Brasil
Depoimentos de aliados mostram que Bolsonaro sabia que não houve fraude na eleição de 2022
Aliados de ex-presidente apontaram que mesmo sabendo que não houve fraude, ele manteve a narrativa contra o sistema eleitoral brasileiro, para mobilizar seus apoiadores, que acreditaram na mentira.

Ex-presidente Bolsonaro e o ajudante de ordens, Mauro Cid. (Foto:Reprodução)
Os principais depoimentos citados na denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Jair Bolsonaro (PL) e mais 33 pela tentativa de golpe de Estado, mostram que o ex-presidente da República tinha consciência de que não houve fraude na eleição de 2022 e, mesmo assim, manteve a narrativa contra o sistema eleitoral brasileiro, para mobilizar seus apoiadores, que acreditaram na mentira.
A denúncia cita o depoimento do brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, Comandante da Aeronáutica à época dos fatos. Ele confirmou que a equipe da Comissão de Fiscalização do Ministério da Defesa, desde antes do primeiro turno das eleições, passando pelo 1º turno de votação, não identificou qualquer irregularidade ou fraude no sistema eletrônico de votação.
E disse que houve ordem do então presidente Jair Bolsonaro para que não fosse divulgada a conclusão do Relatório de Fiscalização. Indagado se o então presidente era informado dos dados levantados pela Aeronáutica (ou Ministério da Defesa) a respeito da fiscalização das eleições 2022 respondeu que sim; “que o então Presidente da República tinha ciência de que a Comissão de Fiscalização não identificou qualquer fraude nas eleições de 2022, tanto no primeiro, quanto no segundo turno”.
A denúncia do MPF diz que “encerrado o primeiro turno de votação, as autoridades das Forças Armadas e o Presidente da República sabiam que, não obstante todo o empenho em descobrir alguma falha no sistema de urnas digitais, nada fora encontrado. E que relatório de fiscalização das urnas do próprio Ministério da Defesa o assegurava.
Segundo o MPF, as eleições haviam sido irrepreensíveis, do ponto de vista da sua realização técnica. “Apesar disso, a acusação de fraude persistia. Esta era a forma de manter a militância do Presidente da República animada, pedindo intervenção militar, em famigerados acampamentos montados em frente a quartéis do Exército em várias capitais do país.”
O que se pedia – diz a denúncia – nada mais era do que um golpe militar, que propiciasse que os resultados das urnas fossem elididos por meio de insubmissão às regras democráticas de transição de poder.
Diz o MPF que “a busca de pretexto para desprezar a vontade popular expressa nas urnas se intensificou, mesmo diante do relatório do ministério militar que apontara nada haver deslustrado a lisura do certame”. E que “foram geradas narrativas maliciosas, embasadas em deturpação de dados ou em abertas inverdades”, com ” o intuito era o de manter a militância apaixonada e disposta a aceitar soluções de violência à ordem constitucional”.
A denúncia diz que “ouvido pela Polícia Federal em 26.8.20216 , o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública da gestão de Bolsonaro, Anderson Gustavo Torres, confirmou a participação em uma live realizada pelo ex-presidente e admitiu, então, que mentira na transmissão, reconhecendo que “não foi possível depreender do material que teve acesso a existência de fraude ou manipulação de voto”.
Segundo o MPF, “a crença na fraude na eleição de Lula de Silva era crucial para que se obtivesse adesão e entusiasmo popular à causa do solapamento das instituições democráticas, dessa forma também predispondo mais militares – sobretudo os mais graduados – para a insurreição”.
A denúncia também mostra que, em diálogo mantido no dia 4.10.2022, dois dias após o primeiro turno das eleições, o coronel do Exército Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros enviou mensagem a Mauro Cide, afirmando: “espero, sinceramente, que vocês saibam o que estão fazendo”, ao que Mauro Cid respondeu: “Eu tb…Senão estou preso”. No mesmo dia, Cavaliere perguntou: “conseguiram plotar?”, referindo-se à identificação de uma possível fraude nas eleições.
Em resposta, Cid afirmou: “Nada…Nenhum indício de fraude”.
O MPF cita também que logo após o segundo turno, em 1º.11.2022, Mauro Cid recebeu mensagens do coronel do Exército Bernardo Romão Correa Neto , então assistente do Comandante Militar do Sul e integrante do grupo de WhatsApp denominado “…Dossss!!!!!”50 , administrado por Cid e composto apenas por oficiais, da ativa ou da reserva, com formação no Curso de Ações e Comandos do Exército Brasileiro.
Bernardo escreveu para Cid “Quando puder falar me dê um toque. Alguma evolução que nos deixe otimista?”. Mauro Cid, reiterando a ciência de que não houvera fraude no processo eleitoral, respondeu que “Até agora… nada. Nenhuma bala de prata”
A denúncia também mostra que Mauro Cid também demonstrou que, no dia das eleições, fora realizado, em algumas cidades, testes de integridade por eles sugeridos, mas “não foi pego nada”.
Ouvido em sede de colaboração premiada, segundo o MPF, Mauro Cid confirmou a ligação do major Denicoli com o “argentino”, em referência à Fernando Cerimedo. Segundo Cid, Denicoli integrava um grupo de pessoas empenhadas em encontrar fraudes nas urnas eletrônicas. “O colaborador (Cid) reconheceu que nada de concreto foi encontrado pelo grupo, ao afirmar “que o grupo tentava encontrar algum elemento concreto de fraude, mas a maioria era explicada por questões estatísticas; (…) que o grupo não identificou nenhuma fraude nas urnas; (…) que esse grupo tinha ligação com o Argentino”.
O MPF então constatou que “além de contribuírem para a produção do material que sabiam ser inverídico, os denunciados garantiram a sua ampla divulgação, valendo-se de mecanismos para driblar as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, que já havia determinado a exclusão de conteúdos similares”.
E que “os dados extraídos do aparelho celular de Mauro Cid, revelaram que os denunciados editaram o material fraudulento apresentado por Fernando Cerimedo, bem como produziram tantos outros a partir dele, a fim de diversificar o acesso ao conteúdo falso e propagá-lo indiscriminadamente”.
Veja a íntegra da denúncia.
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