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Brasil

Isolamento por coronavírus aumentou briga de casais em 431%, afirma pesquisa

Empresa monitorou relatos de violência doméstica no Brasil noTwitter entre fevereiro e abril; boletins de ocorrência diminuíram em pelo menos cinco estados

Brigas de casais aumentaram 431% entre fevereiro e abril, segundo relatos feitos no Twitter e coletados pela empresa de pesquisa Decode Pulse, a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Foram coletadas 52.315 menções a brigas domésticas, das quais 5.583 relatavam violência doméstica. As informações são do jornal O Globo.

A maioria dos comentários (53%) ocorreu entre 20h e 3h da manhã e foi feita por mulheres (67%), e um quarto deles foi postado às sextas-feiras. Segundo os pesquisadores, no Twitter os internautas se manifestam mais espontaneamente sobre acontecimentos cotidianos.

“Os vizinhos estavam brigando e ele bateu na mulher, eu não consigo ouvir isso e não sentir vontade de chorar, parece que eu sinto na pele tudo o que ela está sentindo”, comentou um internauta.

“Meus vizinhos estão brigando a essa e eu to quase entrando lá c o pé na porta p n ter esses barato de agressão e etc”, relatou outro.

“Gente os vizinhos estão brigando e a mulher dele tá berrando e to preocupado pq ta bem pesado ja vou ficar com o telefone da policia”, disse um usuário da rede social.

Mais da metade desses relatos foram feitos em abril, que registrou aumento de 53% em relação a fevereiro. Em março, quando começaram as medidas de isolamento, o aumento foi de 37%.

Dificuldades de denunciar a agressão
Na avaliação da diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, a pesquisa mostra que, de fato, as mulheres estão mais vulneráveis durante o período de isolamento social e, confinadas, estão estão encontrando dificuldades para procurar delegacias de polícia e registrar as ocorrências.

“Infelizmente, esse crescimento da violência contra as mulheres é uma tendência que o Fórum registra há pelo menos três anos e que foi agravada a partir do momento em que as pessoas precisaram ficar em suas casas” afirma Samira, em nota.

Renato Dolci, CEO da Decode Pulse, afirmou que nos métodos tradicionais de pesquisa as mulheres têm medo de falar, ainda mais neste momento, confinadas com seus potenciais agressores. Por isso, a empresa decidiu verificar o que vizinhos e parentes estão dizendo nas redes sociais.

Queda nos boletins de ocorrência

Enquanto os relatos crescem, denúncias registradas oficialmente diminuem. Um levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou queda nos registros em vários estados.

O número de boletins de ocorrência sobre violência doméstica, que em geral exigem a presença das vítimas na delegacia, diminuiu em março nos estados do Ceará (29,1%), Mato Grosso (21,9%), Acre (28,6%), Pará (13,2%) e Rio Grande do Sul (9,4%), em relação a março de 2019.

Medidas protetivas, por exemplo, diminuíram 37,9% em São Paulo, 32,9% no Pará e 67,7% no Acre entre os dias 1 e 12 de abril passado, em comparação com o mesmo período de 2019.

No telefone 180, que atende denúncias de violência contra a mulher, a queda foi de 8,6% em março, em relação ao mesmo mês de 2019 – de 8.440 para 7.714.

Enquanto isso, porém, os atendimentos de violência doméstica pela Polícia Militar de São Paulo, pelo telefone 190, aumentaram 44,9% em março deste ano, em relação ao mesmo mês de 2019 – de 6.775 para 9.817.

Os feminicídios também tiveram aumento expressivo no período. Aumentaram 46,2% em São Paulo (19 casos) e 400% no Mato Grosso (10 casos), por exemplo.

O Fórum sugere que as autoridades diversifiquem os canais para que as mulheres possam denunciar usando, por exemplo, farmácias e supermercados, que continuam abertos normalmente.

O governo federal lançou um aplicativo para que as vítimas denunciem, mas ainda não está disponível para celulares. Nos estados de São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro, a Secretaria de Segurança passou a permitir que as vítimas de violência doméstica façam boletins eletrônicos, pela internet, sem necessidade de ir a uma delegacia. Os telefones tradicionais de denúncias, como 180 e 190, continuam a funcionar normalmente.


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