Brasil
Investimentos em bioeconomia podem somar R$ 40 bilhões ao PIB da Amazônia, informa Valor Econômico
A bioeconomia que se desenvolve com a floresta em pé, tradicionalmente invisível nas contas nacionais devido à informalidade e outras barreiras na Amazônia, já representa um PIB de R$ 12 bilhões, muito maior do que mostram os indicadores atuais. Com investimentos adicionais, poderá atingir R$ 38,6 bilhões em 2050, gerando 833 mil novos empregos, na concorrência com ocupações hoje ligadas à destruição da floresta, como o garimpo e a extração predatória de madeira. As informações são do jornal Valor Econômico.
“A atividade ganha espaço crescente e se apresenta como a de maior potencial no sentido da diversificação econômica com protagonismo na inclusão social e transição justa da região para o baixo carbono”, afirma Rafael Barbieri, economista do WRI Brasil, integrante do projeto “Nova Economia da Amazônia”. A iniciativa, que calculou os novos dados da bioeconomia, tem o objetivo de orientar o desenvolvimento da região com mitigação climática, incluindo desmatamento zero, restauração florestal e adequação da agropecuária e da matriz energética à produção de baixa emissão de carbono.
Baseado em modelos econômicos desenvolvidos por diversos grupos de pesquisa no Brasil, o trabalho concluiu que o cenário de novos investimentos e mudanças poderá somar R$ 40 bilhões anuais ao PIB da Amazônia a partir de 2050, com 312 mil empregos adicionais, além de mais 81 milhões de hectares de florestas e 19% de estoque de carbono. “As próximas décadas serão decisivas para a região lidar com a transição para o baixo carbono, distanciar-se do ponto de degradação irreversível da floresta e reduzir as desigualdades”, diz Fernanda Boscaini, diretora executiva do WRI Brasil.
“Trata-se do primeiro passo para construção de uma agenda da Amazônia e não para a Amazônia”, observa Gustavo Pinheiro, coordenador do portfólio de economia de baixo carbono do Instituto Clima e Sociedade (iCS). O desafio, segundo ele, é quebrar a atual dinâmica nociva de desenvolvimento por meio de novas ferramentas financeiras, tecnologias e narrativas. A lógica em vigor se caracteriza pela venda de commodities agrícolas e minerais que geram desmatamento e emissões na Amazônia, junto ao consumo de bens e serviços qualificados e de maior valor agregado pelo restante do país. Além do impacto sobre o bioma, diz o estudo, essas atividades não geram crescimento econômico significativo e acentuam a desigualdade social.
“Para além de uma nova economia, precisamos de um novo modelo mental, porque é muito curta a janela de sobrevivência – e de oportunidade – diante da mudança climática”, aponta Marcello Brito, secretário executivo no Consórcio Amazônia Legal. De acordo com ele, é necessário capital, mas principalmente acesso a mercados para a economia da região não ficar refém da filantropia. “Os doadores precisam dar asas a ideias que nascem no sul global e não somente no norte, reconhecendo o valor dos olhares locais, para não repetir erros da velha economia”, completa Carolina Genin, diretora da CLUA Brasil.
O relatório do WRI Brasil destaca que a região amazônica importa mais do que exporta, com uma revelação inédita: mais de 83% da demanda por produtos com desmatamento incorporado vêm do restante do Brasil e do exterior. De acordo com o levantamento, com desmatamento zero, restauração de 24 milhões de hectares de florestas e aumento da matriz fotovoltaica, será possível reduzir em 94% as emissões líquidas de carbono da região. A agropecuária se beneficiará com maior produtividade da terra e menor riscos de estresse hídrico.
“Para atingir metas climáticas, é fundamental conhecer e planejar o território, e o Brasil já tem o arcabouço jurídico necessário; precisa colocar em prática para trazer segurança aos investimentos”, afirma Eugênio Pantoja, diretor de políticas públicas e desenvolvimento territorial do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
O tema é prioridade no governo federal, segundo João Paulo Resende, assessor especial do Ministério da Fazenda. Amazônia e mitigação climática, segundo ele, deverão compor o plano de desenvolvimento com estímulos à economia nacional, além da regulamentação do mercado de carbono brasileiro, que serão anunciados em breve.
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