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Brasil

Mortes entre caixas, frentistas e motoristas aumentaram 60% no Brasil no auge da pandemia

Análise de contratos formais de trabalhadores que não puderam ficar em casa revela excesso de óbitos em janeiro e fevereiro de 2021 em relação a 2020.

Frentistas de posto de gasolina tiveram um salto de 68% na comparação das mortes entre janeiro e fevereiro de 2020. (Foto:Sinpospetro/Divulgação)

Trabalhadores formais que não puderam ficar em casa em nenhum momento da pandemia exercem algumas das ocupações que mais registraram aumento de mortes no Brasil, segundo um levantamento exclusivo feito para o EL PAÍS pelo estúdio de inteligência de dados Lagom Data, com base em informações do Ministério da Economia.

Frentistas de posto de gasolina, por exemplo, tiveram um salto de 68% na comparação das mortes entre janeiro e fevereiro de 2020, pré-pandemia, e dois dos piores meses da crise sanitária, no início de 2021. Operadores de caixa de supermercado perderam 67% mais colegas no mesmo período. Motoristas de ônibus tiveram 62% mais mortes. Entre os vigilantes, que incluem os profissionais terceirizados que monitoram a temperatura de quem entra em shoppings centers, houve 59% de mortes a mais.

As conclusões vêm de uma análise do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Novo Caged, ligado ao Ministério da Economia. O sistema coleta, mês a mês, informações sobre contratos formais de emprego, inclusive o motivo de encerramentos. Morte é um deles, embora não seja informada a causa. Por isso, não é possível saber se todo o contingente de óbitos se deve apenas à covid-19, mas é possível adaptar o conceito de “excesso de mortes” com base nesse banco de dados.

Em tempos de pandemias, os epidemiologistas costumam usar o conceito de “excesso de mortes” para tentar avaliar o impacto da doença sobre a vida da população. Mesmo que uma pessoa não morra diretamente da enfermidade da vez, ela pode morrer por outras complicações decorrentes de sua existência, como a falta de vagas no hospital num caso de urgência. Então, o procedimento normalmente usado é calcular a média de mortes esperada para um dado período e comparar esse dado ao total de mortes registradas por quaisquer causas na pandemia.

Segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o Brasil teve mais de 275.500 mortes por causas naturais a mais que o esperado para o país em 2020, um excesso de óbitos de 22%. O que a análise dos dados do Caged sinaliza ―de maneira inédita― é o custo da covid-19 para os trabalhadores de atividades consideradas essenciais. O levantamento mostra taxas de excesso de mortes bem superiores à média da população. São números fortes, principalmente considerando que o cadastro do Ministério do Trabalho só capta dados do mercado formal. Ou seja, não estão contabilizadas aqui as mortes de autônomos e microempresários individuais.

O Sivep-Gripe, sistema do Ministério da Saúde que organiza informações sobre cada paciente que esteve internado para tratar a covid-19, até tem um campo para informar a ocupação do paciente, mas na maior parte dos casos ele não é preenchido. Caso fosse, seria possível avaliar até mesmo as ocupações de pacientes sem emprego formal. A exposição profissional ao risco de infecção é um ponto cego na maioria dos sistemas de saúde do mundo.

Entre os dois primeiros meses de 2020, quando a pandemia ainda não havia causado nenhuma morte no país, e os dois primeiros de 2021, quando grande parte das UTIs brasileiras já não dava conta de tratar de todos os pacientes que chegavam em estado grave, um terço a mais de mortes foi registrado considerando a soma de todas as atividades profissionais. O salto é de 8.633 em 2020 para 11.424 em 2021. A análise mostra que a mortalidade foi mais alta nas atividades mais claramente essenciais, como comércio de víveres e transportes. Olhando os aumentos de maneira proporcional, as ocupações com os maiores aumentos de mortes são as que dependem de contato direto com o público e não pararam durante a pandemia.


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