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Brasil

Megaoperação para conter avanço do CV no Alemão e na Penha tem 60 mortos

Em uma demonstração inédita de poder bélico, traficantes utilizaram drones para lançar granadas contra equipes das forças especiais da Core e do Bope

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Parte da apreensão de fuzis na operação. Grafite faz alusão a um urso, vulgo do traficante Edgard Alves de Andrade, o Doca, chefe do CV — Foto: Reprodução

Uma megaoperação das polícias Civil e Militar nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio, deixou quatro policiais mortos além de oito agentes feridos, na manhã desta terça-feira. De acordo com a Polícia Civil, 56 suspeitos foram mortos, dois deles da Bahia. Quatro moradores também foram atingidos.

O objetivo da ação é cumprir mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho (CV), 30 deles de fora do Rio, escondidos nos dois conjuntos de favelas, identificados pela investigação como bases do projeto de expansão territorial do CV. Até o fim da manhã, 81 pessoas foram presas e 42 fuzis foram apreendidos na ação, que mobiliza 2,5 mil policiais e também promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ).

A operação marca uma mudança no padrão de enfrentamento entre as forças de segurança do Rio e as facções criminosas. Além do emprego de drones utilizados para lançar explosivos contra policiais, cenário típico de guerra, o governo estadual declarou que não tem condições de atuar sozinho e que o conflito ultrapassou o âmbito da segurança pública tradicional.

— Essa operação de hoje tem muito pouco a ver com Segurança Pública. É uma operação de Estado de Defesa. É uma guerra que está passando os limites de onde o Estado deveria estar sozinho defendendo. Para uma guerra dessa, que nada tem a ver com a segurança urbana, deveríamos ter um apoio maior e até das Forças Armadas. É uma luta que já extrapolou toda a ideia de Segurança Pública e que está na Constituição. O Rio está sozinho nessa guerra — disse o governador Cláudio Castro.

A fala de Castro apontou para a necessidade de participação do governo federal, inclusive com possibilidade de acionamento das Forças Armadas. Disse que teve negado por três vezes o pedido que fez para ter ajuda de blindados da Marinha e Exército. Castro fez ainda um alerta para a possibilidade de forte tentativa de retaliação dos criminosos diante de tantos mortos e apreensões.

Quem são os baleados

  • Marcos Vinicius Cardoso Carvalho – policial civil da 53ª DP (Mesquita) que era conhecido como Máskara. Ele morreu no Hospital estadual Getúlio Vargas
  • Policial civil da 39ª DP (Pavuna) – morto momentos após chegar ao Hospital Getúlio Vargas
  • Dois policiais do Bope também morreram
  • Três policiais civis — lotados na 38ª DP (Irajá), na 26ª DP (Todos os Santos) e na Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) — ficaram feridos
  • Cinco policiais militares feridos
  • 56 suspeitos mortos, entre eles dois homens apontados como traficantes vindos da Bahia
  • Quatro moradores feridos

Um cabo do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foi o primeiro a ser atingido durante o confronto. Ele estava numa região de mata conhecida como Vacaria e foi ferido de raspão, segundo a PM. O agente foi levado para o Hospital Central da corporação. Estão feridos ainda um morador em situação de rua que não foi identificados, e outros três moradores: Fernando Vinícius Lopes, Kelma Rejane Magalhães e Daniel Mello dos Santos. Kelma estava numa academia quando foi atingida na região dos glúteos. Todos têm estado de saúde estável.

Um dos presos é o operador financeiro de Edgard Alves de Andrade, o Doca, apontado como um dos principais chefes da cúpula do CV na Penha. O outro é Thiago do Nascimento Mendes, o Belão do Quitungo, um dos braços armados de Doca.

Moradores dos conjuntos de favelas, formados por 26 comunidades, usam as redes sociais para relatar intensos tiroteios. Fogo foi ateado em barricadas e foi possível ver colunas de fumaça à distância. Policiais foram atacados por granadas lançadas por drones, afirmou o secretário de Segurança Pública, Victor dos Santos, em entrevista ao Bom Dia Rio. O telejornal mostrou ainda criminosos fugindo por uma área de mata. Há desvios em linhas de ônibus e unidades de saúde e educação com funcionamento suspenso.

A ação visa a capturar chefes do tráfico do Rio e de outros estados e combater a expansão territorial do Comando Vermelho nos complexos. A operação acontece após de mais de um ano de investigação. A Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) obteve mandados de busca e apreensão e de prisão, que são cumpridos.

Participam da Operação Contenção policiais militares do Comando de Operações Especiais (COE) e das unidades operacionais da PM da capital e da Região Metropolitana. A Polícia Civil mobilizou agentes de todas as delegacias especializadas, das distritais, da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), do Departamento de Combate à Lavagem de Dinheiro e da Subsecretaria de Inteligência.

Além de aparato tecnológico, como drones, a Operação Contenção conta com dois helicópteros, 32 blindados terrestres e 12 veículos de demolição do Núcleo de Apoio às Operações Especiais da PM, além de ambulâncias do Grupamento de Salvamento e Resgate.

Bandidos lançaram granadas

Em uma demonstração inédita de poder bélico, traficantes utilizaram drones para lançar granadas contra equipes das forças especiais da Core e do Bope. A tática representa uma nova escalada no poder de fogo do crime organizado no Rio e tem como objetivo conter o avanço da operação e proteger a alta cúpula da facção.

Para atacar os policiais, os criminosos acionam um gatilho mecânico ou elétrico que libera a carga enquanto mantêm o equipamento em voo, afastando-se sem se expor. Além de funcionar como um “bombardeiro” improvisado, o drone também é usado como instrumento de reconhecimento para orientar as reações das quadrilhas.

Imagens desta terça-feira mostram ainda barricadas em chamas, formando colunas de fumaça visíveis a quilômetros de distância.

A forte resistência à ação policial se explica pelo fato de que os complexos do Alemão e da Penha funcionam como o “QG” da facção, locais onde ocorrem reuniões da cúpula criminosa. A Penha foi apontada pelo MPRj como uma das principais bases estratégicas do Comando Vermelho (CV) para implementar seu projeto de expansão territorial rumo à Zona Sudoeste, especialmente na região de Jacarepaguá. A informação consta em denúncia apresentada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ).

Impactos

Por causa da operação, 46 unidades de educação municipais fecharam as portas. Vinte e nove delas ficam no Alemão e outras 17, no Complexo da Penha. As universidades Federal (UFRJ), Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e Federal Fluminense (UFF) suspenderam as aulas. A Fiocruz decidiu encerrar as atividades às 15h30.

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro suspendeu a sessão plenária prevista para esta terça-feira. Segundo a Casa, a medida visa a garantir a segurança de todos.

Cinco unidades de Atenção Primária que atendem a região da Penha e do Complexo do Alemão suspenderam o início do funcionamento, informou a Secretaria municipal de Saúde. De acordo com a pasta, elas avaliam a possibilidade de abertura nas próximas horas. Uma clínica da família mantém o atendimento à população, mas suspendeu as atividades externas, como as visitas domiciliares.

O Rio Ônibus informou que seis ônibus tiveram suas chaves retiradas e foram utilizados como barricadas em diferentes regiões da cidade. Vinte linhas de ônibus também estão com seus itinerários desviados preventivamente, informou o sindicato.

Imagens captadas por drones mostraram criminosos armados fugindo em “fila indiana” pela mata da Vila Cruzeiro, na Zona Norte do Rio, durante a operação.

As informações são do Extra.


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