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Brasil

Nasa afirma que 54% dos focos de incêndio na Amazônia são causados pelo desmatamento

O sistema criado para o projeto GFED (Global Fire Emissions Database) é o primeiro capaz de apontar em tempo real os focos de fogo e as razões pelos quais ocorrem.

Um novo sistema de monitoramento de queimadas na Amazônia é capaz de identificar a fonte dos focos de incêndio e mostra que, em 2020, uma parcela de 54% deles teve como origem o desmatamento, ainda que a temporada de fogo mal tenha começado na região. Usando dados do sistema VIIRS de imagens de satélite, o trabalho é uma colaboração internacional encabeçada por Douglas Morton, cientista do Centro Goddard da Nasa, e Niels Andela, da Universidade de Cardiff (Reino Unido). As informações são do jornal O Globo.

O sistema criado pelos cientistas para o projeto GFED (Global Fire Emissions Database) é o primeiro capaz de apontar em tempo real não apenas onde os focos de fogo estão, mas também a razão pela qual ocorrem: incêndios florestais, queimadas pequenas para limpar pastagem, queima de campos naturais ou incineração de árvores após desmate.

“Queremos maximizar nosso entendimento sobre o que ocorre em solo e, honestamente, combater algumas das falsas narrativas que foram apresentadas sobre a natureza da atividade de queimada pela região”, disse Morton ao Globo na manhã desta sexta-feira.

Boa parte da motivação para montar o novo sistema surgiu após a crise do desmatamento em 2019, quando o governo federal buscava disseminar a ideia de que os fogos na Amazônia estariam ocorrendo em áreas que não são de floresta, para atividades como limpeza de pastagem ou lavoura, ou incêndios florestais “naturais”.

Para saber se um foco de fogo tem origem no desmatamento, o sistema criado pela Nasa analisa o comportamento do foco de radiação detectado pelo satélite ao longo de vários dias e o compara com pontos encontrados ao redor para fazer uma classificação.

Enquanto o fogo de uso agropecuário tende a ser circunstancial e isolado, durando um dia, o fogo do desmatamento tende a ser persistente e emitir uma grande quantidade de radiação.

“Um fogo que começa numa área que foi desmatada vai queimar por vários dias, e o processo de limpar e queimar aquela paisagem envolve empilhar a madeira e atear fogo repetidas vezes”, explica Morton. “Esse padrão de queima em um único ponto do solo, múltiplas vezes na mesma estação seca, só pode ocorrer se você tem madeira para queimar ali. Não é o padrão que vemos quando se queima os resíduos de uma colheita do ano passado, ou quando se reforma uma área de pasto”.

Neste ano, antecipando uma possível crise como a de 2019, o Palácio do Planalto já adiantou um decreto com uma moratória no uso fogo para manejo de terras na Amazônia, em 15 de julho. Além disso, busca prorrogar a atuação das Forças Armadas na operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) na região. “Do meu ponto de vista, usando nossa nova ferramenta de classificação, não enxergamos essa moratória tendo muito impacto, se é que teve algum”, diz Morton.

O sistema de monitoramento novo da Nasa, por enquanto, inclui só a porção da Amazônia abaixo da linha do Equador, porque a estação associada a devastação na porção austral do bioma começa antes. O monitoramento da Amazônia do Hemisfério Norte, que inclui Roraima, começa no fim do ano.

Como a temporada típica de desmatamento e queimadas dura até outubro, ainda é cedo para dizer se 2020 será mais um ano recorde de fogos da década, como foi 2019, mas os dados até agosto mostram uma quantidade de fogos já acima da média.


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