Brasil
‘Interesse na Amazônia não é no índio nem na porra da árvore, é no minério’, diz Bolsonaro
Presidente se reuniu com garimpeiros de Serra Pelada e afirmou que irá analisar envio das Forças Armadas para região.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira que “o interesse na Amazônia não é no índio nem na porra da árvore, é no minério”. A afirmação ocorreu em discurso a garimpeiros de Serra Pelada (PA) em frente ao Palácio do Planalto, após Bolsonaro receber representantes do grupo. O presidente afirmou que irá divulgar um vídeo sobre a exploração do grafeno que, ajudaria a “abrir a cabeça da população”, e voltou a criticar o líder indígena Raoni Metuktire , dizendo que ele não fala pelos índios.
— Esse vídeo é muito bom para abrir a cabeça da população de que o interesse na Amazônia não é no índio nem na porra da árvore, é no minério. E o Raoni fala pela aldeia dele, fala como cidadão, não fala pelos índios, não. É outro que vive tomando champanhe e em outros países por aí — disse o presidente.
Os garimpeiros pedem uma “administração militar” da área. Eles fazem parte da Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp). Bolsonaro afirmou que enviará as Forças Armadas se houver amparo na lei. Ele disse que a situação será tratada pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e afirmou que quer dar uma resposta ainda nesta terça.
“Se tiver amparo legal, eu boto as Forças Armadas lá. Se tiver amparo legal, não vou prometer para vocês o que não posso fazer. Se tiver amparo legal, eu boto as Forças Armadas lá, a gente resolve esse problema aí”, disse.
O presidente afirmou que, “pelo que parece”, empresas estrangeiras pagam propina para não terem crimes ambientais divulgados, mas não especificou a quais companhias estava se referindo. “O mundo, muitas vezes, (fica) criticando o garimpeiro. Agora, a covardia que fazem com o meio ambiente, empresas de vários países do mundo fazem aqui dentro do Brasil, ninguém toca no assunto porque a propina, pelo que parece, pelo que parece, corre solta, pelo que parece”, disse.
Bolsonaro também disse que a mineradora Vale cometeu um “crime” na década de 1990, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. “Esse é um país que é roubado há 500 anos. A gente conhece o potencial mineral do Brasil. Eu sei como a Vale do Rio Doce abocanhou, no governo FHC, o direito mineral no Brasil. O crime que aconteceu”, afirmou.
O que é grafeno
Um material com espessura atômica, feito totalmente de carbono, mais forte que o diamante, mais resistente que o aço, um potente condutor de eletricidade e calor tem chamado a atenção de alguns países nos últimos anos. O grafeno, material derivado do grafite, possibilita a criação de uma nova cadeia industrial e, por isso, ganhou valor na agenda de governantes. Jair Bolsonaro é considerado um entusiasta do material.
Mas apesar do interesse presidencial e de o Brasil, de acordo com o Ministério de Minas e Energia, estar em segundo lugar no ranking mundial de reservas de grafite — mineração ocorre no país desde 1939 — a exploração e uso do material esbarra no corte das bolsas de incentivo à pesquisa, que atingem pesquisas do grafeno. Na Universidade de Brasília (UnB), quatro bolsas da Capes foram cortadas no mês passado. A informação é do coordenador do programa de pós-graduação e professor do Instituto de Química da universidade, Leonardo Paterno. Segundo ele, uma das bolsas pertence a um aluno que estuda as aplicações biomédicas do grafeno para tratamento do câncer.
Leonardo Paterno acredita que o corte afeta diretamente o avanço das pesquisas do material e, com isso, o futuro da cadeia industrial do grafeno no Brasil.
Além disso, o fomento da pesquisa em si depende desse investimento. “A pesquisa em grafeno é barata comparado às outras, mas, ainda assim, eu preciso de dinheiro para comprar equipamentos e insumos”, afirma Leonardo.
Especialistas afirmam que a grande quantidade do minério encontrado no país não o faz sair na frente na produção de grafeno. “O grafite é comum no mundo inteiro, não é uma particularidade do Brasil. É um material democrático. A pasta de Minas e Energia afirma que no Brasil “ainda não foi alcançada solução tecnológica para produção em larga escala.
Segundo pesquisadores, o momento é crucial já que outros países têm investido na área. “O investimento na China e Europa tem sido grande, então, significa que os frutos virão em breve.
O grafeno pode ter muitas aplicações. Vai desde reforçar outros materiais, como concretos, tintas, revestimentos, até aplicações mais tecnológicas na indústria eletrônica, como telas de celulares e painéis solares.
Antes mesmo de assumir o mandato como chefe do Executivo, Bolsonaro já demonstrava interesse no material. Em discursos no plenário da Câmara dos Deputados ou nas redes sociais, Bolsonaro já falou sobre a exploração do grafeno como possível fonte de investimento no país. “A produção de uma bateria de grafeno, que poderá ser recarregada em poucos segundos. Imaginemos a revolução na indústria automobilística com esta bateria para os carros movidos a energia elétrica”, afirmou Bolsonaro quando ainda era deputado.
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