Brasil
‘Momento histórico’: Lula chama de ‘equívoco’ proibição de visita de Maduro ao Brasil
Maduro e Lula tiveram uma reunião privada no Palácio do Planalto, seguida por um encontro ampliado com membros da comitiva venezuelana e do governo brasileiro.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, falam à imprensa nesta segunda-feira após duas reuniões oficiais. Segundo Lula, a visita é um “momento histórico” e o Brasil recuperou o direito de fazer “política com seriedade”.
– Queria dizer aos meus amigos do Brasil, à imprensa brasileira, a alegria deste momento histórico que estamos vivendo agora. Depois de oito anos, o presidente Maduro volta a visitar o Brasil e nós recuperamos o direito de fazer política com a seriedade que sempre fizemos, sobretudo com os países que fazem fronteira. A Venezuela sempre foi parceira, e, por conta dos equívocos, o presidente Maduro ficou oito anos sem vir ao Brasil, o Brasil sem ir a Venezuela – afirmou.
Na visão do presidente brasileiro, é preciso recuperar a corrente de comércio entre os dois países. Lula disse que houve uma queda a um terço na relação comercial Brasil e Venezuela.
– E nós temos um pequeno problema de ordem política, cultural, econômica e comercial. A gente tinha uma relação comercial que teve um fluxo de US$ 6 bilhões e hoje tem pouco menos que R$ 2 bi. Isso é ruim para a Venezuela e para o Brasil – afirmou Lula.
Maduro não vinha ao país desde 2015, quando participou da posse da ex-presidente Dilma Rousseff. Sua presença no país não era permitida desde agosto de 2019, quando uma portaria editada pelo então presidente Jair Bolsonaro proibia o ingresso no país do líder venezuelano e de outras autoridades do vizinho latino-americano.
Pela manhã, Lula recebeu o chefe de estado venezuelano seguindo o protocolo de visitas oficiais. Maduro subiu a rampa do Palácio do Planalto ao lado da sua esposa, Cilia Flores, e foi recebido por Lula e pela primeira-dama Janja da Silva.
Pelas redes sociais, Maduro afirmou que o encontro com Lula é um “feito histórico” e a “vitória da dignidade dos nossos povos” e que a união entre Brasil e Venezuela conduzirá “até o desenvolvimento e a integração da Grande Pátria”.
“Meu encontro com o presidente Lula é um feito histórico, transcendental e a vitória da dignidade dos nossos povos. O resgate e o novo impulso da união entre Brasil e Venezuela é o caminho correto que nos conduzirá até o desenvolvimento e a integração da Grande Pátria”, escreveu o presidente venezuelano.
De lá, os dois seguiram para uma reunião privada no gabinete de Lula. Na sequência, participaram de uma reunião com membros do governo brasileiro, incluindo ministros de estado, e da comitiva de Maduro.
Estavam presentes na reunião, além do presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, os ministros Paulo Pimenta (Secom), Carlos Fávaro (Agricultura), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Fernando Haddad (Fazenda), Alexandre Silveira (Minas e Energia), e o secretário executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli.
As primeiras-damas Janja da Silva e Cilia Flores também estavam na reunião.
Na parte da tarde, os dois estarão no Itamaraty, onde o governo brasileiro oferecerá um almoço ao presidente venezuelano.
Lula e Maduro ainda devem assinar um Memorando de Entendimento em matéria agro alimentar e um segundo sobre mecanismo de supervisão da cooperação bilateral.
A recepção de Maduro seguiu todos os trâmites de uma cerimônia oficial de visita de chefe de estado. Até sexta-feira, no entanto, não havia nada previsto além da sua participação na cúpula com presidentes da América do Sul, organizada por Lula e que acontecerá nesta terça-feira no Itamaraty.
No domingo, Maduro chegou à capital acompanhado a primeira-dama, Cilia Flores, e foi recebido no aeroporto pela secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, embaixadora Gisela Padovan.
Até o último dia do governo Bolsonaro, a diplomacia brasileira reconhecia o dirigente opositor Juan Guaidó como “presidente interino” da Venezuela.
No início de março, por iniciativa de Lula, uma pequena delegação liderada pelo assessor especial da Presidência Celso Amorim foi a Caracas para o primeiro encontro de alto nível do governo com Maduro.
Na época, segundo O GLOBO informou, Amorim foi até Caracas ter uma primeira conversa com o governo venezuelano sobre a situação política no país, a importância das eleições presidenciais de 2024, além de temas da relação bilateral, entre eles a dívida que o país tem com o Brasil, de cerca de US$ 1 bilhão (dos quais 80% são com o BNDES).
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