Brasil
Médicos registram mais de 200 casos suspeitos, por dia, de violência contra crianças e adolescentes no Brasil
São Paulo concentra a maior quantidade de casos computados no ano passado, seguido de Minas Gerais e Rio de Janeiro, aponta levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Um levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) mostrou que os médicos do país notificam em média 196 casos suspeitos de violência física contra crianças e adolescentes por dia. A pesquisa, divulgada nesta quinta-feira, foi feita com base nos dados do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.
O Estatuto da Criança e do Adolescente obriga os médicos a notificarem o Conselho Tutelar quanto há suspeitas ou confirmações de violência contra essa parcela da população. Os dados mostram que os adolescentes entre 15 e 19 anos foram os mais afetados, totalizando 35.851 notificações ao longo de 2023.
— Os adolescentes se expõem, têm personalidade e autodeterminação, podem ousar socialmente e se colocar em situações de risco. Os adolescentes têm um pensamento mágico, acham que nada vai acontecer com eles — diz o presidente da SBP, Clóvis Francisco Constantino. — A violência dos menores é mais silenciosa e intradoméstica.
Cerca de 80% das agressões contra crianças de até 14 anos acontecem dentro de suas próprias casas, segundo os dados do Sinan. Em 2023, foram registradas mais de 3 mil notificações envolvendo bebês com menos de 1 ano. Na faixa de 5 a 9 anos, foram 8.370 ocorrências.
A SBP aponta que a maioria dos casos está concentrada no Sudeste. Isso é atribuído pela Sociedade de Pediatria à densidade populacional mais elevada e à existência de sistemas mais eficientes de diagnóstico e denúncia nessa região. Em todos os estados, no entanto, os adolescentes entre 15 e 19 anos são os que acumulam mais notificações. Os dados reunidos pela SBP serão usados para atualizar protocolos que auxiliam os profissionais da saúde nessas situações.
— O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) deixa bem claro que, na suspeita de agressão, a notificação é compulsória. É um dever legal do médico que está na linha de frente — explica Constantino. — Ao atualizarmos os protocolos, queremos deixar aos pediatras o recado de que esse fenômeno segue acontecendo.
— Fraturas inexplicáveis ou específicas de traumas intencionais, relatos contraditórios ou lesões incompatíveis com o trauma descritos, ou com o desenvolvimento psicomotor da criança, são indicativos claros de que precisa de maior avaliação, diagnóstico, tratamento e proteção imediata — completa Luci Pfeiffer, presidente do Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas na Infância e Adolescência da SBP.
São Paulo lidera em todas as faixas etárias, com 17.278 registros. Trata-se de uma média de 50 casos por dia. O segundo estado com mais notificações é Minas Gerais, onde foram feitas 8.598 notificações em 2023. Em terceiro lugar, está o Rio de Janeiro, com 7.634 ocorrências. Em seguida vêm os estados do Paraná (7.266), Bahia (3.496), Ceará (2.954) e Pernambuco (2.953).
— Em São Paulo, onde há sistemas mais efetivos, há menos subnotificação. Há municípios com orçamentos suficientes para se aprimorar essa questão — comenta Clóvis Constantino. — O aprimoramento dos sistemas de comunicação deve ser uma prioridade e um programa de Estado.
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