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‘É uma forma de perseguição’, diz líder garimpeira sobre ação do governo federal

Agentes do Ibama, da Funai e da Força Nacional de Segurança Pública deram início a uma série de ações de fiscalização no território Yanomâmi.

Presidente da Associação de Garimpeiros Independentes de Roraima, Carine Farias. (Foto: Reprodução)

A presidente da Associação de Garimpeiros Independentes de Roraima (Agirr), Carine Farias, 34, acredita que os garimpeiros do estado estão sofrendo uma perseguição por parte do governo federal. A atividade em área indígena é ilegal. A entrevista foi dada ao site UOL.

“Estamos vendo essa crise como uma forma de perseguição. Estar em área ilegal não torna a nossa profissão criminosa. Se nos derem uma área legalizada, a profissão é a mesma, porém com dignidade”, disse Carine Farias.

Nesta semana, agentes do Ibama, da Funai e da Força Nacional de Segurança Pública deram início a uma série de ações de fiscalização para proteger indígenas e combater o garimpo ilegal no território yanomami. Na operação, foram destruídos um helicóptero, um avião, um trator de esteira e estruturas de apoio logístico ao garimpo. Foram apreendidas duas armas e três barcos com cerca de 5 mil litros de combustível.

Filha de mãe garimpeira e pai músico, Carine diz começou na atividade na adolescência, mas nos últimos anos deixou o garimpo para atuar na associação. Nos últimos dias, se dedica a organizar a saída dos grupos que estão na Terra Indígena Yanomami, sem violência.

Segundo ela, homens e mulheres que trabalham no garimpo se tornaram alvo de ataques. “Há abuso de poder, extorsão, violência e agressão física. Deixamos de ser humanos”, alega. Carine preside uma associação que, segundo ela, representa garimpeiros “independentes e artesanais”. Segundo ela, o que o grupo quer é um prazo maior para deixar a terra indígena.

“Eles querem o direito de sair espontaneamente. Não deveria ter repressão da polícia. Se as pessoas estão saindo não haveria por que ter violência.” Carina ressalta que os garimpeiros estão “voltando para casa”. “Eles têm que ir para casa, suas famílias estão esperando por eles. O que está sendo impedido é o direito de ir e vir dessas pessoas. Essas cidades vão encher. A crise ainda está no começo.”

As chamadas varações —saídas de garimpeiros à pé pela floresta, da área de trabalho até um município— ocorrem segundo ela por sete, nove ou até 30 dias. “São varações de 20 pessoas, homens e mulheres, que saem em grupo para não serem atacados e roubados em emboscadas indígenas. Estão roubando roupas, relógios e ouro”, diz. Segundo Carine, há relatos de grupos que andaram por até três dias seguidos até uma pista de pouso, para tentar um voo.

A líder garimpeira alega que a categoria “é fundadora do estado”. A reivindicação da associação é que tanto o governo federal quanto o governo do Estado permitam o acesso de garimpeiros a cidades do interior. “Nós sustentamos esse estado há mais de 50 anos. Queremos que eles deixem a gente voltar para casa, que não tirem a vida dos garimpeiros”, afirma. “O verdadeiro genocídio está acontecendo agora. Que parem de ficar humilhando e distorcendo as versões. Os garimpeiros são pessoas analfabetas, humildes.”

Para Carine, “garimpeiros” são todos aqueles que trabalham na extração do ouro, não apenas os que operam o maquinário. “Toda pessoa que vai para o garimpo, que cozinha, que vende, é garimpeiro”, afirma. Ela ressalta ainda que há discriminação contra mulheres que trabalham no garimpo. “Todo mundo acha que mulheres no garimpo são profissionais do sexo e não são.”

A líder garimpeira afirma que tenta negociar com agentes do governo para que a saída dos garimpeiros nos próximos dias não ocorra com violência. A operação do governo federal deve, segundo ela, dar início a uma nova crise. “O Estado vai à falência com 20 mil garimpeiros sem um meio para ganhar a renda.” Tem casos de garimpeiros que moram há sete anos dentro dos garimpos. Há um medo de sair e acabar morrendo, medo dos assaltos, roubo, medo da polícia nas estradas. Não podemos ficar na terra yanomami nem voltar para casa.”

Ainda de acordo com Carine, os garimpeiros não vão conseguir abandonar o território indígena imediatamente. “A gente quer um prazo maior.”

Para ela, o garimpo deveria ser legalizado. “Deveriam ter áreas demarcadas, defendo o direito de sermos tratados como trabalhadores. Há uma narrativa de que todo garimpeiro é ilegal em terra yanomami, então deveria ter realocação dessas pessoas.” O garimpo ilegal cresceu 54% na Terra Indígena Yanomami no último ano do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O aumento, segundo pesquisadores, tem relação com a consolidação e a abertura de novas áreas na gestão passada.

A reportagem entrou em contato com a Polícia Militar de Roraima e com o Ibama —que coordena as operações junto da Funai e da Força Nacional de Segurança Pública—, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

Ao UOL, ontem, o ministro da Justiça, Flávio Dino, disse que a prioridade é a retirada dos invasores e pessoas envolvidas no trabalho ilegal neste território —pelos cálculos oficiais, cerca de 15 mil. Ele afirmou que os financiadores e os beneficiários do garimpo são os principais alvos das autoridades.

“Quando a gente olha apenas para quem estava lá —claro, em situação irregular, ilegal, enfim, inclusive com a possibilidade de configuração de crimes ambientais —, nós podemos perder o foco do principal. E o principal é exatamente aquilo que a gente não está vendo, mas que está sendo investigado.”

O governador de Roraima, Antonio Denarium, tem mantido contato com o governo federal. Em entrevista, ele ressaltou que a atividade de garimpo no estado é “centenária” e é preciso encontrar alternativas de renda aos envolvidos nessa atividade. “É um desafio para o governo do estado colocar essas pessoas no mercado de trabalho.”


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