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Brasil

Levantamento diz que 90% dos abortos no SUS são tratados com cirurgia não recomendada pela OMS

Todos os anos, mais de 100 mil pessoas no Brasil, em situação de abortamento, passam por cirurgia que não é recomendada pela OMS há uma década.

Em 2021, 151 mil mulheres foram internadas no Brasil por situações de aborto (espontâneo, induzido, incompleto ou legal) e levadas a fazer uma curetagem, procedimento que já é considerado defasado há pelo menos 10 anos no mundo e fortemente desaconselhado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 2012.

“Um método obsoleto de abortamento cirúrgico”, diz a OMS, indicando que a curetagem deveria ser exceção e usada somente em abortos acima de 14 semanas de gestação. É que ela traz mais riscos como perfuração uterina, hemorragia, infecção e morte. Manoela Fontenelle, 34 anos, teve um aborto espontâneo com 12 semanas de gestação e, ao procurar um médico, foi informada de que deveria fazer a curetagem.

O procedimento foi tranquilo, assim como os primeiros dias de recuperação. Mas ela desenvolveu, em seguida, algumas aderências, que bloquearam a passagem da trompa direita, e também uma adenomiose (crescimento do tecido endometrial no músculo do útero, que provoca dor). “Fui em médicas que deixaram bem claro que a manipulação uterina favorece o aparecimento de problemas”, contou Manoela.

Como ela, na última década, dois milhões de brasileiras foram submetidas a curetagem no Sistema Único de Saúde (SUS), segundo dados do Ministério da Saúde – DataSus. Quase 500 mulheres morreram nos últimos dez anos nessa cirurgia.

No Brasil, o aborto é permitido somente em casos de estupro, risco à vida da mulher e anencefalia do feto. Além desses, chegam aos hospitais mulheres que sofrem abortos espontâneos e as que tentam interromper a gravidez clandestinamente e precisam de atendimento médico por aborto retido ou incompleto.

Em todos esses casos, o recomendado pela OMS e por especialistas como mais seguro é substituir a curetagem pela aspiração manual intrauterina (AMIU) ou mesmo por métodos farmacológicos, como o uso combinado de mifepristone e misoprostol. Esse último tem eficácia de 98% – dado apontado pelo próprio documento da OMS -, principalmente se a interrupção ocorrer até 14 semanas de gestação. “Cerca de 85% dos abortos são nesse período e 67% ocorrem antes de oito semanas”, destaca o ginecologista obstetra Cristião Rosas, referência no assunto.

A reportagem procurou o Ministério da Saúde para ouvir o órgão sobre o uso de curetagem mesmo com a prática desaconselhada pela OMS. A entidade também foi questionada sobre o fornecimento de AMIU e medicações. Não houve resposta até a publicação deste texto.

A mifepristone não está disponível no Brasil, apesar de constar na lista de medicamentos essenciais da OMS. O misoprostol é o único que se tem acesso aqui, no entanto, ele é classificado como de “uso hospitalar”. A questão é que o aborto medicamentoso pode levar horas ou até dias para ser concluído, o que significaria manter a paciente internada todo esse tempo na unidade hospitalar. O ideal seria a mulher poder levar os comprimidos para finalizar o procedimento em casa, como é feito em outros países.

Já o Aspirador Intrauterino (AMIU) está em falta em maternidades de referência em saúde da mulher, conforme apurou a reportagem. Em 2021, foram somente 16 mil abortos tratados por aspiração – 10% do total, de acordo com informações obtidas no DataSus. As 151 mil internações por curetagem pós-abortamento representou 90% dos casos que chegaram às unidades hospitalares, e resultaram em 50 mortes.

O custo ao SUS pelas curetagens uterinas foi de R$ 34 milhões, e nessa conta não estariam incluídos os gastos com leitos e outras complicações do procedimento. As outras opções para os casos de abortamento, consideradas mais seguras, são também menos onerosas.

As informações são do site UOL.


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