Brasil
Inaugurada a primeira ligação por cabo submarino entre a Europa e a América do Sul
O cabo de fibra óptica de alta velocidade EllaLink, de 6 mil quilômetros, tem impacto estratégico e econômico nos dois lados do Atlântico.
A primeira ligação de dados em alta velocidade por cabo submarino entre a Europa e a América do Sul foi inaugurada nesta terça-feira, em cerimônia ocorrida em Sines (Portugal) na qual autoridades europeias sequer citaram o nome do Brasil, que ancora o cabo em Fortaleza, no Ceará.
A ideia inicial na Europa era de realizar uma cerimônia com líderes dos dois lados, para ilustrar a importância do acontecimento. Mas, no meio da pandemia de covid-19, autoridades europeias aproveitaram para “rebaixar” o ocorrido para nível ministerial.
A percepção nos meios europeus é de que dirigentes do velho continente em geral não querem aparecer sequer em foto ao lado do presidente Jair Bolsonaro. Isso tem a ver com posições de Bolsonaro em matéria de meio ambiente, gestão da crise sanitária, agenda de valores (direitos humanos, proteção dos povos indígenas etc).
No evento desta terça-feira, numa primeira parte da cerimônia o ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, destacou que o cabo submarino vai abrir oportunidades nos negócios entre Europa, Brasil e América do Sul em geral, e transmitiu “abraço e apreço” de Bolsonaro ao primeiro-ministro português Antonio Costa e a outros participantes presentes.
A segunda parte da cerimônia, com a mesma plateia, foi para falar de “Declaração de Lisboa” pelo qual os países europeus se comprometem com uma transformação digital.
Ursula von der Leyer, presidente da Comissão Europeia, o braço executivo da EU, realizou então a proeza, em vídeo pré-gravado, de falar do cabo submarino, mencionar até Vasco da Gama (1460-1524), citar cooperação digital com a Índia, e não pronunciar uma só vez o nome do Brasil.
“O cabo EllaLink simboliza nossa renovada parceria com a América Latina, vai impulsionar os negócios e a partilha científica e cultural” entre os dois continentes, disse ela. “Acima de tudo, vai garantir a segurança, a resiliência e estabilidade da internet global da qual as nossas economias e sociedades dependem. O que hoje mantém as economias europeias em funcionamento são não apenas as rotas comerciais, mas também os fluxos de dados”, que requerem “infraestruturas estáveis, seguras e rápidas”.
Em seguida, o primeiro-ministro português, Antonio Costa, na presidência rotativa da União Europeia, falou 10 minutos. Ele chegou a mencionar a “comunidade científica brasileira”, mas não pronunciou o nome do Brasil e, mesmo sabendo que o evento tratava de caminho para o Brasil, também preferiu saltar diretamente para cooperação digital com a Índia.
Em seguida, Costa e o ministro Pontes se juntaram ao CEO de EllaLink, Philippe Dumont, para apertar o botão colocando oficialmente em operação o cabo submarino.
Para certos observadores, a situação foi “espantosa”. Consideram que a União Europeia passou dos limites e cometeu uma desconsideração com o Brasil, até porque “o Brasil não é Bolsonaro”. Já havia uma decepção em círculos de Brasília com reações europeias, por exemplo na ausência de solidariedade ao Brasil sobre covid, comparado ao tratamento dado à Índia.
No fim da tarde, horário local, a UE mencionou em seu site que o cabo EllaLink é um projeto cofundado por ela através do programa Bella (rede acadêmica europeia e latino-americana). Diz ser o maior investidor no Bella com 26,5 milhões de euros e reconhece que o Brasil forneceu uma parte adicional dos recursos.
As informações são do Valor Econômico.
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