Brasil
Governo federal prepara plano para recuperar áreas dominadas pelo tráfico e a milícia
Projeto-piloto para tentar neutralizar as organizações criminosas começará por uma cidade do Nordeste.
O governo federal prepara um plano de “retomada territorial” de áreas controladas pelas milícias e pelo narcotráfico. Com base num mapeamento de regiões sob domínio do crime organizado, o plano prevê que forças de segurança federais e estaduais atuem de forma integrada para restabelecer a ordem e a presença do Estado. O secretário Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Mário Sarrubbo, afirma que um grupo com a participação de especialistas do governo, da Universidade de São Paulo e de organizações sociais já está trabalhando no projeto.
“Nós aqui do ministério estamos com um plano de retomada territorial lastreado na ciência, um plano baseado num estudo técnico sobre o ciclo econômico do crime naquela região, e também sobre os líderes desse ciclo econômico”, disse Sarrubbo a VEJA. “E, mais do que isso, um estudo técnico também sobre como substituir esse ciclo econômico assim que for feita a operação policial no local, com a prisão dos responsáveis”.
O desafio oficial é, depois de retomar a área controlada pelo crime organizado, garantir a presença de fato do Estado, com segurança e ações sociais, por exemplo. “Esse processo demanda induzir um novo ciclo econômico, agora legítimo. Então, passa por centros de convivência para os jovens, para que eles possam se capacitar, trabalhar, ter renda própria. Passa por centros de cidadania, para que as pessoas possam tirar seus documentos, fazer o seu empreendedorismo”, afirmou Sarrubbo.
Projeto-piloto será no Nordeste
O secretário disse que o plano de retomada territorial vai começar pelo Nordeste, mas não revelou em qual município ou que será feito. “Já estamos conversando com o estado em questão e estudando a economia do crime numa determinada região”, contou Sarrubbo. “A partir daí, vamos avançar para grandes estados e estabelecer um padrão de retomada territorial no Brasil”.
O governo federal já tentou, em gestões anteriores, retomar áreas controladas pelo crime organizado. No Rio de Janeiro, por exemplo, até conseguiu em algumas localidades, mas logo a milícia e o narcotráfico, aproveitando-se do vácuo deixado pelo poder público, reassumiram sua posições, controlando do comércio de drogas à venda de botijão de gás. Numa tentativa de impedir que o enredo se repita, estão sendo estudadas experiências de sucesso em outros países. Sarrubbo citou, por exemplo, o caso da Colômbia.
O Ministério da Justiça também está reavaliando o trabalho feito pelo governo do Rio com a instalação das unidades de polícia pacificadora, as UPPs. Especialistas dizem que inicialmente as UPPs conseguiram afastar criminosos, mas perderam força diante da falta de ações complementares nas comunidades. O Brasil já tem mais de 70 organizações criminosas, e as estimativas do governo e de organizações da sociedade civil são de que mais de 20 milhões de pessoas vivam em áreas dominadas ou com atuação de facções criminosas e grupos milicianos.
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