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Desmatamento na Amazônia reduz ‘rios voadores’, que garantem chuva em outras regiões do país, aponta estudo

De cada cem árvores derrubadas, outras 22 morrem por falta da água desses corredores de umidade, aponta pesquisa.

De cada cem árvores derrubadas na Amazônia, outras 22 morrem por falta de água que deixa de ser transportada pelos chamados “rios voadores” — correntes de umidade levadas pelo ar. A conclusão é de um estudo da PUC-Rio, que abre possibilidade de mais descobertas sobre os impactos da oferta de água e o ciclo de chuvas no país. As informações são do jornal O Globo.

Na natureza, o ciclo da chuva normalmente começa no oceano: a água evapora, e a umidade é carregada até o continente. Depois da chuva, a água fica no subsolo ou nos rios e retorna para o oceano. Mas, na Amazônia, as próprias árvores absorvem a água e, ao transpirarem, devolvem a umidade para a atmosfera

É esse fenômeno que forma os rios voadores. Cerca de metade da chuva na Amazônia é reciclada na própria floresta, antes de retornar ao oceano. Os rios voadores garantem o aumento de chuvas no Centro-Oeste e Sul, permitindo a manutenção de rios e a irrigação de campos e plantações. Mas, com menos árvores, há menos chuvas e menos recursos hídricos.

— Se tiver floresta, há um processo de reciclagem dos rios voadores. Mas se o corredor de umidade encontra uma área desmatada, ele vai perdendo força ao longo do caminho — explica Juliano Assunção, diretor-executivo do Climate Policy Initiative, organização que estuda políticas públicas relacionadas ao combate às mudanças do clima, e professor da PUC-Rio.

O grupo de pesquisadores agora irá usar o cálculo feito na Amazônia em outras aplicações, como na trajetória de ventos e as consequências em outros biomas do país.

— Uma das aplicações será identificar as áreas mais prioritárias para proteção, com vistas à integridade da Amazônia — adianta Assunção.

Outra análise do estudo foi simular cenários em que poderia acontecer o chamado ponto de não retorno: um nível de desmatamento que impediria a regeneração da Amazônia. Hoje, 20% do bioma já foi perdido. De acordo com o estudo, se essa taxa chegar a 40%, o resultado, na prática, seria a perda de 60% da densidade vegetal, e nesse momento a Amazônia entraria em colapso.

— O dobro do desmatamento geraria esse acréscimo de degradação só pelo mecanismo que calculamos — explica Assunção.

O tamanho do efeito dominó já presente é tão relevante que, mesmo se o desmatamento na Amazônia terminasse hoje, ainda aconteceria a degradação de 13% do bioma nos próximos 30 anos, por causa do impacto sobre o ciclo de chuvas.

Isso reforça a ideia de que, no atual contexto da Amazônia, não é mais suficiente apenas encerrar o desmatamento — uma meta prevista pelo governo federal até 2030 —, mas também acelerar trabalhos de reflorestamentos.

— Se queremos proteger a floresta, é preciso restaurá-la para evitar a degradação. Uma agenda de restauro florestal gera não apenas ganho de carbono, mas aumenta a integridade da floresta, mesmo em áreas mais críticas — afirma Juliano Assunção.


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