente você bloqueia o recurso, o recurso está em aberto, não está bloqueado. Então é precipitação”, comentou.

Questionado se via a nota do MMA como um pedido de demissão indireto do ministro, Mourão disse que não iria levar para esse lado porque Salles é escolhido por Bolsonaro, então isso não compete a ele. “Agora o que estou colocando para vocês é que foi divulgada uma nota que repercutiu de uma forma negativa, principalmente num momento em que a gente sabe que tem que estar combatente essas ilegalidades. Então, eu estou colocando que não é essa a realidade que vai acontecer”, disse o vice-presidente.

Novamente questionado sobre a continuidade das operações a partir da próxima segunda-feira, ele insistiu. “Não tem nada parado. Segue o baile conforme o planejado”.

Mais cedo, o secretário do Tesouro, Bruno Funchal, tinha dado uma explicação diferente, afirmando que o bloqueio do recurso foi feito para avaliar as despesas, que podem ser direcionada para obras de infraestrutura. Como o Globo mostrou na quinta-feira, o governo busca recursos no Orçamento para liberar mais R$ 6,5 bilhões para obras de infraestrutura.

“Tem um direcionamento para organizarmos dentro do Orçamento a realocação de recursos para algumas áreas. Isso está em discussão. Há um bloqueio para se estudar uma realocação e depois, se for o caso, desbloquear ou transferir para outro ministério”, disse Funchal.


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